RESUMO DA MATÉRIA
- Dados da Universidade da Califórnia-Riverside, mostram que nanopartículas magnéticas de curcumina em hidrogel de ácido hialurônico aumentaram um potente fator angiogênico em tecidos saudáveis. Em paradoxo, a curcumina suprimiu o crescimento celular no tecido tumoral
- Os cientistas conseguiram direcionar o movimento das nanopartículas utilizando um ímã, sugerindo assim, que o método pode ser utilizado como um sistema de entrega para curar o tecido ferido
- A curcumina mostra benefício no controle da dor, após a cirurgia e na facilitação da recuperação. Possui um efeito terapêutico na dor da queimadura e desempenha um papel no tratamento da dor patológica
- A especiaria possui efeitos neuroprotetores no olho e no cérebro, com a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, impactando diversas condições como doença de Alzheimer, doença de Parkinson, acidente vascular cerebral, autismo, depressão e esclerose múltipla
- A curcumina possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. A inflamação pode ser reduzida através de mudanças no estilo de vida, como: otimizar os níveis de vitamina D e ômega-3, realizar uma dieta cetogênica cíclica, reduzir a exposição a EMF e consumir alimentos fermentados
Por Dr. Mercola
Uma pesquisa publicada pela Universidade da Califórnia-Riverside, descobriu que a curcumina, um composto encontrado na cúrcuma, promove o crescimento do tecido vascular. Essa descoberta é significativa, pois pode ser em algum momento utilizada para ajudar a regenerar tecidos lesionados ou curar feridas crônicas.
Curcumina é um pigmento polifenólico da raiz da cúrcuma, muito utiliza há séculos em preparações medicinais, culinária e corante alimentar. A cúrcuma é da família do gengibre e nativa do sudeste da Ásia. Era muito utilizado na medicina Aiurvédica e na Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
A cúrcuma é conhecida por ter um efeito no manejo de inflamações e condições oxidativas como: artrite, hiperlipidemia, síndrome metabólica e ansiedade. Porém, a curcumina por si só é pouco absorvida e de maneira rápida ela é metabolizada, sendo por fim eliminada. A biodisponibilidade pode ser melhorada em 2.000% quando consumida com piperina, sendo o principal componente da pimenta preta.
Existem também evidências crescentes de que a curcumina pode modular diversos alvos moleculares diferentes, que podem ter atividades anticancerígenas e neuroprotetoras. É importante ter cuidado ao utilizar suplementos orais com outros medicamentos, pois eles podem afetar a toxicidade de uma ampla gama de medicamentos quando tomados juntos.
Curcumina: Supressão e Geração da Angiogênese Endotelial
Como pesquisadores da Universidade da Califórnia observaram em um comunicado à imprensa, a curcumina demonstrou a capacidade de suprimir o crescimento celular em tumores malignos. Isso foi encontrado em diversos tipos de câncer, como: de pulmão de pequenas células, câncer de mama, de pâncreas e ovário.
Um estudo analisou a solubilidade e a estabilidade da curcumina em água e teorizou que ela poderia ser aprimorada utilizando formulações seletivas baseadas em nanotecnologia. A pesquisa atual foi construída em hidrogéis de ácido hialurônico, que pesquisas anteriores mostraram ser muito estáveis, mesmo após serem injetados através de uma agulha clínica fina ou submetidos à esterilização.
Além disso, eles mostraram boa biocompatibilidade em testes de laboratório. Outros pesquisadores caracterizaram o ácido hialurônico (HA) como:
“… uma das macromoléculas mais versáteis e fascinantes da natureza. Sendo um componente essencial da matriz extracelular natural (ECM), o HA desempenha um papel importante em uma variedade de processos biológicos.”
Nesse estudo, os pesquisadores sintetizaram nanopartículas magnéticas de curcumina que foram então dispersas em um hidrogel de ácido hialurônico. De início, os pesquisadores testaram a curcumina em hidrogel contra culturas de células-tronco e descobriram que ela promovia o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e o crescimento do tecido vascular.
Esse é um achado interessante, visto que o VEGF é um potente fator angiogênico que é suprarregulado em tumores, contribuindo para o crescimento tumoral. No entanto, como já foi demonstrado no passado, a curcumina possui o efeito oposto em tumores malignos, onde inibe a angiogênese.
As propriedades magnéticas das nanopartículas de curcumina no estudo em destaque, permitiram ao cientista direcionar o movimento das nanopartículas para o local desejado depois de colocar o hidrogel de curcumina em um tubo atrás de tecido fresco de porco, que age de forma semelhante ao tecido humano. Os pesquisadores então utilizaram um ímã para direcionar o movimento, sugerindo assim que o método pode ser utilizado como um sistema de entrega para ajudar a curar o tecido lesionado.
Um dos pesquisadores comentou a respeito do potencial desse sistema de entrega, dizendo: "Nosso estudo mostra que a curcumina liberada de hidrogéis magnéticos promove as células a secretar VEGF, que é um dos fatores de crescimento mais críticos para melhorar a formação de novos vasos sanguíneos." Os pesquisadores concluíram:
“O grupo HyA_CMNP (nanopartícula magnética de curcumina de hidrogel de ácido hialurônico) também apresentou a maior secreção do fator de crescimento endotelial vascular com a liberação de curcumina in vitro. No geral, nossos hidrogéis magnéticos integraram as propriedades desejáveis de citocompatibilidade e angiogênese com orientação magnética, provando ser promissores para melhorar a regeneração tecidual.”
A curcumina mostra benefícios após a cirurgia para o controle da dor
A curcumina também foi estudada no controle da dor, inclusive após a cirurgia. Um estudo analisou os resultados relatados pelos pacientes, após a colecistectomia laparoscópica quando os pacientes receberam curcumina ou placebo e um analgésico de resgate na alta.
Apesar dos problemas com a biodisponibilidade, os pacientes que ingeriram a curcumina demonstraram melhores pontuações médias de dor durante as semanas 1 e 2 após a cirurgia e melhores pontuações de fadiga nas primeiras 3 semanas. Após a cirurgia, até 30% dos pacientes podem continuar a sentir dor aguda persistente, apesar dos avanços na anestesia regional e no controle da dor.
Um modelo animal demonstrou que o uso de curcumina pode reduzir a percepção da dor na “inflamação induzida por incisão, sensibilização nociceptiva, dor espontânea e anormalidades funcionais da marcha.” Um segundo estudo realizado em animais encontrou resultados semelhantes, incluindo alívio da dor de maneira dose-dependente e que o tratamento com curcumina ajudou na recuperação.
Por outro lado, parece que o tratamento com curcumina no pré-operatório não afetou a dor e a recuperação pós-operatória. A dor da queimadura é outra área em que a curcumina parece ter um efeito terapêutico. No presente momento, os opioides, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), anticonvulsivantes e antidepressivos são a forma comum de medicamentos utilizados para controlar a dor.
Porém, como foi demonstrado nas últimas décadas com uma epidemia crescente de mortes por opioides e listas de efeitos colaterais de antidepressivos e AINEs, esses medicamentos podem ter sérios efeitos colaterais. Evidências sugerem que a curcumina não só pode ajudar no controle da dor, mas também pode melhorar a cicatrização de feridas, sobretudo porque a ênfase é colocada no desenvolvimento de um sistema de entrega que melhora a biodisponibilidade.
O trabalho também demonstrou que a curcumina pode desempenhar um papel eficaz e potencialmente essencial no tratamento da dor patológica. Essas condições de dor podem ser desencadeadas devido a danos nos nervos periféricos ou inflamação e possuem um histórico ruim de alívio com as opções terapêuticas atuais.
A especiaria ajuda a saúde do cérebro e dos olhos
As condições oculares podem ser muito difíceis de lidar, pois podem afetar sua visão e às vezes são dolorosas. A uveíte anterior é uma condição que pode resultar de trauma no olho ou pode estar associada a outras condições de saúde, como tuberculose, artrite reumatoide e infecções virais. Em alguns casos, não há uma causa subjacente óbvia.
Em um estudo, pacientes com uveíte anterior crônica receberam uma dose de 375 miligramas de curcumina 3 vezes ao dia, durante 12 semanas. Houve 32 pacientes que completaram o estudo de 12 semanas, mostrando que a curcumina foi eficaz na redução dos sintomas e recorrências nos três anos seguintes.
Em 2014, um artigo observou que pesquisas anteriores não mostraram nenhuma toxicidade limitante de dose com curcumina quando administrada em até 8 gramas por dia, durante 3 meses. Eles também observaram que a curcumina mostrou efeitos benéficos em outras doenças oculares, como glaucoma, retinopatia diabética, síndrome do olho seco e degeneração macular relacionada à idade.
Os efeitos antioxidantes da curcumina demonstraram um efeito neuroprotetor nos olhos. Esse efeito neuroprotetor também se estende ao cérebro. Um estudo realizado em animais, analisou o efeito que a curcumina pode ter no aprendizado e na memória espacial em camundongos adultos e idosos.
Os pesquisadores descobriram que os animais que receberam curcumina tiveram um desempenho bem melhor do que aqueles que não receberam. Eles acreditam que os resultados mostram que a curcumina ajudou a mitigar o comprometimento cognitivo associado a uma redução na proliferação de células cerebrais e na diferenciação de neuroblastos.
Diversos artigos sugeriram que há evidências crescentes de que a curcumina pode desempenhar um papel na prevenção e tratamento de outras doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e comprometimento da memória sem demência. Outros distúrbios cerebrais que foram afetados de maneira positiva pela administração de curcumina incluem: esclerose múltipla, doença de Huntington, acidente vascular cerebral, autismo e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
A curcumina pode beneficiar vários distúrbios neuropsiquiátricos
Os efeitos neuroprotetores estão relacionados à passagem da barreira hematoencefálica. Isso se tornou cada vez mais importante nos últimos dois anos desde o início da pandemia. Em 2019, 11% dos adultos relataram sintomas de depressão ou ansiedade de janeiro a junho de 2019. Esse número aumentou muito em janeiro de 2021, quando 41,1% dos adultos relataram sintomas.
De acordo com a Associação de Ansiedade e Depressão da América, os transtornos de ansiedade são uma das doenças mentais mais comuns e podem se desenvolver a partir de um conjunto complexo de fatores de risco. Uma meta-análise de seis ensaios clínicos controlados por placebo de curto prazo mostrou que a curcumina "parece ser segura, bem tolerada e eficaz entre pacientes deprimidos" e pode servir como um "novo antidepressivo.”
Além disso, três dos ensaios também relataram efeitos anti-ansiedade significativos. Um segundo estudo em 123 pessoas diagnosticadas com transtorno depressivo maior comparou três grupos de intervenção com curcumina a um grupo placebo. Eles descobriram que aqueles que usavam curcumina experimentaram melhorias.
Os grupos de tratamento receberam 250 mg, 500 mg ou 250 mg de curcumina com 15 mg de açafrão. De forma curiosa, não houve diferença na eficácia entre as doses de 250 mg e 500 mg, e a curcumina foi mais eficaz na depressão atípica.
Outra revisão avaliou o efeito benéfico da curcumina em vários transtornos psiquiátricos. Os pesquisadores escreveram que a influência da curcumina em diversas atividades biológicas pode ser responsável pelos resultados. Além disso, muitas dessas atividades biológicas “são desreguladas em vários distúrbios neuropsiquiátricos.”
Os pesquisadores também sugeriram que a curcumina possui potencial como tratamento no transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno bipolar, psicóticos, obsessivo-compulsivo e autismo. Um dos mecanismos que podem estar por trás desses efeitos biológicos são as propriedades anti-inflamatórias da curcumina.
Efeitos da curcumina na inflamação
A inflamação crônica de baixo grau é uma marca registrada e um fator contribuinte em muitas doenças crônicas e significativas. Os autores de um estudo observaram:
“A elevação dos biomarcadores da inflamação, estavam presentes indivíduos com depressão, e a aplicação de estímulos inflamatórios esteve associada ao desenvolvimento de sintomas de depressão.
Da mesma forma, dados revelam que as citocinas inflamatórias possuem a capacidade de interagir com diversas vias conhecidas por sua atuação no desenvolvimento da depressão, o que inclui o metabolismo da monoamina, a função neuroendócrina, a plasticidade sináptica e os neurocircuitos da regulação do humor.”
Acredito que controlar a inflamação é melhor feito por meio de mudanças no estilo de vida e não acreditar na promessa da Big Pharma de que os medicamentos resolvem todas as suas condições de saúde. O problema com essa abordagem é que a maioria dos medicamentos possui efeitos colaterais, e seu médico prescreverá mais medicamentos para tratar os efeitos colaterais, que por sua vez têm seus próprios efeitos colaterais.
O lado bom é que você não precisa recorrer aos medicamentos para combater uma inflamação. Uma das maneiras mais eficazes de diminuir sua resposta inflamatória é consumir uma dieta cetogênica cíclica. Outra estratégia importante é possuir níveis ótimos de vitamina D e ômega-3. Ainda outro fator crucial é reduzir sua exposição a EMFs, o que você faz mantendo seu celular no modo avião, a menos que o esteja utilizando e nunca o segure contra o ouvido.
As evidências também demonstram que existe uma ligação significativa entre a inflamação intestinal e o cérebro relacionada à disfunção no eixo intestino-cérebro. Esse problema é em grande parte impulsionado por fatores de estilo de vida que influenciam seu microbioma intestinal. Essa é uma das razões pelas quais o açúcar é tão prejudicial à sua saúde mental, porque desencadeia uma cascata de reações químicas que promovem a inflamação crônica.
Você pode tratar sua saúde intestinal “resemeando” seu intestino com bactérias benéficas utilizando probióticos e alimentando essas bactérias benéficas com prebióticos. Se você não consome alimentos fermentados, faz sentido ingerir um suplemento probiótico de alta qualidade, além de obter muita fibra em sua dieta.
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