RESUMO DA MATÉRIA
- Um estudo realizado em animais, mostra que vaping diário com cápsulas com sabor pode aumentar o processo inflamatório, por vários sistemas de órgãos, com as mudanças mais marcantes acontecendo no cérebro, podendo contribuir para mudanças de comportamento e distúrbios de humor
- Os cigarros eletrônicos são anunciados como uma alternativa tradicional ao cigarro, onde muitos acreditam de maneira errônea, que os torna “mais saudáveis” devido ao vapor possuir pouco odor e se dissipar de maneira rápida. É dito que 1 a cada 5 estudantes do ensino médio utiliza cigarros eletrônicos, e especialistas acreditam que os mesmos manterão os jovens viciados por anos
- As pessoas ao redor não estão imunes aos perigos, pois os dados mostram que os dispositivos liberam produtos químicos e metais tóxicos, que parecem absorver tanta cotinina (uma medida da quantidade de nicotina que o organismo absorve) quanto as pessoas expostas à fumaça de cigarro tradicional
Por Dr. Mercola
Pesquisas da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, mostram que o vaping diário pode aumentar o processo inflamatório do seu organismo através de diversos sistemas de órgãos. É curioso que eles também descobriram que a ação na inflamação dependia do sabor do cigarro eletrônico sendo fumado.
Os cigarros eletrônicos não são como os tradicionais. Eles não emitem fumaça ou um odor ofensivo de fumaça, por isso são de certo modo percebidos de maneira errônea como sendo inofensivos à sua saúde. Já se passaram quase 8 anos desde que comecei a alertar a respeito dos efeitos perigosos que o cigarro eletrônico possui na saúde humana. Porém, as empresas de cigarros eletrônicos continuam a anunciar seu produto como uma opção para aqueles que desejam parar de fumar cigarros tradicionais ou como uma “alternativa satisfatória para continuar fumando.”
Fumar cigarros tradicionais danifica quase todos os órgãos do corpo e desencadeia diversas doenças diferentes. Esses incluem muitos tipos de câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, função pulmonar reduzida e doença arterial coronariana. E, à medida que mais pessoas param de fumar cigarros tradicionais, o mercado para eles declina; as empresas de cigarros eletrônicos viram um aumento na popularidade de seus produtos.
No entanto, a mudança para os cigarros eletrônicos não é a alternativa saudável que as empresas de publicidade gostariam que você acreditasse. Pesquisa publicada na Environmental Health Perspectives, demonstrou que as amostras de vapor e aerossol do líquido do cigarro eletrônico podem liberar metais pesados perigosos para a saúde humana. Além disso, esses metais pesados podem influenciar de certo modo a resposta inflamatória no cérebro, coração e cólon.
Cigarros eletrônicos podem aumentar os níveis inflamatórios no cérebro, coração e cólon
Estudos anteriores que analisaram os cigarros eletrônicos, demonstraram que eles causam alterações fisiológicas inflamatórias e cardiopulmonares. No entanto, embora tenha diversos estudos a respeito dos cigarros convencionais, os dados sobre dispositivos de cigarro eletrônico são menos estabelecidos. Diversos estudos mostraram que fumar cigarros eletrônicos (também chamados de vaping) desencadeia alterações nos neurotransmissores.
Segundo a UC San Diego, mais de 12 milhões de adultos fumam cigarros eletrônicos e a maior taxa de uso é encontrada em pessoas de 18 a 24 anos. Em um estudo, os pesquisadores procuraram investigar o impacto que os aerossóis de um JUUL com sabor à base de cápsulas fumadas 3 vezes ao dia durante 3 meses, teriam no cérebro, pulmões, coração e cólon.
A equipe utilizou “a marca de cigarro eletrônico mais proeminente, JUUL, e seus sabores mais populares: menta e manga.” Os pesquisadores utilizaram um modelo animal, expondo camundongos ao aerossol JUUL 3 vezes ao dia durante 3 meses. Eles encontraram as mudanças mais marcantes no cérebro, que eles pensaram:
"… pode contribuir para alterações comportamentais e transtornos de humor. Além disso, o uso de cigarros eletrônicos pode causar inflamação intestinal, que tem sido associada a problemas de saúde sistêmica, e inflamação cardíaca, que leva a doenças cardiovasculares.”
A Dra. Laura Crotty Alexander é professora associada de medicina na UC San Diego School of Medicine e pesquisadora sênior do estudo. Ela disse em um comunicado à imprensa: “Esses cigarros eletrônicos baseados em cápsulas só se tornaram populares nos últimos 5 anos, então não sabemos muito a respeito de seus efeitos a longo prazo na saúde.”
A equipe encontrou mudanças na expressão de genes neuro inflamatórios em uma área do cérebro vital para recompensar o processamento e a motivação. A preocupação é que essas mudanças tenham sido associadas à depressão, ansiedade e comportamento viciante. Isso pode levar os usuários ainda mais ao vício em cigarros eletrônicos. Crotty Alexander expressou a preocupação da equipe e de muitos outros especialistas em saúde quando disse:
“Muitos usuários do JUUL são adolescentes ou jovens adultos cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento, então é muito assustador saber o que pode estar acontecendo em seus cérebros, considerando como isso pode afetar sua saúde mental e comportamento a longo prazo.”
Cigarros eletrônicos aromatizados danificam as células endoteliais
Segundo um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Boston, o líquido utilizado para dar sabor às cápsulas de cigarro eletrônico pode apresentar sinais precoces de doenças cardiovasculares, podendo levar a ataques cardíacos, derrames e até morte. O cientista descobriu que as mudanças nas células endoteliais apareciam quase que de imediato no nível celular.
Um dos fatores cruciais nesse estudo, foi o teste direto que os cientistas utilizaram do efeito que apenas o aromatizante tinha, usando níveis que de certo modo seriam alcançados no corpo. A pesquisadora líder Jessica Fetterman, Ph.D., disse que as medidas avaliadas durante a coleta de dados foram algumas das primeiras mudanças observadas no desenvolvimento de doenças cardíacas.
Os pesquisadores utilizaram células endoteliais, as células que compõem o revestimento dos vasos sanguíneos. Eles reuniram células de 2 grupos de pessoas. Um grupo utilizava de maneira regular cigarros de tabaco tradicionais com sabor de mentol e o outro utilizava cigarros de tabaco sem sabor. Eles compararam essas células com as de não fumantes. As células de ambos os tipos de fumantes conseguiram desempenhar funções fundamentais, da mesma forma que as células de não fumantes.
Isso incluiu a produção de óxido nítrico, que é um gás incolor que o organismo utiliza para dilatar os vasos sanguíneos. Quando as células não fumantes foram expostas ao mentol, a mesma coisa aconteceu. Os pesquisadores utilizaram isso como uma linha de base, contra a qual compararam aditivos aromatizantes que são encontrados em cigarros eletrônicos. Nesse estudo, os pesquisadores testaram 9 aromas químicos, que incluíam hortelã, cravo, baunilha, canela, morango e banana.
Eles expõem as células endoteliais a diferentes níveis dos 9 aromas. Antes da exposição, os produtos químicos foram aquecidos à mesma temperatura que um dispositivo criaria. No nível mais elevado de exposição, os produtos químicos desencadearam a morte celular. Em níveis mais baixos, os pesquisadores descobriram prejudicar a produção de óxido nítrico. Fetterman comentou a respeito da importância do estudo:
"Nosso estudo sugere que os aditivos aromatizantes utilizados em produtos de tabaco, como cigarros eletrônicos, sozinhos, na ausência de outros produtos, ou componentes de combustão, podem provocar danos cardiovasculares. [Isso] pode ter sérias implicações, já que os produtos de tabaco com sabor são os produtos mais utilizados, sobretudo entre os jovens."
Ela adicionou:
"O aumento da inflamação e a perda de óxido nítrico são algumas das primeiras mudanças que provocam doenças cardiovasculares, além de eventos como ataques cardíacos e derrames, por isso são considerados preditores precoces de doenças cardíacas. Nossas descobertas sugerem que esses aditivos aromatizantes podem ter sérias consequências para a saúde."
Cigarros eletrônicos para adolescente continua a ser um desafio
Um artigo no Journal of the American Medical Association, relata que cerca de 1 em cada 5 estudantes do ensino médio utiliza cigarros eletrônicos. Enquanto alguns adultos afirmam utilizar o cigarro eletrônico (vaping) para quebrar seu vício em nicotina, os jovens de certo modo começam com o cigarro eletrônico e passam para os cigarros tradicionais. Especialistas acreditam que o cigarro eletrônico iniciará um vício, que será responsável por manter os jovens viciados por anos.
Vale a observação de que, como os cigarros regulares, os eletrônicos também contêm a substância muito viciante, a nicotina. Como lembrete, conforme o CDC, a nicotina pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro em um adolescente que continua a se desenvolver até por volta dos 20 anos.
O CDC também descobriu que os jovens que utilizam cigarros eletrônicos são mais propensos a passar para os cigarros combustíveis tradicionais à medida que envelhecem. Apesar disso, a Food and Drug Administration aprovou a venda de cigarros eletrônicos, o que a BBC relata ter sido feito depois que eles "decidiram que o benefício para os adultos que tentam parar de fumar supera o risco de os adolescentes ficarem viciados."
Em 2021, a BBC informou que um estudo divulgado pela FDA e pelo CDC estimou que mais de 2 milhões de estudantes utilizaram cigarros eletrônicos naquele ano e 80% deles utilizaram produtos com sabor. A decisão de aprovar cigarros eletrônicos foi apenas para produtos com sabor de tabaco, que o FDA argumentou que poderia “beneficiar fumantes adultos viciados que trocam.”
Segundo dados publicados em março de 2022 pelo FDA, o JUUL não é mais o produto mais vendido no mercado estudantil. Em vez disso, 26,8% fumam Puff Bar seguidos por 10,5% que utilizam Vuse e 6,8% que utilizam JUUL. Segundo os entrevistados, o motivo mais comum para experimentar um cigarro eletrônico foi que um amigo pediu para experimentar um.
Os usuários atuais, citaram o uso de cigarros eletrônicos quando se sentiam ansiosos, estressados ou deprimidos e quase um número semelhante disse que utilizava cigarros eletrônicos "para obter um efeito ou zumbido da nicotina." Fiel ao comportamento viciante, quase metade dos estudantes entrevistados de 15 a 24 anos disseram estarem pensando em parar de fumar no ano novo, conforme uma pesquisa publicada em janeiro de 2022 pela Truth Initiative.
Isso é consistente com pesquisas anteriores da Truth Initiative, que indicavam haver intenções generalizadas de parar, e algumas descobertas mostram que muitos tentaram e falharam. Conforme o artigo do JAMA, os pais podem procurar sinais de que seu filho está fumando, entre eles incluem:
Aumento na sede |
Sangramento nasal |
Incômodo na garganta |
Aumento da irritabilidade |
Oscilações no humor |
Ferimentos na boca |
Dificuldade respiratória |
Tosses aleatórias |
Odores de frutas ou doces |
Pessoas (ao redor) afetadas por toxinas também
Os cigarros eletrônicos não funcionam da mesma forma que os cigarros tradicionais. Em vez da combustão utilizada para aquecer o tabaco, os cigarros eletrônicos utilizam calor gerado por bateria. Isso cria um aerossol contendo nicotina, que o usuário inala. Os usuários obtêm o mesmo efeito da nicotina no cigarro eletrônico que nos cigarros tradicionais, sem os altos níveis de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos associados ao fumo de cigarros tradicionais.
Embora os fabricantes tenham desenvolvido cigarros eletrônicos e canetas vaping em diversos tamanhos e formas, todos eles fornecem a mesma composição de produtos químicos e da mesma maneira. Enquanto o usuário inala a grande parte do vapor e das toxinas aerossolizadas, algumas das partículas aerossolizadas também entram no ambiente. Isso pode afetar as pessoas ao redor.
Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia avaliou a qualidade do ar em escritórios onde os voluntários fumaram cigarros tradicionais e cigarros eletrônicos. Eles utilizaram a análise de amostras de ar e descobriram que fumar cigarros eletrônicos resultou em uma diminuição de 10 vezes no material particulado cancerígeno, mas os níveis de metais tóxicos eram muito maiores do que a fumaça de cigarro comum.
Outro estudo, analisou como os dispositivos de cigarro eletrônico foram construídos e testou se o metal aerossolizado era derivado do fluido ou dos componentes. Eles descobriram que os componentes às vezes estavam faltando ou havia evidências de uso antes que o dispositivo fosse embalado. Eles descobriram que quando queimados, os dispositivos produziam partículas aerossolizadas de estanho, prata, alumínio, níquel, ferro e cromo, muitas das quais são conhecidas por causar problemas respiratórios e doenças.
Os espectadores podem ser embalados em uma falsa sensação de segurança, já que o vapor de certo modo possui pouco ou quase nenhum cheiro e parece se dissipar de maneira rápida. No entanto, dados da Universidade da Califórnia em São Francisco, demonstram que os cigarros eletrônicos poluem o ar devido à nicotina e partículas finas que as pessoas ao redor podem inalar e absorver.
Apesar dos cigarros eletrônicos produzirem níveis mais baixos de poluição por nicotina, os pesquisadores descobriram haver uma discrepância significativa entre a exposição dos espectadores aos cigarros eletrônicos e a fumaça do cigarro tradicional, cuja razão permanece incerta. Eles descobriram que os espectadores expostos à poluição do cigarro eletrônico possuem níveis semelhantes de cotinina, uma medida da quantidade de nicotina que o organismo absorve, como as pessoas expostas à fumaça tradicional do cigarro passivo.
Como deixar o abandono mais fácil
Acredito que o "segredo" para parar de fumar é ficar saudável primeiro, o que tornará o abandono mental e físico mais fácil. O exercício é uma parte importante desse plano, pois pesquisas mostram que as pessoas que se envolvem em treinamento de força regular dobram sua taxa de sucesso em parar de fumar, quando comparadas com aqueles que não se exercitam.
Uma alimentação saudável é outro fator fundamental para melhorar sua saúde e fortalecer sua capacidade de parar de fumar. Resumindo, caso queira parar, aqui estão três dicas básicas para começar:
- Adote um plano de dieta cetogênica cíclica que incorpore o jejum intermitente para melhorar sua flexibilidade metabólica.
- Desenvolva um regime de exercícios completo. Esse é o seu aliado para combater doenças e deixar de fumar. O treinamento de força é uma parte importante, porém lembre-se também de incorporar exercícios intervalados de alta intensidade, exercícios de fortalecimento do núcleo, alongamentos e movimentos regulares sem exercício (como caminhar e reduzir a posição sentada).
- Encontre uma saída emocional saudável. Muitos utilizam técnicas de exercícios, meditação ou relaxamento, e todas são ótimas. Eu também recomendo a incorporação de Técnicas de Libertação Emocional (EFT). Isso pode ajudar a eliminar os bloqueios emocionais do seu sistema (alguns dos quais você pode nem perceber que existem), restaurando assim o equilíbrio da mente e do corpo, além de ajudar a quebrar o vício e evitar os desejos.
Após fazer de maneira regular essas 3 coisas, comece a pensar em parar de fumar. Nesse ponto, muitos estão prontos para tentar parar de "peru frio." E por fim, se você é pai ou mãe, converse com seus filhos sobre os riscos de fumar, tabaco sem fumaça e cigarros eletrônicos. O caminho mais fácil para não fumar é evitar começar em primeiro lugar.
Recursos e Referências
- University of California, April 14, 2022
- JUUL
- Centers for Disease Control and Prevention, Health Effects Of Cigarette Smoking
- ELife Science, April 12, 2022
- ELife Science, April 12, 2022, Abstract, last line
- Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology, 2018;38
- Science Daily, June 14, 2018
- Gizmodo, June 14, 2018, Para 5
- Science Daily, June 14, 2018, para 4
- JAMA Network, 2021;175(4) para 1, 2 under infographic
- Centers for Disease Control and Development, April 7, 2022, top section
- BBC, October 13, 2021
- Food and Drug Administration, March 10, 2022
- Food and Drug Administration, March 10, 2022, Section 2 para 4, 5
- Truth Initiative, January 5, 2022, full para 1, 2
- University of Southern California, August 28, 2014
- PLOS|ONE, 2013; 8(3):e57987
- University of California San Francisco Center for Tobacco Control Research and Education, July 25, 2016
- Nicotine and Tobacco Research, 2011, 13(8), 756