RESUMO DA MATÉRIA
- Alho preto envelhecido (ABG) com mudanças na dieta reduziu a pressão arterial diastólica emparticipantes do sexo masculino que apresentavam hipercolesterolemia a nível moderado
- O alho também é conhecido por apresentar um impacto positivo em doenças cardiovasculares e metabólicas, incluindo aterosclerose, trombose e diabetes. Dois gramas de alho fresco podem aumentar os níveis plasmáticos de óxido nítrico, necessários para a função endotelial normal
- Os compostos organossulfurados do alho contribuem para os benefícios que ele tem na microbiota intestinal, no cérebro e na memória. O alho possui propriedades antivirais e antibacterianas, além de ajudar na redução do risco de alguns tipos de câncer, como o câncer de mama
Por Dr. Mercola
Um estudo descobriu que o alho preto envelhecido (ABG), além de mudanças na dieta, pode reduzir a pressão arterial diastólica em participantes do sexo masculino. Este não é o primeiro estudo a mostrar que o alho tem benefícios para a saúde. O alho é reconhecido há séculos, incluindo referências em tabuletas de argila sumérias que datam de 2600 a.C. No antigo Egito, o alho era dado à classe trabalhadora para apoiar o trabalho pesado e nos primeiros Jogos Olímpicos, os atletas usavam alho para aumentar sua resistência.
O alho também tem sido utilizado na medicina tradicional chinesa para digestão e no tratamento de diarreia e infestações de vermes. Na Índia, o alho era utilizado para promover a cura geral e tratar a fadiga, problemas digestivos, doenças cardíacas e artrite. Pesquisadores que escreveram no Journal of Nutrition, observaram que diversas culturas chegaram à mesma conclusão a respeito da função que o alho desempenha na saúde e nas doenças. Eles passaram a escrever:
“Com o início do Renascimento, foi dada cada vez mais atenção na Europa aos usos medicinais das plantas. Um importante médico do século XVI, Pietro Mattioli de Siena, escreveu a respeito, sendo seu trabalho traduzido para diversos outros idiomas. Ele prescreveu alho para distúrbios digestivos, infestações por vermes e distúrbios renais, além de ajudar as mães durante o parto difícil.
Na Inglaterra, porém, o alho continuou sendo o alimento das classes trabalhadoras, visão que não impediu que os ingleses mais abastados usufruíssem das propriedades terapêuticas do alho, ou seja, era recomendado para constipação, dor de dente, hidropisia, mordidas de animais e praga."
Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, 47% dos adultos dos EUA possuem pressão alta. Isso é definido nos dias atuais, como pressão sistólica maior que 130 miligramas de mercúrio (mmHg) ou pressão diastólica maior que 80 mmHg. Os dados mostram que o consumo de ABG pode ter um impacto em pessoas com pressão alta.
Alho preto envelhecido ajuda a baixar a pressão arterial diastólica
De acordo com os pesquisadores, comer alho envelhecido provou melhorar diferentes fatores de risco para doenças cardiovasculares. A extensão dos benefícios se relaciona ao processo de envelhecimento e aos compostos químicos encontrados no alho.
O objetivo do estudo foi analisar como a ingestão diária de extrato ABG com S-alil-L-cisteína (SAC) padronizada, impactou os fatores de risco cardiovascular em pessoas que apresentavam hipercolesterolemia moderada e seguiam as recomendações dietéticas.
Os pesquisadores envolveram 67 pessoas em um estudo de intervenção duplo-cego, cruzado, sustentado e controlado. Todos os participantes consumiram 250 mg por dia de uma combinação de SAC/AGE ou placebo por 6 semanas. Eles passaram por um período de "washout" de 3 semanas e continuaram pelas próximas 6 semanas com a intervenção oposta.
No final do estudo, os pesquisadores descobriram que certos biomarcadores de risco de doença cardiovascular foram reduzidos nas pessoas que tomaram o extrato ABG. Isso incluiu uma redução na pressão arterial diastólica de 5,85 mmHg em comparação com aqueles que tomaram o placebo, sobretudo em homens com pressão arterial diastólica acima de 75 mmHg.
A pesquisadora Rosa M. Valls, Ph.D., da Universitat Rovira i Virgili, Reus, Espanha, comentou em um artigo no Medscape: "A redução observada na DBP (pressão arterial diastólica) por ABG extrato foi semelhante aos efeitos das abordagens dietéticas, incluindo os efeitos da dieta Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) na PA.”
Os autores observaram que os estudos de pesquisa anteriores não se concentraram no ABG, mas em outros tipos de alho envelhecido e tinham um método ou deficiências de design. Durante o estudo, os pesquisadores constataram que 96,5% do grupo aderiu ao protocolo e não houve relato de eventos adversos. As diferenças na pressão arterial diastólica não foram encontradas em 3 semanas, mas foram estatisticamente significativas em 6 semanas.
Segundo o Medscape, os cientistas escreveram que a elevação da pressão arterial sistólica também influencia os resultados de risco cardiovascular e a pressão arterial sistólica e diastólica influenciam de maneira independente os eventos de doenças cardíacas.
O alho possui benefícios para o coração e o açúcar no sangue
O alho não afeta apenas a pressão arterial, mas também possui um impacto positivo nas doenças cardiovasculares e metabólicas, incluindo: aterosclerose, trombose e diabete. O alho exerce um efeito antimicrobiano e possui fortes propriedades antioxidantes que apoiam a saúde e estimulam a função imunológica. A pesquisa também demonstra que o alho envelhecido é um antioxidante mais potente do que os dentes frescos.
Além disso, o alho em pó demonstrou efeito protetor nas propriedades elásticas da aorta em idosos. A aorta é a maior artéria do corpo, que sai do coração. A rigidez aórtica é muito encontrada no envelhecimento e está associada a um risco aumentado de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e doença cardíaca. No entanto, um estudo descobriu que pacientes idosos que consumiram alho em pó tiveram uma resposta atenuada na rigidez aórtica.
Um segundo estudo mostrou que aqueles que tomaram 2 gramas de alho fresco aumentaram as concentrações plasmáticas de óxido nítrico (NO). Esse é um gás solúvel que seu organismo produz a partir do aminoácido L-arginina. Embora seja um radical livre, também é uma importante molécula de sinalização biológica necessária para a função endotelial normal e para proteger suas mitocôndrias.
O NO também é um potente vasodilatador que promove o fluxo sanguíneo saudável para a oxigenação eficiente de seus tecidos e órgãos e ajuda na remoção de resíduos e dióxido de carbono. Além disso, melhora a neuroplasticidade cerebral, melhorando a oxigenação no complexo somatomotor, uma área do cérebro muito afetada nos estágios iniciais da demência.
Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, mais de 37 milhões de pessoas que vivem nos EUA apresentam diabetes. A diabetes tipo 2 tende a se desenvolver com maior frequência em pessoas com mais de 45 anos e pode apresentar poucos sintomas. Um desses sintomas é o açúcar elevado no sangue.
À medida que suas células são expostas a quantidades mais elevadas de glicose, elas se tornam resistentes à insulina. No entanto, a insulina é necessária para mover a glicose do sangue para as células. Uma maneira de ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue é reter mais insulina na corrente sanguínea. Ainda assim, até 80% é removido na primeira passagem pelo fígado, reduzindo a quantidade de insulina disponível para uso.
A pesquisa descobriu que os compostos do alho impedem esse metabolismo da insulina e, portanto, liberam mais para o seu corpo. Estudos realizados em animais, foram utilizados para avaliar o efeito de um composto de alho, aliina, no açúcar no sangue. Em um estudo, os camundongos receberam água potável com e sem aliina por oito semanas.
Não houve alteração no peso corporal, energia ou depósitos de gordura, porém aqueles que ingeriram água com aliina, demonstraram aumento da sensibilidade à insulina e melhor perfil lipídico. Os pesquisadores acreditam que isso também pode ser atribuído à capacidade do composto de modular a microbiota intestinal.
Compostos organossulfurados contribuem para a eficiência do alho
Os organossulfetos são fitoquímicos encontrados no alho e na cebola. Estudos epidemiológicos descobriram que esses compostos possuem efeito anticancerígeno em modelo experimental. Esses são uma subclasse de enxofre, encontrada em todo o ambiente e um componente necessário de enzimas, proteínas e vitaminas.
O mecanismo exato que os compostos organossulfurados utilizam na proteção das células não é claro. É dito que modulam a atividade para inibir a formação de adutos de DNA, ou segmentos de DNA ligados a substâncias químicas potencialmente cancerígenas. Os compostos organossulfurados também demonstraram atividade contra a proliferação celular em tumores que pode ser mediada pelo início da apoptose.
Os compostos de enxofre também possuem propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas. Eles estão ligados a uma diminuição na síntese de colesterol no fígado, reduzindo o nível de colesterol total. Em um tubo de ensaio, eles inibem a agregação plaquetária, o que potencialmente pode reduzir o risco de eventos trombóticos, incluindo acidente vascular cerebral e embolia pulmonar, e proteger seu sistema cardiovascular.
O alho beneficia o intestino, o cérebro e a memória
Um estudo, apresentado na reunião anual de 2019 da American Physiological Society por pesquisadores da Universidade de Louisville, acrescentou credibilidade ao status do alho como um superalimento com poderosas propriedades medicinais. O estudo envolveu camundongos de 24 meses, equivalendo a 56 e 69 anos em humanos.
Alguns camundongos receberam um sulfeto de alila, o que levou a uma melhor memória de longo e curto prazo e bactérias intestinais mais saudáveis, em comparação com camundongos de controle que não receberam o suplemento. Os camundongos que consumiram o composto de alho também apresentaram maior expressão gênica do fator natriurético derivado de neurônios (NDNF), sendo um gene necessário para a consolidação da memória.
A expressão reduzida de NDNF pode estar ligada ao declínio cognitivo. Um autor do estudo comentou em um comunicado à imprensa: “Nossas descobertas sugerem que a administração dietética de alho contendo sulfeto de alila pode ajudar a manter os microrganismos intestinais saudáveis e melhorar a saúde cognitiva em idosos”.
A ligação entre bactérias intestinais e saúde neurológica não é nova. Os dados mostram que as pessoas com demência possuem uma composição diferente da microbiota intestinal em comparação com aquelas que não apresentam. Pesquisa na revista Protein & Cell explicou que:
“… a microbiota do trato gastrointestinal está diretamente ligada à patogênese da demência através do desencadeamento de doenças metabólicas e do progresso da inflamação de baixo grau. Uma nova estratégia é proposta para o manejo desses distúrbios e como adjuvante para o tratamento psiquiátrico de demência e outras doenças relacionadas por meio da modulação da microbiota (por exemplo, com o uso de probióticos)."
Os dados da pesquisa também apoiam o uso de extrato de alho envelhecido (AGE) para melhorar a memória de reconhecimento de curto prazo e aliviar a neuro inflamação em animais com doença semelhante à doença de Alzheimer. Esse estudo utilizou alho fresco envelhecido para criar o extrato e produzir SAC, encontrado em quantidades muito maiores no alho envelhecido e no alho fermentado preto do que no alho cru. AGE também pode proteger o cérebro de outras maneiras, incluindo:
- Protege contra condições neurodegenerativas
- Prevenir lesão cerebral após isquemia
- Proteger as células neuronais contra a apoptose
- Prevenir a morte oxidativa induzida por β-amiloide
Pesquisadores da revista Nutrients, também explicaram que o tratamento com AGE ou S-alil cisteína “demonstrou prevenir a degeneração do lobo frontal do cérebro, melhorar o aprendizado e a retenção de memória e prolongar a vida útil.” Riqueza e diversidade microbiana intestinal, após apenas 3 meses. Alho fresco também mostrou uma promessa para melhorar a função da memória, incluindo um estudo realizado em animais, onde o alho aumentou a retenção de memória.
O combate infecções e câncer
Como mencionado acima, o alho e a cebola contêm fitoquímicos que demonstraram efeitos anticarcinogênicos. Um estudo de base populacional em Porto Rico foi concebido quando se observou haver uma menor taxa de câncer de mama na ilha em comparação com o continente.
Pesquisadores da Universidade de Buffalo, estavam procurando evidências para associar a ingestão de cebola e alho à prevenção do câncer de mama. Eles encontraram uma relação inversa entre a ingestão e o risco de câncer de pulmão, próstata e estômago que havia sido estabelecido antes.
O pesquisador principal, Gauri Desai, disse em um comunicado à imprensa: "Descobrimos que entre as mulheres porto-riquenhas, a ingestão combinada de cebola e alho, bem como sofrito, estava associada a um risco reduzido de câncer de mama," Sofrito é um molho à base de tomate básico muito utilizado em pratos porto-riquenhos.
Os dados finais, revelaram que “aqueles que consumiram sofrito mais de uma vez por dia tiveram uma diminuição de 67% no risco em comparação com as mulheres que nunca o consumiram”. Desai apontou ser a quantidade total de cebola e alho que as mulheres consumiam responsável pelo efeito protetor e não o sofrito sozinho.
Os dados também mostraram que o alho é um antiviral e antibacteriano natural, e pesquisadores de alimentos sugeriram que os extratos podem ser utilizados na preparação de hambúrgueres para reduzir o crescimento de staphylococcus aureus nos hambúrgueres. Embora possa ser usado como aromatizante, também possui propriedades antibacterianas contra algumas bactérias gram-positivas e gram-negativas.
Propriedades antivirais dos suplementos de alho
O alho também possui um longo histórico de testes contra vírus. Um estudo em 1985, demonstrou que o alho tinha atividade contra influenza B e herpes simplex. Um teste realizado em humanos com 146 participantes, realizado durante a temporada de gripe mostrou que aqueles que utilizavam suplementos de alho eram menos propensos a adoecer e, se adoecessem, se recuperavam de maneira mais rápida. Aqueles que utilizaram placebo foram mais propensos a adoecer mais de uma vez em um período de 12 semanas.
Em uma revisão histórica da literatura, observou-se que o alho é ativo contra vários vírus, incluindo gripe, resfriado comum, HIV, herpes tipos I e II e rinovírus. No início da pandemia de COVID-19, cientistas vietnamitas validaram as propriedades antivirais do alho e mostraram que dois dos compostos organossulfurados mais comuns encontrados no óleo essencial de alho tinham atividade contra o SARS-CoV-2.
Os pesquisadores escreveram que os resultados do estudo de laboratório “sugerem que o óleo essencial de alho é uma valiosa fonte natural de antivírus, que contribui para prevenir a invasão do coronavírus no corpo humano”.
Um estudo turco, publicado mais tarde na pandemia escreveu que o alho influencia a liberação de leptina do tecido adiposo, que ajuda a regular a saciedade e desempenha um papel no aumento das citocinas inflamatórias. Eles concluíram que o alho pode ajudar a “reprimir a produção e secreção de citocinas pró-inflamatórias, bem como um hormônio derivado do tecido adiposo, a leptina, com natureza pró-inflamatória.”
É difícil errar ao consumir alho. Porém, se você não gosta do sabor pungente ou quer aumentar os efeitos na saúde, considere o alho preto, produzido pela fermentação de bulbos inteiros de alho fresco em condições climatizadas. Mesmo os que odeiam alho podem gostar do sabor do ABG. Escrevendo na revista Molecules, os pesquisadores observaram que o ABG é uma preparação de alho “com sabor doce e azedo e sem odor forte.”
Ao escolher o alho fresco, não se esqueça de que os dentes devem ser esmagados ou picados para estimular a liberação de uma enzima, que por sua vez catalisa a formação de alicina. Para ativar as propriedades medicinais, comprima o dente com uma colher ou pique-o finamente antes de engolir.
Os testes mostram que você pode reduzir o odor desagradável do hálito mastigando uma maçã crua, folhas de hortelã ou alface. Agora você pode comer alho à vontade sem se preocupar em ofender os outros.
Recursos e Referências
- Medscape, April 15, 2022
- Nutrients, 2022; 14(3)
- Nutrition Journal, 2002;1:4 Section 3 line 4
- The Journal of Nutrition, 2001;131(3)
- The Journal of Nutrition, 2001;131(3) Renaissance Section
- Centers for Disease Control and Prevention, September 27, 2021
- Food and Nutrition Research, 2017;61(1)
- Frontiers in Microbiology, 2021; doi.org/10.3389/fmicb.2021.613077
- Phytotherapy Research, 2003;17(2)
- Food Science and Biotechnology, 2018;27(1)
- Integrated Blood Pressure Control, 2014;29
- Circulation, 1997;96(8)
- Journal of Interferons and Cytokine Research, 2007;27(5)
- Current Vascular Pharmacology, 2012;10(1)
- Frontiers in Physiology, 2015;6
- Circulation, 1996;93
- Journal of Neuroscience, 2011;31(19)
- Centers for Disease Control and Prevention, Type 2 Diabetes
- Physiology, 2019; doi.org/10.1152/physiol.00048.2018
- Diabetes.co.uk, October 17, 2011
- Scientific Reports, 2018;8: 3527
- Molecular Aspects of Medicine, 2010;31(6):540
- Encyclopedia Britannica, Organosulfur Compounds
- Saudi Pharmaceutical Journal, 2010;18(1):51
- Journal of Pharmacy and Bioallied Sciences, 2015;7(S1):S197
- Oregon State University, Garlic and Organosulfur Compounds
- Lipids,1996;31(12):1269
- Thrombosis Research,2002;108(5-6):317
- Science Daily, April 8, 2019
- Protein Cell. 2017 Feb; 8(2): 90
- Nutrients, 2017;9(1)
- Frontiers in Nutrition, 2018; 5
- Journal of Medicinal Food, 2008;11(4)
- University at Buffalo, September 23, 2019
- Jundishapur Journal of Microbiology, 2014;7(11):e13134
- Plant Medica, 1985:460
- International Journal of Medicine and Medical Science, 2013;5(9):401
- ACS Omega, 2020;5(14):8312
- Medical Hypothesis, 2020;144
- Molecules. 2017 Jun; 22(6): 919
- J Food Sci. 2016 Oct;81(10):C2425-C2430