RESUMO DA MATÉRIA
- A curcumina é o composto da cúrcuma que faz com que o rizoma fique com uma cor amarelo-ouro. A cúrcuma é utilizada na medicina tradicional há 4.000 anos e foram publicados mais de 3.000 artigos sobre ela nos últimos 25 anos
- No estado bruto, a curcumina tem baixa biodisponibilidade; mas novos sistemas de entrega podem aumentar as concentrações séricas. A curcumina possui propriedades neuroprotetoras, mostrando evidências de melhorar a memória, aprendizado, mitigar o comprometimento cognitivo e afetar de maneira positiva aqueles com esclerose múltipla (EM), ELA, Huntington, acidente vascular cerebral e autismo
- As propriedades anti-inflamatórias podem ajudar no controle da dor em pessoas com osteoartrite ou após a cirurgia. A segurança e a não toxicidade da curcumina, mesmo em altas doses, foram documentadas em testes realizados em humanos
- Os pesquisadores também descobriram que a curcumina possui uma propriedade única que promove e suprime a angiogênese, que é importante na cicatrização de feridas e no tratamento do câncer
Por Dr. Mercola
O interesse na curcumina está crescendo à medida que a descoberta de novos sistemas de entrega aumenta a biodisponibilidade do composto. A curcumina é o principal composto polifenólico biologicamente ativo da cúrcuma. A cúrcuma tem sido utilizada há muito tempo na culinária indiana e no uso medicinal na medicina tradicional chinesa e na medicina ayurvédica. A curcumina é o composto que fornece a cúrcuma sua cor amarela.
Estudos têm sugerido que a curcumina é uma poderosa aliada no tratamento de diversas condições, como transtornos de humor e controle da dor. É importante ressaltar que a curcumina pode atravessar a barreira hematoencefálica e possui propriedades neuroprotetoras potentes, o que sugere que pode ser útil para distúrbios neurodegenerativos. A indústria cosmética e de tecidos também utiliza açafrão e curcumina.
Em sua forma bruta, a curcumina possui uma taxa de absorção muito baixa. Em geral, apenas 1% do produto é absorvido pelo seu organismo. Os pesquisadores investigaram uma variedade de métodos diferentes para melhorar a absorção. Isso incluiu formulações para otimizar a biodisponibilidade e os métodos de entrega.
Aqueles que parecem melhorar a absorção incluem a entrega como nanopartícula, combinação com ácido polilático-co-glicólico, encapsulamento lipossomal e tomado por via oral com piperina, o ingrediente ativo da pimenta preta.
O interesse do consumidor na curcumina aumenta à medida que a bio entrega melhora
Cúrcuma é derivado do rizoma de uma planta da família do gengibre nativa do Sudeste Asiático. A curcumina é utilizada em suplementos e também em produtos cosméticos destinados a reduzir a inflamação, podendo ajudar a acne, eczema e até retardar o aparecimento do envelhecimento da pele. O crescente interesse criou um mercado, que os especialistas acreditam que crescerá para US$ 191,89 milhões (R$ 971,56 milhões) em até 2028.
Isso representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 16,1% de 2021 a 2028. A demanda por produtos também aumentou na indústria alimentícia, que utiliza açafrão para aromatizante e corante natural. As propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias do açafrão e da curcumina são a base de muitas das alegações de saúde e a base para muitos dos estudos de pesquisa que avaliam a capacidade do composto de afetar muitos sistemas corporais.
No entanto, a baixa biodisponibilidade do suplemento dificultou o estudo científico, pois é quase impossível aumentar as concentrações séricas consumindo apenas o suplemento. Novas técnicas de entrega de medicamentos incluíram um sistema de nanopartículas, que os pesquisadores descobriram que “aumenta todos os benefícios biológicos e farmacológicos da curcumina.”
Diversas técnicas de nanoencapsulação foram desenvolvidas para superar os baixos efeitos terapêuticos do composto. Até o momento, muitos deles ainda estão sendo pesquisados para encontrar um candidato terapêutico promissor para uso do consumidor. Outras pesquisas se concentraram em compostos que podem ser administrados de maneira simultânea e que podem aumentar a absorção.
Um estudo descobriu que quando a curcumina foi combinada com piperina, o principal componente ativo da pimenta preta, aumentou a biodisponibilidade da combinação em 2000%. No entanto, estudos também mostraram que a piperina inibe as enzimas utilizadas para metabolizar alguns medicamentos e, assim, aumenta a concentração plasmática, o que pode desencadear efeitos colaterais adversos graves.
A curcumina possui propriedades neuroprotetoras
Plantas naturais têm sido utilizadas para fins medicinais ao longo da história, o açafrão não é uma exceção. Existem evidências de que foi utilizado para uma melhora na saúde, já em 4.000 anos atrás e a medicina moderna viu mais de 3.000 artigos publicados sobre ele nos últimos 25 anos.
Um estudo realizado em animais, analisou o efeito que a curcumina pode ter no aprendizado e na memória espacial em camundongos adultos e idosos. Os pesquisadores descobriram que os animais que receberam curcumina tiveram um desempenho bem melhor do que aqueles que não receberam. Eles acreditam que os resultados mostram que a curcumina ajudou a mitigar o comprometimento cognitivo associado a uma redução na proliferação de células cerebrais e na diferenciação de neuroblastos.
Diversos artigos sugeriram que há evidências crescentes de que a curcumina pode desempenhar um papel na prevenção e tratamento de outras doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e comprometimento da memória sem demência. Outros distúrbios cerebrais que foram afetados de maneira positiva pela administração de curcumina incluem: esclerose múltipla, doença de Huntington, acidente vascular cerebral, autismo e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Os pesquisadores também descobriram que adultos mais velhos que fizeram uso do suplemento por no mínimo 4 semanas mostraram uma melhora significativa na memória de trabalho, fadiga geral e contentamento. Um segundo estudo examinou os efeitos da curcumina em indivíduos que não tinham histórico de demência. Eles acompanharam 40 pessoas com idades entre 50 e 90 anos que apresentavam queixas leves de memória por 18 meses.
Os pesquisadores descobriram que aqueles que tomaram a curcumina tiveram melhorias significativas nas habilidades de memória e atenção, bem como uma leve melhora no humor e bem menos sinais de amiloide e tau na amígdala e no hipotálamo, áreas do cérebro que controlam algumas funções emocionais e de memória. O primeiro autor do estudo, Dr. Gary Small, disse em um comunicado à imprensa:
"Não se sabe ao certo como a curcumina exerce seus efeitos, mas pode ser devido à sua capacidade de reduzir a inflamação do cérebro, que tem sido associada à doença de Alzheimer e à depressão maior."
Uma meta-análise de seis ensaios clínicos controlados por placebo de curto prazo mostrou que a curcumina "parece ser segura, bem tolerada e eficaz entre pacientes deprimidos" e pode servir como um "novo antidepressivo.”
A curcumina também mostrou um efeito em distúrbios neuropsiquiátricos. Segundo a Associação de Ansiedade e Depressão da América, os transtornos de ansiedade são uma das doenças mentais mais comuns e podem se desenvolver a partir de um conjunto complexo de fatores de risco.
Um segundo estudo em 123 pessoas diagnosticadas com transtorno depressivo maior comparou 3 grupos de intervenção com curcumina a um grupo placebo. Eles descobriram que aqueles que utilizavam curcumina experimentaram melhorias sem diferença no resultado usando 3 doses diferentes de curcumina. Além disso, três dos ensaios também relataram efeitos anti-ansiedade significativos.
Outra revisão de literatura avaliou os benefícios da curcumina em vários transtornos psiquiátricos. Os pesquisadores escreveram que a influência da curcumina em diversas atividades biológicas pode ser responsável pelos resultados. Além disso, muitas dessas atividades biológicas “são desreguladas em vários distúrbios neuropsiquiátricos.”
Propriedades anti-inflamatórias promovem o controle da dor
A artrite é um diagnóstico comum que afeta até 54,4 milhões de pessoas. Um relatório de 2019 da Arthritis Foundation, estima que esse número aumentará 49% para 78,4 milhões de pessoas até 2040. Além disso, eles estimam que o número de atividades limitadas devido à artrite saltará de 43,5% com a condição em 2015 para 52% em 2040.
As pessoas muitas vezes recorrem a medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos para ajudar a aliviar a dor e o desconforto da artrite. A Arthritis Foundation, lista diversas opções de alívio da dor para melhorar a atividade incluindo anti-inflamatórios não esteroides tópicos e orais, esteroides, ácido hialurônico, plasma rico em plaquetas e injeções de células-tronco. No entanto, muitos desses tratamentos possuem uma lista de efeitos colaterais e nem sempre são bem tolerados.
A segurança e a não toxicidade da curcumina, mesmo em altas doses, foram documentadas em testes realizados em humanos. A curcumina foi estudada para o alívio da dor em pessoas com osteoartrite, que é a forma mais comum de artrite. Em um estudo realizado com 139 pessoas com osteoartrite no joelho, os pesquisadores compararam aqueles que tomaram curcumina com aqueles que tomaram diclofenaco duas vezes ao dia por 28 dias.
Nos dias 14 e 28, não houve diferença significativa entre aqueles que tomam curcumina e aqueles que tomam diclofenaco nas medições da dor. Além disso, as pessoas que tomaram curcumina tiveram menos episódios de flatulência, perda de peso significativa e não precisaram de um bloqueador H2 para reduzir o excesso de ácido estomacal, o que 28% dos que utilizaram diclofenaco fizeram.
Os pesquisadores descobriram que a curcumina teve um efeito semelhante na redução da dor ao diclofenaco, mas foi melhor tolerada e teve menos efeitos colaterais. Resultados semelhantes foram encontrados em estudos que avaliaram a curcumina para controle da dor após a cirurgia.
Um estudo analisou os resultados relatados pelo paciente após a colecistectomia laparoscópica e, apesar dos problemas de biodisponibilidade, aqueles que tomaram curcumina tiveram melhores pontuações médias de dor durante a primeira e segunda semana após a cirurgia e melhores pontuações de fadiga nas primeiras 3 semanas.
Em um estudo realizado em animais, os pesquisadores descobriram que a curcumina reduziu a percepção da dor na “inflamação induzida por incisão, sensibilização nociceptiva, dor espontânea e anormalidades funcionais da marcha.” Um segundo estudo feito em animais, encontrou resultados semelhantes, incluindo alívio da dor de maneira dose-dependente. Além disso, o tratamento com curcumina pareceu facilitar a recuperação.
Curcumina: Supressão e Geração da Angiogênese Endotelial
Os pesquisadores também descobriram que a curcumina possui uma propriedade única na qual promove e suprime a angiogênese. Um estudo publicado pela Universidade da Califórnia-Riverside, demonstrou que a curcumina pode promover o crescimento do tecido vascular, que pode ser utilizado para ajudar a regenerar o tecido lesionado ou curar feridas crônicas.
Segundo estimativas de 2020, quase 2,5% dos EUA sofrem de feridas crônicas e uma análise dos dados do Medicare em 2018 identificou cerca de 8,2 milhões de pessoas com feridas crônicas que podem ou não ter sido infectadas. O custo estimado do tratamento varia de US$ 28,2 bilhões (R$ 142,78 bilhões) a US$ 96,8 bilhões (R$ 490,11 bilhões).
A pesquisa atual foi construída em hidrogéis de ácido hialurônico, que pesquisas anteriores mostraram ser muito estáveis, mesmo após serem injetados através de uma agulha clínica fina ou submetidos à esterilização. Além disso, eles mostraram boa biocompatibilidade em testes de laboratório. Os pesquisadores sintetizaram nanopartículas magnéticas de curcumina que dispersaram em um hidrogel de ácido hialurônico.
Quando testado em cultura de células-tronco, eles descobriram que promoveu o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e o crescimento do tecido vascular. As propriedades magnéticas permitiram aos cientistas direcionar o movimento das nanopartículas para o local desejado.
Eles acreditam que isso sugere um sistema de entrega exclusivo para ajudar a curar o tecido lesionado e concluíram: “No geral, nossos hidrogéis magnéticos integraram as propriedades desejáveis de citocompatibilidade e angiogênese com orientação magnética, provando ser promissores para melhorar a regeneração de tecidos.”
Como pesquisadores da Universidade da Califórnia observaram em um comunicado à imprensa, a curcumina demonstrou a capacidade de suprimir o crescimento celular em tumores malignos. Pesquisadores descobriram isso em diversos tipos de câncer, incluindo câncer de pulmão de pequenas células, de mama, pâncreas e ovário.
Efeito na inflamação pode melhorar a saúde ocular
Os efeitos anti-inflamatórios da curcumina também podem afetar a saúde ocular. As condições oculares podem ser difíceis de tratar e podem afetar sua visão. A uveíte anterior é uma condição que pode resultar de trauma no olho ou pode estar associada a outras condições de saúde, como tuberculose, artrite reumatoide e infecções virais. Em alguns casos, não há uma causa subjacente óbvia.
Em um estudo, pacientes com uveíte anterior crônica receberam uma dose de 375 miligramas de curcumina 3 vezes ao dia, durante 12 semanas. Houve 32 pacientes que completaram o estudo de 12 semanas, mostrando que a curcumina foi eficaz na redução dos sintomas e recorrências nos três anos seguintes.
Além de ser um potente antioxidante, a curcumina também aumenta a função de suas próprias enzimas antioxidantes. No geral, a curcumina é poderosa, econômica e possui baixo perfil de toxicidade.
Como tal, pode ser um suplemento valioso, sobretudo para a população em envelhecimento. Em pessoas mais jovens, vale a pena notar o impacto positivo nas vias que ajudam a reverter a resistência à insulina, a síndrome metabólica e a obesidade. Ao todo, acredito que a curcumina é uma adição nutricional valiosa, digna de consideração para uma boa saúde geral, uma vez que a inflamação impulsiona muitos processos de doenças diferentes.
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