RESUMO DA MATÉRIA
- Pessoas que utilizam produtos famosos de alisamento para cabelo podem ter um risco aumentado de câncer uterino, segundo um estudo do National Institutes of Health
- Mulheres que utilizaram produtos de alisamento nos últimos 12 meses tiveram uma maior taxa de desenvolver câncer uterino, quando comparadas com as que nunca fizeram uso desses produtos
- As mulheres que utilizaram os produtos com frequência (definidos como mais de 4 vezes no ano anterior), tiveram 2 vezes mais chances de desenvolver câncer uterino, do que aquelas que não fizeram uso dos produtos de alisamento para cabelo
- Mais produtos químicos podem ser absorvidos pela pele do couro cabeludo em comparação com a pele do antebraço, palma da mão ou abdômen; alisantes de cabelo também podem causar lesões e queimaduras no couro cabeludo, aumentando a exposição química
- Entre os participantes que já utilizaram chapinha, 59,9% eram negros; embora não tenham sido encontradas diferenças raciais na associação entre uso de chapinha e câncer uterino, é possível que os riscos sejam maiores para mulheres negras devido ao uso mais frequente e mais jovem
Por Dr. Mercola
Pessoas que utilizam produtos famosos de alisamento para cabelo podem ter um risco aumentado de câncer uterino, segundo um estudo do National Institutes of Health. A descoberta destaca preocupações a respeito da segurança de produtos químicos utilizados em cosméticos e produtos para cuidados pessoais.
Muitas empresas se aproveitam do desejo dos consumidores e muitas vezes das mulheres, de aumentar a autoestima alterando sua aparência física. Mas a indústria não é regulamentada e a Food and Drug Administration dos EUA permite que ingredientes sejam utilizados em produtos de cuidados pessoais sem a realização de testes.
De fato, a lei de “segurança” para produtos de cuidados pessoais está em vigor, quase inalterada, desde 1938, segundo o Environmental Working Group (EWG). Agora, é um mercado de cuidado com o comprador, com pessoas em risco de doenças crônicas, incluindo câncer, de toxinas encontradas nesses produtos muito utilizados para cuidados com a pele, maquiagem e cabelos, além de produtos químicos para alisamento de cabelo.
Utilizar alisadores de cabelo pode dobrar o risco de câncer uterino
O estudo incluiu dados de 33.497 mulheres norte-americanas com idades entre 35 e 74 anos, que participavam do Sister Study, uma iniciativa de pesquisa separada liderada pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental (NIEHS) do NIH. Seu objetivo é identificar fatores de risco para câncer de mama, entre outras condições de saúde.
Durante um período de acompanhamento de 10,9 anos, foram diagnosticados 378 casos de câncer uterino. Mulheres que utilizaram produtos de alisamento nos últimos 12 meses tiveram uma maior taxa de desenvolver câncer uterino, quando comparadas com as que nunca fizeram uso desses produtos. O uso mais frequente foi associado a um maior risco.
As mulheres que utilizaram os produtos com frequência (definidos como mais de 4 vezes no ano anterior), tiveram 2 vezes mais chances de desenvolver câncer uterino, do que aquelas que não fizeram uso dos produtos de alisamento para cabelo. A principal autora do estudo, Alexandra White, Ph.D., chefe do grupo NIEHS Environment and Cancer Epidemiology, disse em um comunicado à imprensa:
“Estimamos que 1,64% das mulheres que nunca utilizaram chapinhas de cabelo desenvolveriam câncer uterino aos 70 anos; mas para usuários frequentes, esse risco aumenta para 4,05%. Essa taxa de duplicação é preocupante. No entanto, é importante contextualizar essas informações, o câncer uterino é um tipo raro de câncer.”
Dito isso, os pesquisadores também destacaram os números necessários para prejudicar, que foi de 85 para as mulheres que já fizeram uso de produtos para alisamento e 42 para as mulheres que os utilizaram com frequência. Em outras palavras, um caso adicional de câncer uterino seria esperado para cada 85 mulheres que já utilizaram alisadores de cabelo, em comparação com um caso adicional de câncer uterino para cada 42 mulheres que utilizavam de maneira frequente.
Mulheres negras podem apresentar um maior risco
Embora o câncer uterino represente apenas 3% dos novos casos de câncer, é o câncer número 1 do sistema reprodutivo feminino. 9 As taxas de incidência aumentaram nos últimos anos, sobretudo para subtipos agressivos da doença e entre mulheres negras, segundo um estudo de 2019 liderado por Megan Clarke, Ph.D., da Divisão de Epidemiologia e Genética do Câncer do Instituto Nacional do Câncer. Clark explicou:
“Todas essas tendências, as taxas de câncer uterino entre mulheres negras superando as de mulheres brancas, as maiores taxas de incidência de subtipos não endometrióticos entre mulheres negras e as menores taxas de sobrevivência das mesmas para todos os cânceres uterinos são muito preocupantes. Precisamos continuar a pesquisa para entender melhor essas diferenças e disparidades raciais, com objetivo de ajudar a prever melhor o risco e trabalhar na prevenção.”
O uso de produtos para alisamento capilar pode ser um fator precipitante. O estudo em destaque descobriu que entre os participantes que já utilizaram alisadores de cabelo, 59,9% eram negros. Embora o estudo não tenha encontrado diferenças raciais na associação entre o uso de chapinha e a incidência de câncer uterino, é possível que os riscos sejam maiores para mulheres negras devido ao uso mais frequente e mais jovem.
Segundo o autor do estudo Che-Jung Chang, Ph.D., “Como as mulheres negras usam produtos de alisamento ou relaxamento com mais frequência e tendem a iniciar o uso em idades mais precoces do que outras raças e etnias, essas descobertas podem ser ainda mais relevantes para elas.”
Uma pesquisa anterior ligava alisadores ao câncer de mama
Pesquisas anteriores, sugerem que produtos de alisamento de cabelo podem desempenhar um papel em problemas de saúde sensíveis a hormônios. A exposição a tais produtos tem sido associada a:
- Níveis mais baixos de hormônios esteróides sexuais
- Risco elevado de leiomiomas uterinos (miomas)
- Idade precoce da menarca
- Incidentes de câncer de mama e ovário
Em um estudo anterior baseado em 46.709 mulheres no Sister Study, os pesquisadores do NIEHS descobriram que as mulheres que utilizavam alisadores de cabelo a cada 5 a 8 semanas, no mínimo, apresentavam cerca de 30% mais chances de desenvolver câncer de mama. Eles também descobriram que, entre as mulheres negras, o uso de tintas para cabelo permanentes a cada 5 a 8 semanas ou mais, levou a um aumento de 60% no risco de câncer de mama.
Compostos encontrados em produtos capilares, incluindo alisadores, tintas e permanentes, podem ser hormonalmente ativos e cancerígenos. Além disso, eles são muito utilizados por adolescentes, uma época em que o tecido mamário pode ter maior suscetibilidade a exposições químicas.
Em um estudo publicado no International Journal of Cancer, o uso de alisadores de cabelo e permanentes durante a adolescência foi associado a um maior risco de câncer de mama na pré-menopausa. Devido à maior prevalência de uso, é possível que as mulheres negras sejam afetadas de maneira desproporcional:
“Os padrões de uso de produtos capilares variam de maneira considerável por raça/etnia, sendo o uso de chapinhas/relaxantes muito mais comum em mulheres negras do que em mulheres brancas. Supõe-se que o padrão de uso de produtos químicos capilares contribua para a maior carga corporal de compostos desreguladores endócrinos observados em mulheres negras não hispânicas em comparação com mulheres brancas.
As mulheres negras são mais propensas do que as mulheres brancas a serem diagnosticadas com câncer de mama em idades mais precoces e com subtipos tumorais negativos para receptores hormonais, ambos associados a uma menor sobrevida. Produtos químicos para o cabelo foram propostos como um fator potencial que pode contribuir para as disparidades raciais no câncer de mama.”
Por que os alisadores de cabelo podem ser muito perigosos
O estudo em destaque, sugeriu que a exposição química devido ao uso de produtos capilares pode ser de fato preocupante, mesmo em comparação com outros produtos de cuidados pessoais. Isso ocorre porque mais produtos químicos podem ser absorvidos pela pele do couro cabeludo em comparação com a pele do antebraço, palma da mão ou abdômen.
Os alisadores químicos também possuem outros efeitos colaterais no couro cabeludo, incluindo eczema, dor, queimaduras e inflamação, além de perda de cabelo, danos à haste capilar e alterações na cor do cabelo e na composição de aminoácidos. Lesões no couro cabeludo e queimaduras causadas por produtos químicos de alisamento “facilitam a permeabilidade dos produtos químicos através do couro cabeludo,” apontou o estudo em destaque, acrescentando:
“Processos de aquecimento, como chapinha ou secador durante os tratamentos de alisamento, podem liberar ou decompor termicamente os produtos químicos dos produtos, levando a potenciais exposições mais elevadas a produtos químicos perigosos entre os usuários.”
Existem diversos fatores químicos preocupantes em produtos de alisamento capilar, vários dos quais podem contribuir para o aumento das taxas de câncer uterino. Isso inclui parabenos e ftalatos, detectados em concentrações mais altas em pessoas com câncer de endométrio do que naquelas sem. O bisfenol A é outro fator químico preocupante nos produtos.
Esse produto químico tóxico tem sido associado a ciclos estrais alterados e doenças uterinas em ratos, que estão ligadas ao desenvolvimento e progressão do câncer de endométrio. Outros produtos químicos de certo modo cancerígenos em alisadores de cabelo incluem: dietanolamina, metais e formaldeído.
Em uma pesquisa com fabricantes de produtos de alisamento para cabelo em 2011, o EWG descobriu que, enquanto 15 das 16 empresas disseram que seus produtos continham pouco ou nenhum formaldeído, seus testes revelaram o contrári, os produtos de fato continham “quantidades substanciais.”
Simplifique sua rotina para reduzir a exposição química
Não são apenas os produtos capilares que aumentam o risco de exposição química. Shampoos, condicionadores, hidratantes, cosméticos e outros produtos de cuidados pessoais também costumam conter ingredientes tóxicos. Quando você utiliza esses produtos, fica exposto a uma combinação de produtos químicos todos os dias ou quase.
Segundo o EWG, as mulheres utilizam, em média, 12 produtos de higiene pessoal por dia, o que as expõe a 168 ingredientes químicos diferentes. Os homens utilizam uma média de 6 produtos de higiene pessoal todos os dias, expondo-os a 85 produtos químicos diferentes.
Muitos poucos produtos químicos no mercado são testados quanto à segurança, porém mesmo aqueles que não são de certo modo seguros. Parte disso ocorre, porque os testes de segurança são feitos em apenas um produto químico por vez e em condições de laboratório. Desde 2009, observou o EWG, os fabricantes de cosméticos relataram utilizar no mínimo 88 produtos químicos em mais de 73.000 produtos, ligados a problemas de saúde como câncer, defeitos congênitos e danos reprodutivos.
A maneira como você está de fato exposto a produtos químicos, em combinação e sob inúmeros cenários diferentes do mundo real, pode aumentar sua toxicidade de modo exponencial. É possível que o uso de produtos de higiene pessoal e cosméticos influencie a idade da menopausa, além de ter um bebê com maior risco de ser pequeno para a idade gestacional.
No mínimo 11 produtos químicos e famílias químicas de preocupação foram descobertos que são muito utilizados em cosméticos e produtos de cuidados pessoais. Eles incluem:
Hidroxianisol butilado/hidroxitolueno
butilado Corantes de alcatrão de carvão |
6. Dietanolamina (DEA) |
Conservantes liberadores de formaldeído |
Parabenos |
Ftalatos |
1,4 dioxano |
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos |
Siloxanos |
Talco/amianto |
Triclosan |
Para evitar a exposição, simplifique sua rotina e faça seus próprios produtos de higiene pessoal utilizando ingredientes seguros como óleo de coco, sabão neutro e óleos essenciais.
Recursos e Referências
- Journal of the National Cancer Institute October 17, 2022
- National Institutes of Health October 17, 2022
- EWG May 5, 2020
- EWG, Personal Care Products Safety Act Would Improve Cosmetics Safety
- Journal of the National Cancer Institute October 17, 2022, Results
- National Institutes of Health May 22, 2019
- National Institutes of Health, NIEHS December 4, 2019
- Int J Cancer. 2021 May 1;148(9):2255-2263. doi: 10.1002/ijc.33413. Epub 2020 Dec 14
- An Bras Dermatol. 2022 Mar-Apr;97(2):193-203. doi: 10.1016/j.abd.2021.02.010. Epub 2022 Jan 17
- EWG April 12, 2011
- Fertil Steril. 2016 Sep 15; 106(4): 978–990
- Sci Rep. 2019; 9: 8030