RESUMO DA MATÉRIA
- Consumir alimentos ultraprocessados é uma causa significativa de morte prematura, segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo no Brasil
- O estudo constatou que cerca de 57 mil mortes prematuras foram decorrentes do consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil entre pessoas de 30 a 69 anos
- Isso representou 10,5% das mortes prematuras por todas as causas e 21,8% das mortes prematuras por doenças não transmissíveis
- Em adultos brasileiros, os alimentos ultraprocessados correspondem de 13% a 21% da ingestão calórica total; entre os americanos, os alimentos ultraprocessados representam cerca de 57% das calorias diárias, em média, levando os pesquisadores a sugerir que as mortes prematuras ligadas aos alimentos são ainda maiores nos EUA.
- Se a contribuição dos alimentos ultraprocessados para a ingestão calórica total no Brasil fosse reduzida de 10% a 50%, algo em torno de 5.900 a 29.300 mortes poderiam ser evitadas, todos os anos
- Meta-análises anteriores, descobriram que quanto mais alimentos ultraprocessados consumidos, maior o risco de doenças crônicas, como diabetes, doenças cardíacas e câncer, junto com mortalidade por todas as causas
Por Dr. Mercola
Consumir alimentos ultraprocessados é uma causa significativa de morte prematura, segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo no Brasil. O estudo é o mais recente a descobrir que o consumo dessas misturas sintéticas contendo excesso de óleos vegetais (sementes), açúcar e aromatizantes químicos, corantes e conservantes está destruindo a saúde, a longevidade e o bem-estar humanos.
Meta-análises anteriores, descobriram que quanto mais alimentos ultraprocessados consumidos, maior o risco de doenças crônicas, como diabetes, doenças cardíacas e câncer, junto com mortalidade por todas as causas. Além de seus aditivos e ingredientes tóxicos, os alimentos ultraprocessados também podem ser prejudiciais devido aos contaminantes formados durante o processamento ou liberados de suas embalagens.
Porém, apesar dos dados cada vez mais graves mostrando o que esses alimentos (se é que você pode chamá-los assim) fazem ao seu corpo, as vendas de alimentos ultraprocessados dispararam nas últimas décadas. Nos Estados Unidos e em alguns outros países de alta renda, incluindo Canadá, Reino Unido e Austrália, os alimentos ultraprocessados podem representar metade ou mais da energia alimentar total consumida. Isso torna alarmantes suas implicações para a saúde pública e mortalidade.
Alimentos ultraprocessados causaram 57 mil mortes precoces no Brasil
Em adultos brasileiros, os alimentos ultraprocessados constituem 13% a 21% da ingestão total de energia. A equipe de pesquisa utilizou um modelo de avaliação de risco junto com dados a respeito do consumo de alimentos e mortalidade para estimar as mortes prematuras relacionadas à ingestão de alimentos ultraprocessados entre adultos de 30 a 69 anos. Eles observaram:
“Alimentos ultraprocessados (UPFs) são formulações industriais de substâncias derivadas de alimentos (óleos, gorduras, açúcares, amido, isolados de proteínas) que possuem pouco ou nenhum alimento integral e são adicionados de sabores, corantes, emulsificantes e outros aditivos de maneira frequente para fins cosméticos. .
Os ingredientes e processos utilizados na fabricação dos AUP, visam a criação de produtos de baixo custo de produção, sendo esse, palatáveis e práticos, com potencial para substituir alimentos in natura ou apenas um pouco processados e preparações culinárias realizadas com esses alimentos.”
O estudo constatou que cerca de 57.000 mortes prematuras foram decorrentes do consumo de alimentos ultraprocessados, representando 10,5% das mortes prematuras por todas as causas e 21,8% das mortes prematuras por doenças não transmissíveis, entre essa faixa etária.
Entre os americanos, os alimentos ultraprocessados representam cerca de 57% das calorias diárias, em média, levando os pesquisadores a sugerir que as mortes prematuras ligadas aos alimentos são de certo modo, ainda maiores nos EUA. O estudo constatou que se a contribuição dos alimentos ultraprocessados para a ingestão calórica total no Brasil fosse reduzida de 10% a 50%, algo em torno de 5.900 a 29.300 mortes poderiam ser evitadas, todos os anos.
Além disso, os pesquisadores estimaram que, se os alimentos ultraprocessados representassem menos de 23% das calorias diárias dos adultos, cerca de 20.000 mortes prematuras poderiam ser evitadas a cada ano. Se você está se perguntando quais alimentos ultraprocessados são mais consumidos no Brasil, eles incluem:
Pães, bolos e tortas |
Margarina |
Biscoitos salgados |
Biscoitos doces |
Produtos de carne, incluindo
presunto, cachorros-quentes e hambúrgueres |
Pizza |
Bebidas adoçadas com açúcar |
O que de fato são alimentos ultraprocessados?
Os alimentos processados, em geral, ganharam uma má reputação pelos efeitos negativos que causam à saúde. No entanto, muitas vezes há mal-entendidos sobre quais alimentos são processados ou ultraprocessados. Quando o feijão verde é enlatado, por exemplo, ele se torna um alimento processado em vez de um alimento integral. Porém, embora as vagens enlatadas sejam inferiores às suas contrapartes frescas, elas ainda estão muito longe de um saco de batatas fritas ou uma caixa de rosquinhas, exemplos de alimentos ultraprocessados.
Para dar continuidade às definições, existem diversos sistemas utilizados para classificar alimentos segundo os critérios relacionados ao processamento. Embora tenha algum debate sobre sua precisão, o sistema de classificação NOVA é o mais comum. Seu objetivo é classificar “todos os alimentos segundo a natureza, extensão e propósitos dos processos industriais aos quais são submetidos.” Ele define as categorias de alimentos dessa maneira:
- NOVA1 — “Alimentos não processados ou pouco processados,” sobretudo as partes comestíveis de plantas ou animais que foram retirados direto da natureza ou apenas um pouco modificados/preservados.
- NOVA2 — “Ingredientes culinários,” como sal, óleo, açúcar ou amido, que são produzidos a partir de alimentos NOVA1.
- NOVA3 — “Alimentos processados,” como pães recém assados, vegetais enlatados ou carnes curadas, obtidos pela combinação de alimentos NOVA1 e NOVA2.
- NOVA4 — “Alimentos ultraprocessados,” como produtos industrializados prontos para consumo “feitos sobretudo ou 100% de substâncias derivadas de alimentos e aditivos, com pouco ou nenhum alimento intacto do Grupo 1.”
Quanto mais você descobre à respeito do processamento de alimentos, mais descobrirá o mal que faz para sua saúde. Pesquisas relacionam alimentos ultraprocessados a doenças e morte. Um estudo com 22.985 adultos na Itália, descobriu que aqueles que consumiam mais alimentos ultraprocessados com base na classificação NOVA, apresentavam o maior risco de mortalidade por todas as causas e cardiovascular.
“Uma proporção significativa do maior risco de mortalidade associado a uma ingestão elevada de alimentos pobres em nutrientes foi explicada por um alto grau de processamento dos alimentos,” concluiu o estudo.
Em outro exemplo, os homens que consumiam mais alimentos ultraprocessados tinham um risco 29% maior de desenvolver câncer colorretal do que aqueles que consumiam menos. Entre os subgrupos de alimentos ultraprocessados, carnes, aves e frutos do mar prontos para consumo, junto com bebidas adoçadas com açúcar, foram associados ao aumento do risco de câncer colorretal.
Alimentos ultraprocessado aumentam o declínio cognitivo
Não é de surpreender que os alimentos ultraprocessados prejudiquem a saúde do cérebro, mas você pode ficar surpreso com a quantidade, de certo modo, baixa associada a esses danos. A pesquisa apresentada na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer de 2022, demonstrou que consumir cereais matinais, alimentos congelados e refrigerantes pode levar ao declínio cognitivo e aumentar o risco de doença de Alzheimer.
O estudo envolveu 10.775 pessoas residentes no Brasil durante um período de 8 anos. Os dados mostraram uma correlação entre o “alto consumo” de alimentos ultraprocessados de um indivíduo, de modo que o elevado consumo levou a um declínio 28% mais rápido nos números cognitivos globais, incluindo memória, fluência verbal e função executiva. No entanto, em vez de utilizar 50% ou 60% da ingestão calórica diária de alimentos ultraprocessados como elevado consumo, esse estudo definiu alto consumo como “mais de 20%.”
O estudo não identificou se houve um efeito dose-dependente. Em outras palavras, eles apenas analisaram se consumir mais de 20% da ingestão calórica diária em alimentos ultraprocessados afetaria o declínio cognitivo. Se uma pessoa comesse o dobro ou o triplo dessa quantidade, a taxa de declínio cognitivo seria maior?
Óleos de sementes — Contribuinte Nº 1 para a toxicidade
Alimentos ultraprocessados são, de certo modo, produzidos contendo óleos de sementes, também conhecidos como óleos vegetais, de milho, de soja, de girassol e de canola. Nos últimos 50 anos, a produção global de óleo vegetal aumentou 10 vezes, passando de 17 milhões de toneladas na década de 1960 para 170 milhões de toneladas em 2014 e 218 milhões de toneladas em 2018. Os óleos vegetais e de sementes são ricos em ômega-6, ácido linoleico (LA).
Embora seja considerado uma gordura essencial, ele é um veneno para o metabolismo quando consumido em excesso. A razão para isso é que as gorduras poli-insaturadas, como LA, são muito suscetíveis à oxidação.
Como os americanos consumiram maiores quantidades de óleos de sementes ricos em LA, houve um aumento na concentração de LA no tecido adiposo subcutâneo, o que se correlaciona com um aumento na prevalência de asma, obesidade e diabetes.
Acredito que o principal fator por trás de diversas doenças no mundo ocidental esteja relacionado ao elevado consumo de LA. Essa é a base de um livro que estou escrevendo. Embora muitos entendam que a proporção de ácidos graxos ômega-6 para ômega-3 é muito importante, é fundamental perceber que o LA prejudica a capacidade do seu corpo de gerar energia nas mitocôndrias.
Dependendo do órgão, suas mitocôndrias funcionam melhor com diferentes tipos de ácidos graxos. Seu cérebro prefere os ácidos graxos ômega-3, ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Quando há quantidades maiores de LA do que EPA e DHA, pode danificar as mitocôndrias e desencadear a apoptose.
Além do dano celular, seu cérebro é um consumidor de alta energia. Embora componha apenas 2% do peso do corpo, gasta até 25% da energia. Essa combinação de alto consumo de energia canalizado através da mitocôndria e dano à mitocôndria por AL pode ser um fator fundamental no desenvolvimento do declínio cognitivo associado ao consumo de alimentos ultraprocessados.
Eliminar de sua dieta alimentos ultraprocessados e de restaurante, é essencial para manter baixa a ingestão de LA.
Alimentos falsificados são ultraprocessados
Você de certo modo já está ciente de que alimentos não saudáveis são prejudiciais à sua saúde. No entanto, evite o exagero de que produtos de carne falsificada são bons para sua saúde, eles são a própria definição de alimentos ultraprocessados.
No entanto, se você ouvir o Fórum Econômico Mundial (WEF) e seus aliados do Great Reset, eles o alertarão de que as dietas tradicionais de alimentos integrais não são apenas insustentáveis, mas também destrutivas para o meio ambiente. Os alimentos de origem animal em geral, e os produzidos de maneira orgânica em particular, afirmam os Grandes Redefinidores, devem ser substituídos por produtos geneticamente modificados para alto rendimento e resistência a pragas, e alternativas de proteína feitas de insetos, plantas e biologia sintética.
No geral, a vida na Terra não pode ser sustentada, dizem eles, a menos que façamos a transição para o que equivale a uma dieta ultraprocessada e não natural. O EAT Forum, cofundado pelo Wellcome Trust, desenvolveu uma dieta da saúde planetária projetada para ser aplicada à população global. Isso faz reduzir a ingestão de carne e laticínios em até 90%, substituindo-a em grande parte por alimentos feitos em laboratório, junto com cereais e óleo.
Sua maior iniciativa é chamada FReSH, que visa transformar o sistema alimentar trabalhando com empresas de biotecnologia e carne falsa para substituir alimentos inteiros por alternativas criadas em laboratório. Em outras palavras, uma vez que os gigantes da tecnologia tenham controle da carne, laticínios, cereais e óleos, eles serão os únicos lucrando e controlando o fornecimento de alimentos.
É importante perceber que as alternativas de carne à base de plantas não possuem gorduras animais saudáveis. Toda a gordura vem de óleos de sementes industriais, como soja e óleo de canola. São alimentos ultraprocessados as próprias receitas para o desastre metabólico. Substituir a carne real por substitutos falsos, independente de como são feitos, só vai exacerbar ainda mais o rápido declínio na saúde que a população já experimentou.
Hoje é o dia de começar a consumir melhores alimentos
Se você está lendo isso e está preocupado com o fato de que sua ingestão de alimentos ultraprocessados está muito elevada, hoje pode ser o dia em que você começará a se alimentar melhor. O cardiologista londrino Dr. Aseem Malhotra está entre os que alertaram que uma dieta pobre pode até aumentar o risco de morrer por COVID-19, aumentando o risco de obesidade, doenças crônicas e interrompendo o microbioma intestinal.
Em abril de 2020, ele twittou: “O governo e a saúde pública da Inglaterra são ignorantes e negligentes por não dizer ao público que eles precisam mudar sua dieta agora.”
Mas, em uma nota positiva, Malhotra também afirmou que consumir alimentos nutritivos por até um mês pode ajudá-lo a perder peso, colocar o diabetes tipo 2 em remissão e melhorar sua saúde de maneira considerável, então você terá uma chance muito maior de sobrevivência caso você contraia o COVID-19, além de maior chance de evitar a morte prematura causada pelo consumo de alimentos ultraprocessados em geral.
Eu recomendo que você adote uma dieta cetogênica cíclica, que envolve limitar radicalmente os carboidratos (substituindo-os por gorduras saudáveis e quantidades moderadas de proteína) até que você esteja próximo ao seu peso ideal, o que irá permitir que seu corpo queime gordura e não os carboidratos como a principal fonte de energia. E, como mencionado, quanto menos alimentos ultraprocessados você consumir, melhor será sua saúde geral.
Recursos e Referências
- American Journal of Preventive Medicine November 7, 2022
- American Journal of Preventive Medicine November 7, 2022, Intro
- American Journal of Preventive Medicine November 7, 2022, Discussion
- American Journal of Preventive Medicine November 7, 2022, Results
- NBC News November 6, 2022
- European Journal of Clinical Nutrition volume 76, pages 1245–1253 (2022)
- European Journal of Clinical Nutrition volume 76, pages 1245–1253 (2022), Intro
- BMJ 2022;378:e070688
- BMJ 2022;378:e068921, Results
- Alzheimer's Association August 3, 2022
- Our World in Data, Palm Oil
- BMJ Open Heart, 2018;5:e000898
- Nutrients, 2021;13(4)
- Live Science November 9, 2019
- The Guardian August 16, 2022
- EAT Forum, Planetary Health Diet
- Science Daily May 29, 2019
- Twitter, Dr Aseem Malhotra
- Food Navigator April 22, 2020