O que está provocando o grande aumento de TDAH?

📝RESUMO DA MATÉRIA

• Uma pesquisa encontrou um aumento de 26,5% nos diagnósticos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças e adultos durante a pandemia; além disso, 22% dos adultos e 17% das crianças utilizaram medicamentos para TDAH pela primeira vez
• A crescente demanda por Adderall, um medicamento utilizado no tratamento de TDAH, levou à escassez. A FDA e a DEA limitam a quantidade de medicamento que pode ser produzida com base em dados históricos, o que levou à escassez com base na demanda e não em interrupções no fornecimento
• Durante a pandemia, as mudanças no padrão alimentar incluíram aumento na frequência de lanches, preferência por alimentos doces e ultraprocessados ​​e aumento no consumo de álcool. No entanto, a regra alimentar nº 1 para reduzir os sintomas do TDAH é interromper os picos de açúcar
• Um estudo duplo-cego randomizado mostrou que o açafrão pode reduzir os sintomas do TDAH. Relatórios das mídias sociais sugerem que o ruído marrom pode ajudar a melhorar o foco e a produtividade, o que deve ser praticado com hábitos de escuta seguros para reduzir o risco de perda auditiva
• O exercício pode melhorar a função cognitiva e o controle executivo. Modificações dietéticas podem reduzir os sintomas, como evitar açúcar e carboidratos refinados, promover um microbioma intestinal saudável e evitar aditivos alimentares e ingredientes geneticamente modificados

🩺Por Dr. Mercola

Em outubro de 2022, o FDA anunciou que, devido a “atrasos contínuos de fabricação intermitente,” havia uma escassez nacional de Adderall, um medicamento utilizado no tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e narcolepsia. O medicamento combina anfetamina e dextroanfetamina, que são estimulantes do sistema nervoso central.

Adderall é conhecido por causar efeitos colaterais graves, incluindo sinais de psicose, convulsões, espasmos musculares e problemas cardiovasculares, como dor no peito, perda de circulação nos dedos das mãos e pés ou certos tipos de feridas. Os cientistas acreditam ajudar na redução da impulsividade e melhorar o foco comum com TDAH, aumentando os níveis de norepinefrina e dopamina no cérebro.

O medicamento é prescrito para adultos e crianças com diagnóstico de TDAH, mas é importante observar que a estimulação do sistema nervoso central tem o mesmo efeito mesmo em pessoas que não têm TDAH. Adderall é um medicamento prescrito, mas segundo uma pesquisa nacional de Uso de Drogas e Saúde de 2016, quase 2/3 dos jovens adultos o obtiveram de maneira ilegal através de seus amigos ou colegas de quarto.

Para muitos, o objetivo do uso ilegal é aumentar a produtividade e ficar acordado por mais tempo, o que os alunos esperam que ajude a melhorar suas notas. O departamento de psicologia da Universidade de Wisconsin-Madison relata que entre 5% e 35% dos estudantes universitários podem ter utilizado Adderall e os estudantes têm duas vezes mais chances de usar o medicamento como não estudantes.

Para alguns, os problemas no controle de comportamento impulsivo ou prestar atenção são tão persistentes que interferem na vida doméstica, acadêmica, social e profissional. Segundo crianças e adultos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, os sintomas surgem na primeira infância em geral, mas também podem se apresentar em adultos. Os sintomas do TDAH são divididos em 3 categorias diferentes.

Os indivíduos podem ser diagnosticados com sintomas desatentos, hiperativos-impulsivos ou uma combinação dos 2. Em 1994, a nomenclatura abandonou a designação de hiperatividade naqueles que demonstrava falta de atenção, resultando em transtorno de déficit de atenção (DDA) e TDAH. No entanto, segundo CHADD, independente de haver sintomas de hiperatividade, a condição é de fato TDAH.

Aumento acentuado no diagnóstico de TDAH durante a pandemia

A escassez de Adderall destacou o número crescente de crianças e adultos diagnosticados com TDAH durante a pandemia do COVID-19. O Conselho de Saúde da Criança, caracterizou como os sintomas sendo “desmascarados pela pandemia.” Uma pesquisa com leitores do ADDitude revelou que houve um aumento de 26,5% no diagnóstico de TDAH em crianças e adultos durante a pandemia.

Além disso, houve 22% dos adultos e 17% das crianças que começaram a utilizar medicamentos para o TDAH pela primeira vez. Em parte, isso pode ter sido resultado da remoção de estruturas externas de apoio que as pessoas costumam utilizar para concentrar sua atenção e produtividade. Essas estruturas incluem motivadores externos como escola, trabalho e rotinas. Os números foram semelhantes nas crianças.

Uma pesquisa com 1.538 cuidadores, revelou que cerca de 26% relataram um novo diagnóstico de TDAH em seus filhos, 15% das crianças diagnosticadas com uma condição coexistente e cerca de 14% tiveram alterações nos sintomas ou estavam sendo avaliadas para TDAH. Segundo o ADDitude, alguns dos fatores contribuintes mais comuns foram:

• Situações de trabalho em casa sem motivadores externos
• Estresse e ansiedade sobre as medidas durante a pandemia
• Maior tempo com familiares
• Maior tempo nas plataformas de mídia social

“Após assistir diversas pessoas no TikTok falando a respeito de TDAH adulto, eu pensei 'Poxa vida, não é apenas eu; isso explica muito,'” escreveu uma mãe de 3 filhos em Michigan na pesquisa ADDitude. “Percebi que meu médico estava errado e não apenas 'superei' meu TDAH. Agora preciso ser reavaliado e ver o que pode ser feito para ajudar.”

A revista Self caracterizou o aumento no diagnóstico como “ajudando algumas mulheres a perceber que apresentam TDAH.”¹² Ellen Littman, Ph.D., é psicóloga clínica, pesquisadora e coautora de Understanding Girls With ADHD. Ela observou que a pressão sobre as mulheres para conciliar trabalho, família e vida social pode aumentar o estresse para aquelas que estão lutando com atenção, memória, organização e tomada de decisões.

“Ansiosos por serem julgados como impostores, eles são consumidos pela vergonha. Eles estão desmoralizados por sua incapacidade de se conformar, comparam-se com seus pares e muitas vezes se isolam,” disse ela.

O aumento da demanda contribuiu para a escassez de Adderall

Segundo a NBC News, a falta de Adderall foi muito impactada pela crescente demanda do mesmo. Em setembro de 2022, a Bloomberg relatou desafios da cadeia de suprimentos com Adderall, incluindo marca e comprimidos genéricos. O relatório afirmava haver falta de mão de obra na Teva Pharmaceutical Industries Ltd, sendo a principal fabricante farmacêutica de Adderall nos EUA. Logo depois, 3 outras empresas tiveram seu Adderall genérico em espera.

No entanto, parece que, à medida que a escassez continua, a questão não é tão simples quanto aumentar a equipe e fabricar mais medicamentos. Segundo a NBC News, como esses medicamentos apresentam um histórico de dependência e abuso, o FDA e a Drug Enforcement Agency (DEA) limitam a frequência com que os pacientes podem reabastecer a receita, quantos comprimidos uma farmácia pode dispensar e calcular quanto uma empresa farmacêutica pode produzir.

Quando os fabricantes desejam aumentar a produção, eles devem atender aos cálculos da DEA. Em outras palavras, segundo a NBC News, o DEA calcula quanto é necessário para atender a demanda e aloca esse valor para a companhia farmacêutica.

Segundo Michael Ganio, diretor sênior de prática e qualidade de farmácia da Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP), é a demanda inesperada a principal responsável pela escassez, já que a DEA usa dados históricos para definir o valor que as empresas farmacêuticas estão autorizados a fabricar. Esse descompasso entre as cotas da DEA e as prescrições reais criou uma escassez com base na demanda e não em interrupções no fornecimento.

As mudanças dietéticas durante a pandemia contribuíram para o aumento dos diagnósticos?

Em fevereiro de 2021, especialistas alertaram que crianças com sintomas de TDAH devem ser avaliadas com cuidado antes de receber medicação. Apenas distribuir uma pílula com base em uma lista de sintomas pode aumentar o risco de dependência dessa substância controlada da Tabela II com alto potencial de abuso e dependência.

Durante a pandemia do COVID-19, os pesquisadores aproveitaram o grande número de indivíduos submetidos a estressores físicos e psicológicos semelhantes para fazer estudos longitudinais sobre como esses fatores externos afetam os comportamentos alimentares. As interrupções no estilo de vida são conhecidas por afetar os comportamentos alimentares e os pesquisadores descobriram um aumento na frequência de lanches, uma preferência por alimentos doces e ultraprocessados ​​e um aumento no consumo de álcool.

Essas mudanças nos hábitos alimentares podem ter contribuído para os sintomas de TDAH em adultos e crianças. Segundo o ADDitude, seguir um plano nutricional rico em proteínas e vitaminas pode ajudar no controle dos sintomas, enquanto açúcar, corantes artificiais e conservantes “ativam” os sintomas do TDAH.

No entanto, a regra alimentar nº 1 para reduzir os sintomas do TDAH é interromper os picos de açúcar. ADDitude relatou que um estudo de 1980, concluiu que quando crianças hiperativas consumiam mais açúcar, seu comportamento se tornava mais destrutivo e inquieto. Um estudo de 1995 da Universidade de Yale, indicou que dietas com elevado teor de açúcar podem aumentar a desatenção em algumas crianças.

Uma meta-análise de 2020, concluiu haver uma relação positiva entre o consumo de açúcar e os sintomas de TDAH e um estudo de 2012 publicado na Pediatrics, sugeriu que mais atenção deveria ser dada à educação de pais e filhos sobre padrões alimentares saudáveis ​​que omitissem conservantes, aditivos e açúcar, que predispõem as crianças a sintomas de TDAH.

Não sendo uma surpresa, a dieta desempenha um papel importante no controle dos sintomas do TDAH. Porém, como mostram os dados, as escolhas alimentares foram impactadas de maneira negativa durante a pandemia de COVID e também podem ter contribuído para o aumento do número de adultos e crianças diagnosticados com TDAH.

Estudo randomizado e duplo-cego mostra que o açafrão pode ajudar

Os resultados do uso de medicamentos aprovados para o TDAH em geral não são satisfatórios. É fundamental que adultos e crianças explorem opções alternativas no controle de seus sintomas e, assim, reduzir seu potencial de efeitos colaterais adversos de medicamentos projetados para afetar o sistema nervoso central. O açafrão é uma dessas opções alternativas.

Um estudo duplo-cego randomizado de 6 semanas realizado com 54 crianças apresentando idades entre 6 e 17 anos, comparou cápsulas de açafrão com metilfenidato (Concerta, Ritalina). Os pesquisadores utilizaram a Escala de Avaliação de TDAH de Professores e Pais para avaliar os resultados do tratamento e descobriram que ambos funcionaram bem. Isso sugeriu que o metilfenidato e o açafrão tiveram o mesmo efeito nos sintomas.

Eles observaram que “a terapia de curto prazo com açafrão mostrou a mesma eficácia em comparação com o metilfenidato,” acrescentando que a frequência dos efeitos adversos também foi semelhante. O açafrão tem sido valorizado por diversos efeitos fisiológicos, inclusive como antidepressivo, anticonvulsivante e antiespasmódico. Também é conhecida como a especiaria mais cara do mundo em peso.

Exercício, dieta e ruído especial ajudam a reduzir os sintomas

Se você ou seu filho está lutando contra o TDAH, ou sintomas semelhantes ao mesmo, recomendo consultar um médico holístico com experiência no tratamento de TDAH utilizando métodos naturais. É essencial abordar a dieta e o exercício para melhorar o desempenho cognitivo e o funcionamento do cérebro, sobretudo durante as tarefas que exigem funções executivas.

O controle executivo é a capacidade de manter o foco, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva (ou alternar entre tarefas), muito prejudicada em pessoas com sintomas de TDAH. O exercício parece beneficiar as funções cognitivas e comportamentais em crianças e adultos com TDAH.

Mais pesquisas são necessárias para confirmar o efeito do açafrão no TDAH, mas até agora os resultados parecem promissores. Caso você ou seu filho com TDAH não respondeu a outros tratamentos e mudanças no estilo de vida, converse com seu médico holístico sobre se esse remédio à base de ervas pode ser útil.

Outra intervenção potencial é o ruído. Um estudo de 2022, analisou o impacto que o ruído branco teve na qualidade do sono em pacientes doentes em estado grave e descobriu que isso melhorou a qualidade do sono em pacientes de UTI. A NBC News informou sobre uma tendência crescente de mídia social de usuários que dizem que o ruído marrom os ajuda com seus sintomas de TDAH.

O ruído marrom é uma classificação de frequências de ruído que possui menos frequências altas do que o ruído branco ou rosa. Um exemplo pode ser o rugido do oceano, o motor de um avião ou um trovão. No momento, não há informações suficientes para apoiar os relatos de usuários que dizem que o uso de ruído marrom pode ajudar a melhorar sua concentração e reduzir os sintomas de TDAH.

Os especialistas sugerem que, caso queira experimentar o ruído marrom, utilize hábitos de escuta seguros, como manter o volume baixo e ouvir por breves períodos. Expor seus ouvidos de maneira regular a sons elevados, aumenta o risco de perda auditiva. Quanto às estratégias dietéticas, recomendo abordar os seguintes fatores:

• Excesso de açúcar —Alimentos com elevado teor de açúcar e carboidratos refinados levam a picos de glicose no sangue e liberação excessiva de insulina. Isso pode provocar queda nos níveis de açúcar no sangue, fazendo com que seu cérebro secrete glutamato em níveis que podem causar agitação, depressão, raiva, ansiedade e ataques de pânico. O açúcar também promove a inflamação crônica, que diversos estudos demonstraram piorar a saúde mental.
• Sensibilidade ao glúten —As evidências que sugerem que a sensibilidade ao glúten pode estar na raiz de diversas condições neurológicas e psiquiátricas, incluindo o TDAH, são bastante convincentes. Um estudo chegou a sugerir que a doença celíaca deveria ser adicionada à lista de verificação de sintomas do TDAH.
• Um intestino não saudável —Conforme explicado pela Dra. Natasha Campbell-McBride, médica com pós-graduação em neurologia, a toxicidade no intestino pode fluir por todo o corpo e para o cérebro, podendo causar sintomas de autismo, TDAH, dislexia, dispraxia, depressão, esquizofrenia e outros transtornos mentais.

Se tratando de saúde mental, é imperativo reduzir a inflamação do intestino e, para isso, é preciso melhorar sua flora intestinal. Isso inclui não apenas evitar alimentos processados ​​e refinados, mas também comer alimentos fermentados, como vegetais fermentados.

Caso não consiga que seu filho consuma alimentos fermentados de maneira regular, um suplemento probiótico de alta qualidade pode ser muito benéfico na correção da flora intestinal anormal que pode contribuir para a disfunção cerebral.

• Falta de gordura ômega-3 de origem animal — Pessoas com baixo teor de gorduras ômega-3 podem ser bem mais propensas a serem hiperativas, lutam com distúrbios de aprendizagem e exibem comportamento. Um estudo clínico de 2007, também examinou os efeitos do óleo de krill em adultos diagnosticados com TDAH e relatou uma melhora de 50% nas habilidades de planejamento e uma melhora de quase 49% nas habilidades sociais.
• Aditivos alimentares e ingredientes geneticamente modificados — Acredita-se que diversos aditivos alimentares pioram o TDAH, e muitos foram banidos da Europa. Os culpados em potencial a serem evitados incluem: os corantes alimentares Azul nº 1 e nº 2; Verde #3; Laranja B; Vermelho nº 3 e nº 40; Amarelo nº 5 e nº 6; e benzoato de sódio, um conservante.

A pesquisa também mostra que o glifosato, o ingrediente ativo do herbicida Roundup da Monsanto, limita a capacidade do corpo de desintoxicar compostos químicos estranhos. Como resultado, os efeitos nocivos desses produtos químicos e toxinas ambientais são ampliados e podem resultar em uma grande variedade de doenças, incluindo distúrbios cerebrais que podem afetar o comportamento.