📝RESUMO DA MATÉRIA
- Soluços podem acontecer com qualquer pessoa, em qualquer idade. A maioria é leve e para em poucos minutos, porém, em alguns casos, os soluços persistentes podem ter meses de duração. Esses podem indicar um problema de saúde significativo, incluindo acidente vascular cerebral, diabetes, doença renal ou câncer
- Certas irritações podem desencadear soluços, como consumir alimentos ou bebidas de maneira muito rápida, beber líquidos muito quentes ou frios, bebidas carbonatadas, consumir álcool, alongar demais o pescoço ou passar por altos níveis de estresse, como medo ou excitação
- O soluço é um sintoma não avaliado do tratamento do câncer, assim chamados porque são mais comuns do que a maioria dos médicos sabe e quase nunca são avaliados. Soluços crônicos podem causar fadiga, menor ingestão de alimentos, perda de peso, privação do sono e pneumonia por aspiração, podendo acelerar a morte em pacientes com câncer
- É fundamental aprender a viver com soluços crônicos até que eles possam ser parados. Evite gatilhos que aumentam o risco de soluços, como alimentos picantes ou bebidas carbonatadas, ingira água ao longo do dia para se manter hidratado e consuma alimentos com pequenas mordidas para reduzir o risco de aspiração
- Existe evidências anedóticas de que alguns remédios caseiros podem parar os soluços, como respirar em um saco de papel, beber vinagre ou engolir açúcar, aplicar pressão de maneira suave sobre os globos oculares, apertar a unha no dedo mindinho por 10 segundos ou estimular o nervo vago e frênico. ao engolir
🩺Por Dr. Mercola
Soluços podem acontecer com qualquer pessoa, em qualquer idade. Mesmo bebês ainda não nascidos apresentam soluços, o que alguns acreditam que pode ajudar a prepará-los para começar a respirar ar. Embora não haja consenso a respeito do papel que os soluços desempenham em adultos, pesquisadores da University College London anunciaram em 2019 que os soluços em recém-nascidos acionam sinais cerebrais, podendo ajudar o bebê a aprender a regular sua respiração.
Os soluços descrevem o som que é provocado por espasmos no diafragma. O diafragma separa seu abdômen e seu peito, descansando sob sua caixa torácica. Desempenha um papel importante na respiração. Enquanto o diafragma se move para baixo, cria uma pressão negativa no peito e você inspira. Quando você expira, o diafragma se move de volta para o lugar.
Um espasmo involuntário do diafragma faz com que você sugue o ar e, ao mesmo tempo, a glote se fecha impedindo a entrada de mais ar. Isso provoca o clássico som 'hic' do soluço. Para a maioria das pessoas, os soluços são autolimitados e duram por diversos minutos. Em geral eles não são nada mais do que irritantes. No entanto, para outros, os soluços podem ser persistentes, durando mais de 2 dias, ou intratáveis quando duram mais de um mês.
Caso apresente diversos episódios de soluços por um período prolongado, isso também é considerado soluços crônicos. Soluços intratáveis ou crônicos podem se tornar um problema médico por si só. Porém, o que também se sabe é que os soluços crônicos ou intratáveis em adultos estão associados a diversas condições médicas, incluindo o câncer.
Soluços cronicamente persistentes podem sinalizar algo grave
Um estudo de caso de 2022 apresentado no Open Journal of Urology, discutiu o caso de um homem de 66 anos com um histórico de 2 anos de soluços intratáveis. Quando ele se apresentou ao médico, ele não apresentava sintomas sugestivos de câncer renal. Porém, uma tomografia computadorizada abdominal revelou uma massa bem definida no rim direito que crescia no espaço perirrenal.
Os pesquisadores observaram que 80% dos soluços intratáveis podem ser provocados devido a uma causa orgânica e os 20% restantes estão ligados a um gatilho psicogênico. Eles escreveram que “Patologias nas glândulas supra-renais e nos rins, sobretudo no pólo superior, irritam o diafragma e os nervos frênico e vago, ativando o reflexo do soluço.”
Tumores que irritam o diafragma e o nervo frênico podem desencadear soluços crônicos ou intratáveis. Isso pode incluir câncer de fígado, de pâncreas ou pancreatite, câncer de intestino, renal e tumores adrenais. Além de ser um sinal do crescimento do tumor, os soluços ocorrem em até 40% dos pacientes com câncer.
A Dra. Aminah Jatoi, oncologista da Mayo Clinic Rochester, e dois colegas desenvolveram uma pesquisa para avaliar a compreensão e a conscientização dos profissionais de saúde sobre a importância dos soluços em pacientes com câncer. Foram enviadas 90 pesquisas concluídas por médicos, enfermeiros, enfermeiras e assistentes médicos.
A pesquisa constatou que os soluços eram um problema subestimado em pacientes com câncer e, mesmo quando reconhecidos e tratados, 20% dos profissionais de saúde observaram que as terapias atuais não eram eficazes e são necessárias mais opções de tratamento.
Um artigo de 2013, sugeriu que os soluços refratários podem estar associados à hiponatremia, e os médicos devem considerar isso em seu diagnóstico diferencial quando pacientes com câncer apresentam soluços crônicos. Um artigo de 2021, observou que 1/5 dos pacientes com câncer em seu estudo sofria de soluços e 54,1% deles tinham câncer gastrointestinal.
Como observa o The Atlantic, os pacientes com câncer podem ter 2 maneiras de desencadear os soluços. Aqueles com câncer próximo o suficiente para irritar o nervo frênico, como tumores no peito, garganta ou cabeça, podem ter um maior risco de desenvolver soluços crônicos ou intratáveis. Os pesquisadores também descobriram que os medicamentos utilizados no tratamendo do câncer, como quimioterapia e esteróides, também aumentam o risco.
Outras condições médicas associadas a soluços crônicos
Como você de certo modo já observou, certas coisas podem desencadear soluços leves que desaparecem em minutos. Sempre que você consumir alimentos ou beber de maneira muito rápida, ingerir líquidos muito quentes ou frios, bebidas carbonatadas, álcool ou esticar demais o pescoço, você pode desencadear soluços leves. Além disso, os soluços podem começar quando você passa por altos níveis de estresse, como medo e excitação.
Além de certos tipos de câncer, os soluços crônicos ou intratáveis também estão associados a outras condições graves de saúde. Tal como acontece com os tipos de câncer que desencadeiam soluços crônicos, esses problemas de saúde podem irritar o diafragma ou o nervo frênico.
Derrame |
Lesão cerebral |
Esclerose múltipla |
Irritação mecânica do tímpano |
Distúrbios gastrointestinais ou abdominais |
Crescimento na glândula tireoide |
Diabetes |
Desequilíbrio eletrolítico |
Pleurisia |
Pneumonia |
Infecção na orelha |
Dor de garganta |
Asma |
Gravidez |
Pancreatite |
Hepatite |
Irritação da bexiga |
Doenças renais |
Mal de Parkinson |
Alguns medicamentos |
Um artigo de 2021, apresentou o caso clínico de um homem com doença de Parkinson que desenvolveu soluços graves ao ingerir agonistas da dopamina para tratar a doença, porém os soluços não ocorreram ao utilizar Levodopa, um agente do sistema nervoso central. Corticosteroides, benzodiazepínicos, medicamentos para refluxo ácido, barbitúricos e opioides,1também estão ligados a soluços induzidos por medicamentos.
O benefício de tratar sintomas não avaliados para pacientes com câncer
Os soluços são um dos “sintomas não avaliados” em pacientes com câncer, sintomas quase nunca avaliados em instrumentos de avaliação. Porém, como o The Atlantic descreve a experiência de Colleen Kennedy durante o tratamento de quimioterapia e radiação para câncer de pulmão em estágio 3, a dor e o desconforto podem ser esmagadores.
“Ela não esperava os ataques de soluço que começaram na metade de sua primeira rodada de tratamento. Eles a deixaram com falta de ar e enviaram dor ricocheteando por seu corpo já sensível. Às vezes, eles acionavam seu reflexo de vômito e a faziam vomitar.
Depois que diminuíram, ela se sentiu cansada, dolorida, sem fôlego, como se tivesse acabado de finalizar um treino pesado. Eles eram, Kennedy, agora com 54 anos, me disse, “nada comparado ao que consideraríamos soluços normais.” Eles duraram quase um ano.”
Na maioria das pessoas, os soluços são transitórios e parecem se desenvolver de maneira aleatória. Isso os torna difíceis de estudar. Uma revisão sistemática de 2015, encontrou apenas 341 pacientes em 15 estudos publicados que foram tratados para soluços persistentes ou intratáveis. Com base na escassez de dados, os pesquisadores concluíram que “essa revisão sistemática não revelou dados de alta qualidade nos quais basear as recomendações de tratamento.”
Embora a condição possa ser difícil de tratar, pode ser muito desafiadora para os pacientes. Um artigo de 2022 no BMC Cancer, avaliou 320 pacientes e descobriu que a idade média quando os soluços foram relatados pela primeira vez nesse grupo de pacientes com câncer era de 63 anos e era mais prevalente em homens do que em mulheres.
No grupo de 320 pacientes, 89% que relataram soluços eram homens e apenas 11% eram mulheres. Em 62% dos pacientes, os soluços foram relatados todos os dias; 9 pacientes apresentaram soluços diários por mais de 6 semanas; 5 tiveram sintomas por anos.
Os soluços são um incômodo para a maioria das pessoas, mas os soluços crônicos ou intratáveis podem levar à perda de peso, menor ingestão de alimentos, privação do sono, fadiga e pneumonia por aspiração. Eles também podem provocar ansiedade, depressão e diminuição da função cognitiva. Em pacientes com câncer, alguns desses problemas podem acelerar a morte.
Dicas para lidar com soluços crônicos
Quando remédios caseiros ou medicamentos "off-label" não interrompem com sucesso os soluços crônicos ou intratáveis, é crucial aprender a conviver com eles. Charles Osborne teve um caso de soluços intratáveis que durou 68 anos. Esse foi o caso registrado por mais tempo, conforme confirmado pelo Guinness World Records.
Osborne nasceu em 1893 e desenvolveu soluços após cair e bater com a cabeça. Kevern Koskovich descreveu como Osborne administrou seus soluços para a Smithsonian Magazine enquanto experimentava até 40 espasmos diafragmáticos a cada minuto.
“Ele flexionava o peito 3 ou 4 vezes a cada minuto,” diz Koskovich, que conheceu um dos filhos de Osborne e agora mora perto de Correctionville, Iowa. “Percebia-se que ele estava soluçando, mas não fazia barulho. Ele soltou — essa é a melhor maneira de descrevê-lo.”
Por razões desconhecidas, os soluços de Osborne pararam de maneira repentina em 1990. Ele faleceu em maio de 1991 aos 97 anos. Para a maioria das pessoas, os soluços crônicos são estressantes e interrompem as rotinas normais. Tentar explicar a condição pode ajudar a aliviar um pouco do estresse.
Os soluços crônicos dificultam o sono, diminuindo seu nível de energia no dia seguinte e pode fazer com que você consuma mais alimentos para se manter acordado. No entanto, os soluços também dificultam a alimentação e a ingestão de líquidos, podendo causar perda de peso, desidratação e desnutrição. Pessoas com soluços crônicos ou intratáveis acham mais fácil comer quantidades menores durante o dia em vez de três refeições maiores.
Bebidas gaseificadas e alimentos condimentados podem desencadear soluços, por essa razão devem ser evitados. Pode ser mais fácil beber pequenas quantidades de líquido ao longo do dia para se manter hidratado. Como os soluços são imprevisíveis, eles podem aumentar o risco de engasgo com alimento ou bebida, portanto, dar pequenas garfadas pode ajudar a prevenir a aspiração.
Remédios caseiros que podem ajudar no alívio dos soluços
Quando você está tentando se livrar de soluços leves em casa, existem alguns remédios que você pode tentar. A ideia é se envolver em uma atividade que interrompa o reflexo do soluço, o que possa parar com os mesmos. Se esses remédios não forem bem-sucedidos ou seus soluços continuarem, pode ser hora de identificar o que está irritando o nervo vago ou frênico.
- Inspiração supra-supramaximal —Inspire e prenda a respiração durante 10 segundos. Antes de expirar, inspire mais 2 vezes, cada vez prendendo a respiração por 5 segundos.
- Respirando com um saco de papel —Isso aumenta seu nível de CO2.
- Estimular o nervo vago —Puxe a língua, beba ou gargareje uma bebida gelada, coloque uma leve pressão sobre os olhos, beba vinagre ou engula açúcar. Estimular a úvula ou nasofaringe posterior com vinagre nasal ou sais aromáticos, gargarejar ou engasgar também pode estimular o nervo vago.
- Comprimindo o peito —Traga os joelhos até o peito e abrace-os ou incline-se para a frente enquanto estiver sentado.
- Movimento — Dr. Tyler Cymet, vice-presidente de eficácia institucional do Maryland College of Osteopathic Medicine, descobriu alguns tratamentos que funcionam até 25% do tempo, incluindo exercícios respiratórios, ioga e pilates.
- Ponto de acupressão —Aperte a superfície da unha no dedo mindinho durante 10 segundos. Dr. John Talbot acredita que isso funcionou em pouco mais de 50% das pessoas em que ele o usou.
- Estimulação nervosa durante a deglutição — Ali Seifi era um neurocirurgião no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas quando inventou o Hicc Away. Seifi explica que ingerir água com força através de um dispositivo dobrado ou beber por meio de uma toalha de papel grossa puxa o diafragma para baixo durante a deglutição, o que interrompe o ciclo de espasmo.
🔍Recursos e Referências
- University College London, November 12, 2019
- Open Journal of Urology, 2022; 12(5) 2. Case Presentation
- Open Journal of Urology, 2022; 12(5)
- Cleveland Clinic, Hiccups, What does it mean if my hiccups last for more than two days?
- Medscape November 4, 2022
- American Journal of Hospice and Palliative Medicine, 2022; doi: 10.1177/10499091221130
- Indian Journal of Palliative Care, 2013; 19(2)
- Journal of Pain Symptom Management, 2021; 62(3)
- The Atlantic, April 3, 2023
- Mayo Clinic, Hiccups
- Parkinson's Disease, September 25, 2020
- Archives of Neuropsychiatry, 2021;58(3)
- Canadian Pharmacists Journal, 2007; 140(2)
- Bon Secours, July 15, 2020
- ESMO Open, 2020
- Alimentary Pharmacology and Therapeutics, 2015;42(9)
- BMC Cancer, 2022;22(1) Abstract
- Oncology Times, 2018;40(17)
- The Smithsonian Magazine, June 13, 2022
- Singultus, August 7, 2022, Treatment and Management
- Maryland College of Osteopathic Medicine, Tyler Cymet DO
- The Washington Post, June 2, 2014
- Huffington Post, June 12, 2013
- HiccAway
- USC Digital Folklore