O óleo de hortelã-pimenta funciona para a síndrome do intestino irritável?

📝RESUMO DA MATÉRIA

• A Fundação Internacional para Distúrbios Gastrointestinais lista a hortelã-pimenta como uma opção de tratamento. Os dados mostram que o número necessário para tratar (NNT) para evitar que um paciente tenha problemas persistentes é quatro para dor abdominal e três para sintomas globais
• Para colocar isso em perspectiva, as estatinas, a medicação mais prescrita, devem ser administradas a 217 pessoas para que uma pessoa se beneficie (0,5%), mas 4,8% das pessoas que consomem as pílulas sentirão dor devido a danos musculares, um especialista acredita que, para que um medicamento seja eficaz, o NNT deve ser cinco ou menos
• A hortelã-pimenta também pode ajudar a aliviar a dor, problemas respiratórios os sintomas do herpes simples, melhorar a memória, a saúde da pele e do cabelo. A hortelã-pimenta pode ser mais eficaz do que a clorexidina para prevenir o desenvolvimento de biofilme que pode levar a cáries
• A maioria dos adultos pode ingerir óleo de hortelã-pimenta em pequenas quantidades, mas pode desencadear efeitos colaterais em pessoas com sensibilidade. Algumas pessoas devem evitar a hortelã-pimenta como mulheres grávidas e lactantes, crianças pequenas, diabéticos e pessoas com doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), hérnia de hiato, cálculos biliares ou doença hepática

🩺Por Dr. Mercola

A Fundação Internacional para Distúrbios Gastrointestinais estima que até 10% da população mundial possui síndrome do intestino irritável (IBS). No entanto, como o Dr. Michael Greger observa nesse pequeno vídeo, um estudo de 2005 revelou que 76,6% das pessoas nos EUA com SII não são diagnosticadas. Isso significa que o número de pessoas com SII é muito maior.

É importante saber que a colite ulcerosa e a doença de Crohn são diferentes tipos de doença inflamatória intestinal. Embora os termos doença inflamatória intestinal e síndrome do intestino irritável sejam às vezes utilizados de forma intercambiável, são condições separadas que requerem tratamentos diferentes. A doença de Crohn e a colite ulcerosa são formas de doença inflamatória intestinal, mas não a SII.

A SII é uma condição crônica que altera seus hábitos intestinais e pode desencadear dor, cólicas, alterações na consistência e frequência dos movimentos intestinais e inchaço. Como observa Greger em um artigo publicado no Journal of Clinical Gastroenterology, os médicos subestimam o impacto da SII na qualidade de vida.

Quando medida, a qualidade de vida relacionada à saúde foi pior em pessoas com SII do que naquelas com doença do refluxo gastroesofágico, diabetes e doença renal terminal. “Portanto, o primeiro passo para um tratamento bem-sucedido é que os médicos reconheçam a condição e não descartem o paciente como apenas histérico ou algo assim,” diz Greger.

SII: Necessidade terapêutica não satisfeita

Embora muitas pessoas não discutam de forma voluntária seus hábitos intestinais com seus médicos, Greger observa que outra razão pela qual as pessoas podem não procurar tratamento médico é a falta de opções eficazes dos médicos da medicina ocidental. Não há cura para a SII. As únicas opções farmacêuticas disponíveis são medicamentos que reduzem os sintomas.

No entanto, como observa Greger, os medicamentos utilizados para tratar a SII possuem efeitos colaterais significativos. Drogas antiespasmódicas podem causar tontura, confusão, visão turva, aumento do risco de queda e boca seca. Outros medicamentos no mercado utilizados para tratar a SII incluem:

• Laxantes — A SII pode causar constipação, para a qual alguns médicos prescrevem laxantes na forma de estimulantes como Dulcolax, leite de magnésia e medicamentos osmóticos como Miralax. Apenas o Miralax, também conhecido como polietileno glicol 3350, foi avaliado em ensaios clínicos para SII.

Embora o Miralax melhore a textura e a frequência das fezes, ele não ajuda a dor ou o desconforto e muitas pessoas relatam um aumento desses sintomas abdominais. Os efeitos colaterais do Miralax incluem aqueles associados à SII como diarreia, cólicas, inchaço e náusea.

• Antidiarréico — Esses medicamentos retardam o tempo de trânsito no trato GI e incluem a loperamida (Imodium), que está disponível sem receita. Os efeitos colaterais incluem dor abdominal e constipação severa.
• Secretagogos/Agentes prosecretórios —Essa classe de medicamento aumenta a secreção de fluidos e o movimento no trato gastrointestinal. A lubiprostona (Amitiza), hoje em dia aprovada apenas para mulheres, ativa os canais de cloreto e pode levar a náuseas e diarréia. Linaclotide (Linzess) e Plecanatide (Trulance) aumentam o movimento do intestino e o efeito colateral mais comum é a diarréia.
• Retenagogos — Esses medicamentos bloqueiam a absorção de sódio no trato GI, o que aumenta a retenção de água nos intestinos, acelerando assim o tempo de trânsito. O primeiro medicamento aprovado para uso nos EUA nessa classe foi o Tenapanor (Ibsrela), que se tornou disponível para venda em abril de 2022. Como a SII, os efeitos colaterais mais comuns incluem gases, diarreia, tontura e sensação de pressão no abdômen.

Outros medicamentos utilizados incluem antidepressivos tricíclicos e inibidores seletivos da recaptação da serotonina. Ambas as classes de medicamentos vêm com uma longa lista de efeitos colaterais, incluindo, como observa Gregor, disfunção sexual em mais de 70% das pessoas que consomem Prozac, Celexa ou Paxil.

Além dos efeitos colaterais, muitos desses medicamentos também são caros. Por exemplo, a lubiprostona pode custar de US$186,60 a US$374,28 por mês, de acordo com a WellRx. Um suprimento de tenapanor para um mês pode custar US$1.801.

Hortelã-pimenta pode acalmar os sintomas da SII

A Fundação Internacional para Distúrbios Gastrointestinais lista a hortelã-pimenta como uma opção de tratamento, pois atua como antiespasmódico causando relaxamento da musculatura lisa com propriedades anti-inflamatórias e anti serotoninérgicas. Uma revisão sistemática de 2014 e uma metanálise da literatura apoiam essa conclusão.

O estudo avaliou 726 participantes em nove estudos e descobriu que o óleo de hortelã-pimenta era “... de forma significativa superior ao placebo para melhora global dos sintomas da SII... e melhora da dor abdominal.”

Como observa Greger, houve poucos eventos adversos nesse estudo e a maioria foi leve e transitória. Eles incluíram azia, boca seca, gosto ou cheiro de hortelã-pimenta, erupção cutânea, dor de cabeça, aumento do apetite e sensação de frio ao redor da área perianal.

Quando os pesquisadores analisaram estudos que comparavam a hortelã-pimenta com os medicamentos, os efeitos colaterais da medicação eram tão insuportáveis para alguns participantes que eles desistiram do estudo, sugerindo que pode ser razoável para os médicos considerarem o óleo de hortelã-pimenta como um antiespasmódico melhor tolerado em pacientes com SII.

O mentol é um constituinte do óleo de hortelã-pimenta e ambos demonstraram relaxar os músculos liso e cardíaco. Os dados demonstram que o óleo de hortelã-pimenta e o mentol possuem propriedades bloqueadoras dos canais de cálcio que podem contribuir para o relaxamento da musculatura lisa, o que pode explicar o efeito antiespasmódico em pessoas com SII.

Uma meta-análise de 2019 de dados clínicos agrupados extraídos de vários bancos de dados, incluindo Cochrane Central Register of Controlled Trials e ClinicalTrials.gov, avaliou 12 ensaios com 835 participantes no total. Segundo os pesquisadores:

“O número necessário para tratar com PO [óleo de hortelã-pimenta] para evitar que um paciente tenha sintomas persistentes foi três para sintomas globais e quatro para dor abdominal. Na meta-análise mais abrangente até o momento, PO demonstrou ser uma terapia segura e eficaz para dor e sintomas globais em adultos com SII.”

Para colocar essa medição em perspectiva, as estatinas foram um dos medicamentos mais prescritos em 2018 e o Lipitor (atorvastatina) foi o medicamento nº 1 prescrito em novembro de 2021. Quando medindo o número necessário para tratar (NNT) para remédios com estatina, os dados revelam que 217 pessoas devem ingerir ele por uma pessoa para evitar um ataque cardíaco não fatal, enquanto 1 em cada 21 terá danos musculares.

Dito de outra forma, 0,5% evitará um ataque cardíaco não fatal e 4,8% sentirá dor por lesão muscular. No estudo, quando as estatinas foram dadas por cinco anos em pessoas com doença cardíaca conhecida, 1 em cada 83 pessoas foi ajudada. Quando os dados são expressos em porcentagem, 96% não viram nenhum benefício, 2% desenvolveram diabetes e 10% sofreram danos musculares.

O bioestatístico George Tomlinson, da Universidade de Toronto, é um especialista em números necessários para tratar. StatNews relatou que, em um artigo de 2006, Tomlinson e seus colegas concluíram que “um NNT de cinco ou menos estava associado a um benefício significativo para a saúde”, enquanto “um NNT de 15 ou mais estava associado a no máximo um pequeno benefício líquido para a saúde.”

A hortelã-pimenta afeta as condições gastrointestinais e muito mais

O óleo de hortelã-pimenta é utilizado na aromaterapia, a prática de utilizar óleos essenciais para apoiar a saúde, onde pode ser eficaz no alívio da dor e neuralgia, náusea e na melhoria da memória e aumento do estado de alerta. Os dados também mostram que o óleo de hortelã-pimenta exibe propriedades antivirais, antimicrobianas, antifúngicas, antioxidantes, analgésicas, radioprotetoras e anti-edema e pode:

Efeitos colaterais do uso do óleo de hortelã-pimenta

Greger reconhece a necessidade de os médicos terem tratamentos eficazes que não tenham custos proibitivos e não tenham uma longa lista de efeitos colaterais.

“Nós, médicos, precisamos de tratamentos eficazes, baratos, seguros e disponíveis. Isso é relevante agora, pois medicamentos mais novos e caros falharam em funcionar ou foram retirados do mercado devido a preocupações com eventos adversos graves.

Assim como pode ser uma boa ideia consumir apenas alimentos com ingredientes que você pode pronunciar, pode ser melhor experimentar um pouco de hortelã antes de novas abordagens farmacológicas como a nova droga dupla agonista-antagonista mu-opióide com um nome como JNJ-27018966.”

A maioria dos adultos pode ingerir óleo de hortelã-pimenta em pequenas quantidades, mas pode desencadear efeitos colaterais em pessoas com sensibilidade. É importante que as pessoas com as seguintes condições evite utilizar esse óleo essencial ou usá-lo com cuidado apenas com a ajuda de um profissional de saúde:

Se você estiver com insônia ou outros distúrbios do sono, considere testar a hortelã-pimenta. A pesquisa não é conclusiva, pois mostrou que a hortelã-pimenta pode interferir no sono. Por outro lado, também melhorou a qualidade do sono em pacientes cardíacos. Embora a hortelã-pimenta ofereça benefícios profundos, recomendo falar com um profissional de saúde antes de usá-la para aplicações terapêuticas.

A hortelã-pimenta pode desencadear efeitos colaterais em pessoas que incluem reações como erupções cutâneas, diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial sistólica, azia e dor de cabeça. Quando ingerido em grandes doses, pode levar a convulsões, interação com medicamentos prescritos e dores de cabeça intensas.