📝RESUMO DA MATÉRIA
- O colágeno representa cerca de 30% do conteúdo total de proteínas no corpo humano e precisa ser reposto. A carne vermelha não fornecerá aminoácidos suficientes para permitir que você construa um tecido conjuntivo forte
- O colágeno fornece estruturas para seus diversos tecidos, permitindo que eles se estiquem enquanto mantêm a integridade do tecido e é crucial para reparar tecidos moles, músculos e tecido conjuntivo. A gelatina é colágeno cozido, o que a faz mais digerível e fácil de absorver
- O colágeno é rico em glicina, podendo ser útil para todos os tipos de problemas hemorrágicos, incluindo sangramento nasal, sangramento menstrual excessivo, úlceras hemorrágicas, hemorroidas e até derrame
🩺Por Dr. Mercola
O colágeno é responsável por cerca de 30% da proteína total em seu corpo. Uma de suas principais funções é fornecer estrutura e força aos tecidos, como pele, ossos, tendões, ligamentos e cartilagem, permitindo que eles se estiquem enquanto mantêm a integridade do tecido.
Como tal, o colágeno é fundamental no reparo de tecidos moles, músculos e tecido conjuntivo. Os tecidos conjuntivos incluem tendões, ligamentos, cartilagem e fáscia, que tendem a ficar mais fracos e menos elásticos com a idade. As lesões do tecido conjuntivo também são problemáticas porque há muito pouco suprimento de sangue no tecido conjuntivo, retardando a recuperação.
Quase 1/3 dos aminoácidos no colágeno é glicina. O colágeno é rico em aminoácidos como glicina, prolina e hidroxiprolina, responsáveis pela construção da matriz do tecido conjuntivo. Seu corpo utiliza os aminoácidos do colágeno para reabilitar áreas estressadas e locais onde é mais necessário. Outros benefícios para a saúde menos conhecidos do colágeno incluem:
Sono mais profundo devido ao seu conteúdo de glicina |
Dor e rigidez articular, incluindo a dor devido à osteoartrite |
Melhor saúde intestinal e digestão, graças à presença de glicina |
Melhora na pressão e redução de danos cardiovasculares |
Aumento da tolerância à glicose |
Redução da inflamação e danos oxidativos, pois a glicina inibe o
consumo de nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADPH). O NADPH, ou
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato, é usado como um reservatório
redutor de elétrons para reabastecer os seus antioxidantes quando se oxidam |
Diferenças importantes entre colágeno e carne vermelha
A tabela abaixo detalha as proporções entre aminoácidos de gelatina e colágeno com as de carne vermelha (carne bovina). Como você pode observar, a gelatina/colágeno contém muito mais aminoácidos importantes para reconstruir seu tecido conjuntivo do que a carne bovina. Como 1/3 da proteína do seu corpo é colágeno, não faz sentido consumir apenas carne muscular, pois ela não fornecerá aminoácidos suficientes para permitir que você construa um tecido conjuntivo forte.
É importante destacar que o colágeno possui maiores quantidades de aminoácidos específicos com propriedades anti-inflamatórias e outras propriedades curativas, enquanto a carne vermelha é mais rica em aminoácidos que induzem a inflamação. Mais adiante, eu descrevo essas diferenças.
Acredito que ainda é importante consumir proteína animal com mais aminoácidos de cadeia ramificada para estimular mTOR e a síntese de proteína muscular, mas é aconselhável não utilizar apenas isso, pois os aminoácidos vermelho são ricos em proteína animal e demonstraram correlacionar-se de maneira negativa com a longevidade.
O colágeno e a gelatina são muito baixos nesses aminoácidos. É por isso que no meu caso, eu tiro cerca de 1/3 da minha proteína como colágeno ou gelatina. Reduzi minha ingestão de ovos e carne em 50% e substituí a proteína por gelatina e colágeno. Uma das razões pelas quais fiz isso foi baseada na opinião do falecido Ray Peat a respeito da importância de equilibrar esses importantes aminoácidos.
Nossos ancestrais nunca tiveram acesso a gelatina ou produtos de colágeno como fontes de alimento como temos hoje, então eles obtinham seu colágeno consumindo todo o animal, incluindo o tecido conjuntivo. Como a maioria de nós não está fazendo isso hoje, parece importante integrar um pouco de colágeno e gelatina em nossas dietas.
O colágeno é importante para doenças degenerativas
Segundo Peat, que era um biólogo com especialização em fisiologia, o colágeno, sobretudo a forma cozida, que é a gelatina, também ajuda na proteção das células contra o estresse. Ele mostra que os aminoácidos em seu estado livre apresentam diversas funções semelhantes a hormônios.
Por exemplo, durante o estresse, a cisteína e o triptofano são liberados em grandes quantidades e esses aminoácidos possuem efeitos antimetabólitos. Outros aminoácidos atuam como modificadores nervosos, desencadeando excitação ou inibição, enquanto outros, sobretudo a glicina, possuem efeitos protetores das células e anti estresse.
Como tal, muitas doenças degenerativas e inflamatórias podem ser melhoradas com a ingestão de mais alimentos ricos em gelatina. A carne vermelha, por outro lado, apresentam níveis elevados dos aminoácidos antimetabólicos cisteína e triptofano, dos quais você deseja menos se tiver problemas degenerativos e/ou inflamatórios.
Colágeno para prolongar a vida e prevenir doenças
Segundo Peat, os estudos de extensão da vida mostraram que “restringir apenas o triptofano, ou apenas a cisteína, produz uma extensão maior da expectativa de vida do que a alcançada na maioria dos estudos de restrição calórica,” o que é notável. Em seu artigo arquivado “Gelatina, Estresse, Longevidade,” Peat explicou:
“Tanto o triptofano quanto a cisteína inibem a função da tireoide e a produção de energia mitocondrial e apresentam outros efeitos que reduzem a capacidade de suportar o estresse. O triptofano é o precursor da serotonina, que causa inflamação, imunodepressão e em geral as mesmas alterações observadas no envelhecimento.
A histidina é outro aminoácido precursor de um mediador da inflamação, a histamina; a restrição de histidina na dieta também teria um efeito de promoção da longevidade?
Acontece que a gelatina é uma proteína que não contém triptofano e possui apenas pequenas quantidades de cisteína, metionina e histidina. Utilizar a gelatina como uma das principais proteínas dietéticas é uma maneira fácil de restringir os aminoácidos associados a muitos dos problemas do envelhecimento.
Quando as células estão estressadas, elas formam colágeno extra, mas também podem dissolvê-lo, para permitir a remodelação e o crescimento do tecido... Quando o colágeno é quebrado, ele libera fatores que promovem a cicatrização de feridas e suprimem a invasão do tumor. A própria glicina é um dos fatores que promovem a cicatrização de feridas e a inibição do tumor.
Possui uma ampla gama de ações antitumorais, incluindo a inibição da formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), e demonstrou atividade protetora no câncer de fígado e melanoma...
Quando ingerimos proteínas animais de forma tradicional (por exemplo, consumindo sopa de cabeça de peixe, além dos músculos, ou 'queijo de cabeça,' além de costeletas de porco, e sopa de pés de galinha, além de sobrecoxas), assimilamos um grande quantidade de glicina e gelatina. Este equilíbrio de aminoácidos de todo o animal suporta todos os tipos de processos biológicos, incluindo um crescimento equilibrado dos tecidos e órgãos das crianças.
Quando apenas as carnes musculares são consumidas, o equilíbrio de aminoácidos que entra em nossa corrente sanguínea é o mesmo produzido pelo estresse extremo, quando o excesso de cortisol faz com que nossos músculos sejam quebrados para fornecer energia e material para reparo.
A formação de serotonina é aumentada pelo excesso de triptofano no músculo, e a serotonina estimula a formação de mais cortisol, enquanto o próprio triptofano, com o excesso de cisteína derivada do músculo, suprime a função da tireoide...
A gama de lesões produzidas pelo excesso de triptofano e serotonina parece ser prevenida ou corrigida por um generoso suprimento de glicina. Fibrose, dano dos radicais livres, inflamação, morte celular por depleção de ATP ou sobrecarga de cálcio, dano mitocondrial, diabetes, etc., podem ser prevenidos ou aliviados pela glicina.
Alguns tipos de danos celulares são prevenidos quase tão bem pela alanina e prolina, quanto pela glicina, então o uso de gelatina, ao invés de glicina, é preferível... A gelatina tem sido utilizada com sucesso no tratamento do diabetes por mais de 100 anos. A glicina inibe a lipólise... e isso por si só tornará a insulina mais eficaz e ajudará na prevenção da hiperglicemia. (Uma alimentação rica em gelatina também pode reduzir os triglicerídeos séricos.)
Visto que a lipólise persistente e a resistência à insulina, junto com um estado inflamatório generalizado, estão envolvidos em uma grande variedade de doenças, sobretudo nas doenças degenerativas, é razoável considerar o uso de glicina/gelatina para quase todos os problemas crônicos.”
Qual é a diferença entre gelatina e colágeno?
Embora o colágeno e a gelatina tenham a mesma composição básica de aminoácidos, suas propriedades diferem devido a diferentes processos de fabricação. Resumindo, a gelatina é colágeno cozido, o que a faz mais digerível e fácil de absorver. Isso é importante se você tiver uma digestão comprometida.
O colágeno é feito de ossos de animais, peles, tendões e outros tecidos conjuntivos. O colágeno é extraído através de um tratamento ácido ou alcalino seguido de purificação e não envolve calor. Como a estrutura molecular é maior, o colágeno não se dissolve na água.
Quando o colágeno é aquecido, as ligações moleculares se rompem, resultando em gelatina hidrolisada ou gelatina hidrolisada (outros termos para descrever a gelatina incluem hidrolisado de colágeno ou peptídeos de colágeno). Como as cadeias peptídicas são mais curtas, a gelatina pode ser dissolvida em água, onde forma um gel espesso.
Em termos de benefícios para a saúde, essas diferenças são mínimas, porque quando o colágeno é ingerido, ele é decomposto no trato gastrointestinal em peptídeos mais curtos, iguais aos da gelatina. Como apenas aminoácidos livres podem entrar na corrente sanguínea, o colágeno e a gelatina têm efeitos sistêmicos idênticos, pois sua composição básica é a mesma. Com isso, a gelatina pode ser preferível se tiver úlceras ou outros problemas gastrointestinais.
Tipos de colágeno
Embora 28 tipos diferentes de colágeno tenham sido identificados, a maioria dos suplementos conterá um ou mais de apenas 3 deles, pois compreendem 90% do colágeno em seu corpo.
- Tipo 1 — colágeno encontrado na pele/couro, tendão, escamas e ossos de vacas, porcos, frangos e peixes
- Tipo 2 — formado em cartilagem e derivado de aves
- Tipo 3 — proteína fibrosa encontrada em ossos, tendões, cartilagens e tecidos conjuntivos de vacas, porcos, frangos e peixes
Escolha sua fonte de colágeno com sabedoria
A alimentação tradicional fornecia muito colágeno na forma de caldo feito de pés de galinha cozidos ou ossos de carne bovina. Essas são de longe suas melhores alternativas. Se você decidir utilizar um suplemento de colágeno ou gelatina, aqui estão algumas considerações gerais a serem consideradas ao fazer compras:
- É orgânico e/ou alimentado com capim? — Testes de laboratório revelaram que diversos produtos populares de colágeno e caldo de osso, contêm contaminantes perigosos associados a operações de alimentação animal concentrada (CAFOs), como metais pesados, produtos químicos como butilparabeno e vários medicamentos veterinários, incluindo antibióticos.
Para evitar contaminantes, tenha certeza de que seu suplemento de colágeno seja certificado como “100% orgânico” pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA)23, ou melhor ainda, certificado pela American Grassfed Association (AGA), que possui os padrões mais rigorosos. Isso também se aplica à gelatina, embora possa ser um pouco mais difícil de encontrar e, caso encontre, pode custar cerca de US $ 50 (R$ 239,16).
Parece que o colágeno e a gelatina fornecem perfis de proteína idênticos e benefícios biológicos. O colágeno tem a vantagem de estar disponível em opções orgânicas acessíveis. A gelatina pode ser utilizada para melhorar a textura e a saciedade dos alimentos. Então, ambos podem melhorar sua saúde; você só precisa escolher aquele que funciona melhor.
- De qual matéria-prima é feito? — O colágeno não orgânico é quase sempre feito de couros bovinos hidrolisados, não de ossos bovinos. Quando feito de couro bovino, até mesmo a certificação orgânica torna-se questionável, pois os couros, orgânicos ou não, ainda são sobras da indústria de curtumes e passaram por intenso processamento com produtos químicos agressivos.
Couros crus e recém-retirados chegam ao curtume em paletes grandes, onde podem ficar apodrecendo por semanas antes de serem processados. Mesmo salgados, eles não são 100% preservados, e o cheiro é insuportável. O processo de curtume em si em geral envolve um banho de ácido e processamento com produtos químicos agressivos, como ácido sulfúrico ou sais de cromo.
Couros com cicatrizes e imperfeições são descartados após o processamento, e esses rejeitos são usados para fazer suplementos de colágeno à base de couro bovino.
As sobras já processadas passam por um processamento adicional para dissolver a pele e liberar os peptídeos de colágeno. Sendo assim, é claro... A pele crua original pode até ter sido proveniente de uma vaca cultivada e terminada no pasto, mas depois de todo esse processamento químico, quão orgânico é o produto final?
Enquanto minha preferência pessoal costumava ser colágeno orgânico alimentado com capim feito de ossos de boi (não couro), agora estou mais inclinado para a gelatina em pó, pois é digerida de maneira mais fácil.
Com isso, ainda acredito que a abordagem natural é a melhor. Fazer caldo de osso caseiro com ossos e tecido conjuntivo de animais alimentados com capim e criados de maneira orgânica não é muito complicado e produzirá os melhores resultados. Caso prefira caldo de galinha, considere utilizar pés de frango orgânicos. As garras são de certo modo ricas em colágeno.
E, para reforçar, consumir carne muscular não fornecerá os importantes aminoácidos necessários para a construção do colágeno. Considerando que cerca de 1/3 das proteínas em seu corpo são colágeno, faz sentido garantir que você esteja recebendo colágeno/gelatina suficiente.
Cuidado: O Jell-O não contém gelatina
Finalizando, NÃO cometa o erro de consumir “gelatina” da marca Jell-O. Por incrível que pareça, os copinhos de gelatina prontos para consumo não contêm gelatina. Em vez disso, eles estão utilizando carragenina, que pode induzir inflamação e contribuir para uma ampla variedade de doenças crônicas. Também pode causar efeitos colaterais digestivos.
A gelatina em pó contém gelatina, mas o açúcar é o ingrediente número 1, além de conter corantes alimentares e conservantes com segurança questionável. O que você procura é uma gelatina pura em pó sem açúcar e outros aditivos.
🔍Recursos e Referências
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- ConsumerLab, October 4, 2019
- Consumer Wellness Center October 5, 2017
- Bonebroth.news October 5, 2017
- USDA.gov, USDA Organic
- T Health, 10 Chicken Feet Health Benefits August 6, 2015
- Amazon Jell-O
- MedicineNet Carrageenan
- MedicalNewsToday September 19, 2018
- Amazon Jell-O Powder