📝RESUMO DA MATÉRIA
- No ano de 2021, a diabetes estava entre as 10 principais causas de morte e invalidez no mundo, com 529 milhões de casos e uma prevalência de 6,1%.
- Porém, projeta-se que, até o ano de 2050, os casos de diabetes em todo mundo dobrem, chegando a mais de 1,31 bilhões.
- A taxa de prevalência da doença em cerca de metade dos 204 países que foram contemplados pelo estudo deve superar 10%.
- A maioria esmagadora dos casos globais de diabetes, 96% para ser exato, são do tipo 2. Essa forma da doença é responsável por 52.2% das ocorrências de morte e invalidez, sendo o alto índice de massa corporal o maior fator de risco.
- A análise sistemática concluiu que a obesidade é o principal fator para o aumento dos casos de diabetes em todo mundo
🩺Por Dr. Mercola
Uma equipe de cientistas do Health Metrics and Evaluation (IHME) da Faculdade de Medicina University of Washington afirma que, em 2021, a prevalência da doença era de 6.1%, com 529 milhões de casos, o que a tornava uma das 10 maiores causas de morte e invalidez no mundo.1 A estimativa é que mais de 1.31 bilhões de pessoas tenham a doença até 2050.
A ocorrência de diabetes em locais como África e Oriente Médio pode alcançar 16.8%, um grande salto dos 9.3% no ano de 2021, revela a análise sistemática feita no estudo do Global Burden of Diseases. Também projeta-se que a prevalência da doença supere 10% em cerca de metade dos 204 países que foram incluídos no estudo.
A diabetes tipo 2 responde por 96% dessa estatística
A maioria esmagadora dos casos globais de diabetes, 96% para ser exato, são do tipo 2. Essa forma da doença é responsável por 52.2% das ocorrências de morte e invalidez, sendo o alto índice de massa corporal o maior fator de risco. Confira os principais e mais comuns fatores de risco:
- Riscos ocupacionais e ambientais
- Consumo de tabaco
- Baixo nível de atividade física
- Consumo de álcool
O risco também é maior para pessoas com 65 anos ou mais. A prevalência desse grupo etário supera 20% em todo globo, e pode chegar a 24.4% entre indivíduos entre 75 e 79 anos de idade. O corte regional mostra que Na Europa Central, Europa Oriental e Ásia Central, a taxa de ocorrência em pacientes com mais de 65 anos é de 19,8%, uma diferença gritante para os 39.4% do Norte da África e Oriente médio.
As ocorrências de diabetes devem aumentar em todos os países do globo, segundo o estudo financiado pelo Bill & Melinda Gates Foundation. A projeção é que a diabetes afete 11.3% de toda a população da América Latina e Caribe até o ano de 2050.A autora e líder do estudo, Liane Ong do IHME, diz:
"Considerando que essa doença também aumenta os riscos de derrame e doença isquêmica do coração, o rápido aumento dos casos de diabetes não é só alarmante, mas deve ser um grande desafio para todos os sistemas de saúde do mundo.
Prevenir e controlar o diabetes é muito complexo devido a vários fatores, por mais que a crença geral seja de que a diabetes tipo 2 esteja apenas associada à obesidade, dieta inadequada e falta de exercícios. Em países de renda média e baixa, sobretudo, há barreiras logísticas, financeiras e sociais ligadas a estrutura do país, bem como a genética do paciente."
Todos os 16 fatores de risco a seguir foram estudados pela equipe e todos foram associados ao diabetes tipo 2:
Poluição por partículas no ambiente |
Poluição causada por combustíveis sólidos |
Tabagismo |
Tabagismo passivo |
Alto consumo de álcool |
Alto índice de massa corporal (IMC) |
Pouco consumo de frutas na dieta |
Pouco consumo de vegetais na dieta |
Dieta pobre em grãos integrais |
Alto consumo de carne vermelha |
Alto consumo de carnes processadas |
Alto consumo de bebidas açucaradas |
Baixa ingestão de fibras |
Baixo nível de atividade física |
Altas temperatura |
Baixa temperatura |
Parece que disparidades por todos os cantos do mundo podem estar causando uma elevação desproporcional do número de casos, apontam os pesquisadores. Lauryn Stafford, pós-bacharelado pelo IHME e autora do estudo, explica:
A abordagem que envolve focar em um ou dois fatores de risco não leva em conta as condições dos locais onde as pessoas nascem e vivem, que criam disparidades por todo o mundo. Ainda assim, essa é a abordagem escolhida por algumas pessoas. A própria triagem, tratamento e disponibilidade dos serviços são afetados por essas desigualdades.
A diabetes tem impactado populações inteiras a nível granular, e é exatamente por isso que se faz necessária uma visão mais ampla do problema.
Com o aumento da obesidade, sobem também os casos de diabetes
A diabetes tipo 2 é comumente causada por questões relacionadas ao estilo de vida, o que é muito diferente do quadro apresentado pela diabetes tipo 1, que é causada por uma infeção autoimune na qual o corpo destrói células produtoras de insulina no pâncreas, conhecidas como células beta.
Um estudo do The Lancet associou o aumento dos casos de diabetes e o aumento da obesidade global, embora vários outros fatores estejam envolvidos:
"Amplamente evitável e até mesmo reversível em caso de diagnóstico e tratamento precoce, a diabetes tipo 2 compõe a maioria esmagadora dos casos da doença. Porém, sobretudo por conta do aumento da obesidade causada por vários fatores, todas as evidências apontam para o aumento da obesidade como principal causa."
Os principais contribuintes para a obesidade e, por sua vez, a diabetes, são a "maior disponibilidade de produtos com alto teor calórico nos supermercados", "aumento do consumo de alimentos ultraprocessados" e "acesso financeiro e proximal limitados a alimentos saudáveis." Possivelmente por conta das tentativas de Gates de popularizar produtos de carne falsa, eles alertaram para o aumento da ingestão de produtos de origem animal.
A equipe continua: "embora a obesidade seja tratável e reversível na teoria e tratá-la possa ser a melhor oportunidade de limitar o avanço da diabetes", ... "Não há ainda programa que tenha reduzido e mantido reduções de longo prazo da obesidade em nível populacional".
Eles focam, em vez disso, nas cinco metas que a Organização Mundial da Saúde descreve no Global Diabetes Compact e sustentam que uma "abordagem multifacetada e de longo prazo na política, agências reguladoras, autoridades de saúde pública, educadores e na comunidade médica" será necessária para que haja mudanças reais. Existem estratégias diretas e simples que podem auxiliar muito na diabetes tipo 2 e obesidade, embora ambos possam ser problemas complexos.
Evitar estatinas - as estatinas podem dobrar o risco de diabetes
Apenas nos Estados Unidos, tomar estatinas tem sido a estratégia de 40 milhões de adultos que acreditam que baixar o colesterol reduzirá o risco de doenças cardíacas.Embora esses remédios aumentem o risco dessa condição, são recomendados para adultos com diabetes.
Pesquisadores da Ohio State University descobriram que pacientes que tomaram estatinas durante o estudo eram duas vezes mais propensos a um diagnóstico de diabetes, quando comparados ao grupo de controle. Os resultados contabilizaram fatores como idade, sexo, etnia, índice de massa corporal e educação.
Pessoas que usavam estatinas por dois anos ou mais exibiram uma chance dobrada de contrair diabetes.Além disso, dados também confirmaram que aqueles que tomaram estatinas aumentaram em 6.5% seu risco de ter o açúcar no sangue elevado, medido pelos níveis de hemoglobina A1c. As estatinas esgotam o corpo da coenzima Q10 (CoQ10), além de inibir a síntese da vitamina K2, então cuidado ao tomar esse medicamento.
Isso também está associado com a diabetes. Pesquisadores canadenses anunciaram em um artigo de maio de 2023, a descoberta da capacidade protetora da vitamina K contra a diabetes.Foi determinado em primeira a presença da vitamina K em grandes quantidades em células beta, onde se produz a insulina, e que a vitamina está envolvida na gama-carboxilação. O estudo é de pesquisadores da Universidade de Montreal.
Eles identificaram, utilizando modelos animais, a ação da vitamina K na gama-carboxilação das células beta e como a presença da vitamina pode auxiliar na proteção contra a diabetes. Em um comunicado à imprensa, Julie Lacombe falou sobre o trabalho que conduziu no laboratório:
"Identificamos uma proteína gama-carboxilada chamada ERGP. Evitando um distúrbio na secreção da insulina, nosso estudo demonstrou que a proteína tem uma ação importante nos níveis fisiológicos de cálcio das células beta. Nosso estudo também mostrou que, por meio da gama-carboxilação, a vitamina K é essencial para que o ERGP funcione corretamente".
É a primeira vez em 15 anos que identificam uma nova proteína dependente da vitamina K, salientam os pesquisadores. Isso pode identificar a forma pela qual as estatinas estão contribuindo para a diabetes e também cria um novo curso de pesquisa sobre a vitamina K e seu papel no corpo, bem como sua ação terapêutica sobre a doença.
Diabetes tipo 2 e sua ligação com a deficiência de magnésio
Acredita-se que mais da metade da população dos Estados Unidos não consome magnésio suficiente.Os minerais, antes mais nada, atuam como cofatores para as enzimas, mas isso é só o começo.
A deficiência de magnésio foi observada em 75% dos diabéticos tipo 2 mal controlados, mostrando que esses pacientes tendem a ter baixos níveis de magnésio no corpo.Ao prejudicar a capacidade do corpo de regular o açúcar no sangue, o que é essencial para a prevenção da diabetes tipo 2, os baixos níveis de magnésio têm sido vinculados ao aumento do risco de resistência à insulina.
Em um estudo, quando comparados a um grupo de menor ingestão, pré-diabéticos com alta ingestão de magnésio reduziram o açúcar no sangue e seus problemas metabólicos em 71%.Altos níveis de insulina no sangue, comuns na resistência à insulina, também causam uma maior perda de magnésio. É preciso apenas de 150 miligramas (mg) a 180 mg por dia para prevenir a deficiência, mas os níveis ideais estão mais próximos do nível de 600 mg/dia.
Embora a maioria das pessoas precise de suplementação, bater verduras em sucos de liquidificador é uma ótima forma de aumentar a ingestão, já que vegetais verde-escuros são uma ótima fonte de magnésio. O treonato de magnésio é minha preferência pessoal em matéria de suplementação oral, dada sua eficiência em penetrar nas membranas celulares, na barreira hematoencefálica e nas mitocôndrias.
Não é só o que você come que faz diferença, mas quando come
A obesidade e a diabetes tipo 2 estão sendo principalmente causadas por dietas ricas em alimentos ultraprocessados, com seus óleos de sementes chamados erroneamente de "óleos vegetais".
Ainda assim, óleos de sementes ainda seguem sendo recomendados "como parte de uma dieta saudável e equilibrada" pela American Diabetes Association.Ricos em ácido linoleico ômega-6, esses óleos são comuns em carnes falsas. O ácido linoleico não é digerido, e essa é uma informação que deve ficar na sua memória. Enquanto a gordura saturada é queimada ou oxidada, ele é armazenado.
A melhor forma de controlar os níveis de glicose é consumir uma dieta saudável, equilibrada, com frutas e vegetais frescos e orgânicos. Também é importante evitar adoçantes artificiais, que estão associados à diabetes tipo 2. Também é importante prestar atenção ao horário das refeições.
Uma intervenção simples e poderosa na prevenção da diabetes tipo 2 e na perda de peso é a alimentação com restrição de tempo (ART). Essa prática restaura o corpo a um estado mais natural imitando os hábitos alimentares dos nossos ancestrais, o que permite que ocorram vários benefícios metabólicos.A ART, segundo a pesquisa demonstra, melhora o controle do açúcar no sangue, promove a sensibilidade à insulina e aumenta os níveis de captação geral da glicose medida pela insulina, todos marcadores importantes para tratar a diabetes tipo 2.
Eu recomendo a limitação da janela de alimentação para seis a oito horas ao dia a todos que são obesos ou estão em sobrepeso. Normalmente, a janela de alimentação das pessoas é de 12 horas. Muitas pessoas podem evitar e até reverter a diabetes tipo 2 com essa estratégia e a redução da ingestão de LA. Ficará ainda mais fácil proteger sua saúde metabólica e evitar a diabetes caso você se comprometa com outras estratégias de saúde, como fazer exercícios regulares e evitar a luz à noite.
🔍Recursos e Referências
- IHME June 22, 2023
- The Lancet June 22, 2023, Findings
- Gizmodo June 23, 2023
- The Lancet June 22, 2023, Methods
- The Lancet June 22, 2023, Interpretation
- The Lancet June 22, 2023, Discussion
- Endocrinology, Volume 161, Issue 2, February 2020, bqz044, doi: 10.1210/endocr/bqz044
- Science Daily, January 17, 2020
- American Heart Association January 6, 2020
- BMJ Evidence-Based Medicine August 4, 2020 DOI: 10.1136/bmjebm-2020-111413
- Journal of Pharmacology and Pharmacotherapeutics, 2014;5(3):181
- Medical News Today, June 26, 2019
- Cell Reports, 2023; 42(5)
- NewsWise, May 18, 2023
- Oregon State University, Micronutrient Inadequacies, Magnesium
- Open Heart 2018;5:e000668, Magnesium deficiency
- Nutrition Reviews 2012;70(3):153-64
- Nutrients September 27, 2013
- Diabetic Medicine 1995; 12(8):664-669
- American Diabetes Association, Fats, Monounsaturated fat
- Haidut.me October 22, 2019
- WHO April 12, 2022
- Science November 16, 2018; 362(6416): 770-775
- Sleep, 2023, 46(3)