📝RESUMO DA MATÉRIA
- Estima-se que 90% da população dos EUA seja deficiente em colina. Por isso, aumentar esse precursor da acetilcolina, pode ser uma parte importante no alívio das dores
- Pesquisadores da Universidade de Chicago revelaram que mesmo em animais tolerantes aos opioides, um receptor de acetilcolina levou a efeitos de alívio da dor em camundongos
- Não houve aumento de tolerância ou sintomas de abstinência quando o tratamento foi interrompido, porque a via não ativou o sistema de recompensa do cérebro, portanto há poucas chances de dependência
- A colina pode estar envolvida no desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), aterosclerose e distúrbios neurológicos. Ela desempenha um papel significativo na saúde humana, desde a síntese de neurotransmissores até às estruturas celulares
- Excelentes fontes de colina são o óleo de krill e os ovos, especialmente as gemas
🩺Por Dr. Mercola
Para aliviar a dor sem envolver drogas perigosas, como os opioides, o neurotransmissor acetilcolina pode ser um caminho inexplorado. Pesquisadores da Universidade de Chicago revelaram que mesmo em animais tolerantes aos opioides, um receptor de acetilcolina levou a efeitos de alívio da dor em camundongos.
O alívio da dor proporcionado pela colina é poderoso o suficiente para rivalizar com opioides, e sem os efeitos colaterais. Não houve aumento de tolerância ou sintomas de abstinência quando o tratamento foi interrompido, porque a via não ativou o sistema de recompensa do cérebro, portanto há poucas chances de dependência.
Estima-se que 90% da população dos EUA seja deficiente em colina. Por isso, aumentar esse precursor da acetilcolina, pode ser uma parte importante no alívio das dores.
Como a acetilcolina poderia aliviar a dor?
A acetilcolina excita as células nervosas, fazendo com que enviem uma mensagem, por ser um neurotransmissor excitatório. Um estudo de 2011 revelou que a acetilcolina aumentou a atividade dos neurônios inibidos pela dor na região cornu ammonis do hipocampo e diminuiu a atividade dos neurônios excitados pela dor.
Uma área do cérebro chamada substância cinzenta periaquedutal ventrolateral (vlPAG), um “nexo crítico” para sistemas envolvidos no controle da dor, foi objeto específico do estudo da Universidade de Chicago.
Direcionar o alfa-7 (⍺7), um receptor de acetilcolina no vIPAG, aliviou a dor segundo um estudo feito em 2017, cujo autor sênior do estudo foi Daniel McGehee, Ph.D. e seus colegas. Quando foi estimulado no estudo, este receptor levou a um estado de silêncio que resultou no alívio da dor durante várias horas, embora ele normalmente aumente a atividade do sistema nervoso. McGehee disse em um comunicado à imprensa da Universidade de Chicago:
“Esse foi um resultado extremamente inesperado e enorme. Não estávamos esperando a inibição persistente. Para mim, sempre foi um enigma, mas vimos que há recrutamento de outra via de sinalização que está causando o desligamento dessas células e alterando a função dos canais de potássio."
O receptor de acetilcolina, felizmente, envolve um caminho diferente dos opioides. Assim, foram observados os mesmos efeitos de alívio da dor, quando a equipe aumentou a acetilcolina em camundongos tolerantes aos opioides. O autor do estudo, Shivang Sullere, Ph.D. explica:
“Essas células refletem com precisão o estado de dor do organismo, e não apenas aliviam. Podemos monitorar de forma reprodutível a acetilcolina no vlPAG e esses neurônios, por meio de métodos de imagem. Assim, conseguimos um biomarcador excepcional para o estado de dor de um organismo.
O potencial envolvimento nos processos de sensibilização central que contribuem para o desenvolvimento de condições de dor crônica é apontado por este papel inexplorado da acetilcolina. Tanto para aliviar a dor, quanto para prevenir o estabelecimento de dor crônica, a modificação da sinalização de acetilcolina oferece uma oportunidade.”
Você precisa de colina?
A colina tem um grande impacto no desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica ( DHGNA), aterosclerose e distúrbios neurológicos, ela desempenha um papel significativo na saúde humana, desde a síntese de neurotransmissores até as estruturas celulares. Ela foi oficialmente identificada em 1862 e reconhecida como nutriente essencial pelo Instituto de Medicina em 1998.
A Colina pode ajudar a reduzir o risco de defeitos do tubo neural e apoia a evolução saudável do cérebro durante o desenvolvimento. Isso também é importante em adultos mais velhos. Incluindo esteatose hepática e danos musculares, 77% dos homens e 80% das mulheres na pós-menopausa privados de colina na dieta, em um estudo, desenvolveram sinais de disfunção orgânica subclínica. Quando os participantes consumiram uma dieta rica em colina, a disfunção foi resolvida.
A colina que seu corpo produz não é suficiente para atender às necessidades humanas, embora seu fígado a produza. E já que ambas são doadoras de metila, há também uma relação entre as deficiências de colina e folato. Cria-se uma maior insuficiência ou deficiência do nutriente quando a dieta é deficiente em folato e a colina torna-se o principal doador de metila.
A colina aumenta a liberação de acetilcolina, como seu precursor. Ela desempenha muitas funções no corpo, incluindo ritmo circadiano, memória e controle muscular. Outras funções importantes da colina no corpo incluem:
- Incluindo fosfatidilcolina e esfingomielina, síntese de fosfolipídios necessários para as membranas celulares
- Modulando a expressão do gene
- Sinalizando a membrana celular
- Transporte e metabolismo de gordura — Uma deficiência de colina pode resultar em excesso de gordura e acúmulo de colesterol, porque a colina é necessária para transportar o colesterol do fígado
- Desenvolvimento inicial do cérebro
Através da conversão da homocisteína em metionina, a colina também pode ajudar a prevenir doenças cardiovasculares. O risco de derrame e doenças cardíacas pode ser aumentado pelo acúmulo do aminoácido homocisteína no sangue. A colina também é essencial para a saúde mental, bem como para a função mitocondrial. A DHGNA pode ser causada pela deficiência de colina que faz com que quantidades anormais de gordura se depositem no fígado.
Além disso, enquanto a alta ingestão de colina está associada a um melhor desempenho cognitivo, a baixa ingestão de colina está associada ao aumento da ansiedade. Entretanto, o risco de câncer de mama pode ser reduzido em 24% entre as mulheres que seguem uma dieta rica em colina e a deficiência de colina está associada a danos no DNA e à apoptose. O Azheimer também está ligado a níveis baixos de acetilcolina. Conforme o Instituto Nacional de Saúde:
“A doença de Alzheimer é frequentemente tratada aumentando os níveis de acetilcolina ou prevenindo sua degradação, pois os neurônios colinérgicos usam o neurotransmissor acetilcolina.”
Tem grandes chances de você ter deficiência de colina
Apenas 8% dos adultos (incluindo apenas 8,5% das mulheres grávidas) recebem o suficiente diariamente, de acordo com um estudo publicado na revista Nutrients. E estima-se que 90% das pessoas tenham deficiência de colina. Dependendo da sua idade, sexo, se você está grávida ou amamentando, etc., a quantidade de colina que você precisa muda. Geralmente, a ingestão recomendada é 550 mg/dia para homens e 425 miligramas (mg) por dia para mulheres.
Algumas pessoas têm polimorfismos genéticos que aumentam a necessidade de colina, e mulheres grávidas e lactantes necessitam de mais colina — de 450 mg a 550 mg por dia. Dependendo do grupo étnico ou racial, há maior probabilidade de serem afetados. Alguns grupos com risco particularmente alto para deficiência de colina, além de grávidas e lactantes, incluem:
- Atletas de resistência — Os níveis de colina podem se esgotar com exercícios de resistência, como maratonas e triathlon. Para evitar que os níveis de colina no sangue fiquem muito baixos, a suplementação com colina antes desses tipos de exercícios estressantes pode ajudar, conforme demonstram estudos.
- Pessoas que bebem muito álcool -O consumo excessivo de álcool pode, ao mesmo tempo, aumentar o risco de deficiência e aumentar a necessidade de mais colina.
- Mulheres na pós-menopausa — O risco de disfunção de órgãos em resposta a uma alimentação com baixo teor de colina aumentam na pós-menopausa, por conta da baixa concentração de estrogênio.
- Vegetarianos e veganos — A maiores fontes de colina na dieta são alimentos de origem animal, como fígado bovino, ovos e óleo de krill. Pode ser mais difícil obter uma quantidade adequada do nutriente apenas através da dieta, como os vegetarianos e veganos têm restrições alimentares que eliminam alguns ou todos estes alimentos ricos em colina.
Quais são as melhores fontes de colina?
Uma excelente fonte de colina são os ovos, principalmente a gema. Em comparação com apenas 2,4% das pessoas que não consumiram ovos, mais de 57,3% atingiram os níveis adequados de ingestão de colina entre os consumidores de ovos.
Na verdade, a menos que você coma ovos ou tome um suplemento dietético, os pesquisadores concluíram que é "muito difícil" ingerir colina suficiente. A colina também pode ser encontrada em:
Entretanto, o óleo de krill pode ser uma fonte ideal de colina. O óleo de krill possui um componente crítico das membranas celulares humanas. Ele contém 69 fosfolipídios contendo colina para sintetizar fosfatidilcolina. Como se estima que 60% da colina em sais orgânicos seja perdida quando as bactérias intestinais a convertem no metabólito trimetilamina (TMA), isso é fundamental para o seu papel como fonte de colina.
O TMA pode ser transformado então em N-óxido de trimetilamina (TMAO) pelas enzimas, sendo o TMAO um potencial biomarcador para problemas cardíacos e resistência à insulina. Mas, ao contrário do óleo de peixe, que os contém na forma de triglicerídeos, o óleo de krill contém ácidos graxos na forma de fosfatidilcolina (PC).
Foi demonstrado, que 28 dias de suplementação com óleo de krill aumentaram os níveis de colina em adultos jovens saudáveis. E conforme observado pelos pesquisadores, “a colina na forma de PC é consideravelmente menos convertida em TMA, como demonstrado em um estudo de dose única com óleo de krill, resultando potencialmente em uma entrega mais eficiente de colina”.
Além disso, num estudo comparando a fosfatidilcolina, presente no óleo de krill, e o sal bitartarato de colina, descobriu-se que juntamente com níveis mais baixos de TMAO, o que pode levar a problemas de saúde, em comparação com a outra fonte de colina, o óleo de krill conduzia a níveis mais elevados dos importantes metabolitos betaína e dimetilglicina (DMG). Os pesquisadores explicaram:
“O óleo de krill é cada vez mais reconhecido como uma excelente fonte de fosfatidilcolina, além de seu conhecido papel no fornecimento de ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA. Em um estudo anterior, a fosfatidilcolina mostrou, em comparação com a ingestão de colina livre, como o cloreto de colina, aumentar os níveis de colina no plasma de forma mais eficiente.”
Mais ajuda para a epidemia de dor
Cerca de 21% dos adultos sofrem de dor crônica, e novos casos tem sido mais comuns do que outras doenças como pressão alta, depressão e diabetes, por exemplo. Recorra a opções naturais se você é uma dessas pessoas, antes de começar a usar medicamentos farmacêuticos.
A causa subjacente da sua dor vai ditar a solução. A dor nas costas, responde bem a massagens, acupuntura, ajustes de quiropraxia e a exercícios, por exemplo. Usar Técnicas de Libertação Emocional também é útil, abordando com frequência o componente emocional da sua dor.
Para diminuir a resposta inflamatória e melhorar a saúde intestinal, além de adicionar mais alimentos ricos em colina à sua dieta, outros alimentos podem apoiar o controle da dor. Para dores lombares, osteoartrite, enxaquecas e dores musculares de início tardio, o gengibre é frequentemente usado como analgésico.
Para reduzir a dor, incluindo aquela associada à artrite reumatoide e à doença inflamatória intestinal, aumentar a ingestão de gorduras ômega-3 de origem animal também pode ajudar. Por outro lado, os alimentos ultraprocessados podem contribuir para dores crônicas, porque causam inflamação. Descobriu-se em estudos com animais que eles aumentam a probabilidade de dores musculares, porque aumentam a excitabilidade dos nervos musculares.
Musicoterapia, hipnoterapia e uso de compressas quentes ou frias são outras opções de alívio natural da dor. Em alguns casos, até fazer mergulhos em água gelada podem trazer um alívio considerável da dor crônica. Falta de sono e a má qualidade do sono estão intimamente ligadas à dor crônica, por isso você vai querer ter um sono regular e de alta qualidade.
Usando uma combinação dessas e de outras estratégias de estilo de vida, muitas vezes, é possível aliviar a dor de forma eficaz. Mas se isso não ajudar, procure um profissional holístico para orientá-lo no caminho da cura. Os opioides nem sempre são necessários para tratar dores moderadas a intensas e devem ser usados como último recurso. O paracetamol e o ibuprofeno também podem funcionar, embora apresentem seu próprio conjunto de riscos.
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