RESUMO DA MATÉRIA
- Em novembro de 2023, uma meta-análise demonstrou que o exercício aeróbico teve eficácia para ajudar a na prevenção e no tratamento contra depressão pós-parto (DPP), que afeta por ano mais de 13 milhões de mulheres no mundo
- Foi observado em 2023 que prevalência da DPP aumentou de 9,4% em 2010 para 19,3% em 2021, o que também pode ser uma subestimativa, já que alguns especialistas acreditam que até 90% dos casos não são tratados
- O PPD compartilha diversos dos sintomas do transtorno depressivo. A principal diferença é que a DPP é em geral diagnosticada 1 ano após o parto da mulher e está associada a um rápido declínio dos hormônios
- Alguns ensaios clínicos demonstraram que a prática de exercício possui um papel muito importante na modulação dos sintomas depressivos, facilitando a recuperação, entre outros. Também modula a disponibilidade de triptofano no cérebro e como o cérebro usa o triptofano para formar serotonina e outras vias que regulam o humor e a emoção
- Segundo a ciência vem demonstrando, o seu corpo é um organismo complexo que responde a diversos estímulos. Outros fatores que afetam a depressão incluem: deficiências vitamínicas e a saúde do seu microbioma intestinal
🩺Por Dr. Mercola
Uma meta-análise publicada na PLOS One, descobriu que o exercício aeróbico mostrou-se eficaz para prevenção e tratamento de depressão pós-parto (DPP). Estima-se que por ano, mais de 13 milhões de mulheres no mundo são diagnosticadas com DPP.
A DPP foi examinada em um estudo de 2023, onde registou uma prevalência estimada em 2010 em 9,4%, que aumentou para 19,3% em 2021. Isto representou um aumento relativo de 105% em 11 anos. Dados mostraram que as disparidades raciais e étnicas nessas taxas eram persistentes, porém os intervalos diminuindo.
A depressão pós-parto é uma condição de saúde mental debilitante ligada a diversos fatores de risco. O DPP compartilha diversos dos sintomas do transtorno depressivo. A principal diferença é que a DPP é em geral diagnosticada 1 ano após o parto da mulher e está associada a um rápido declínio dos hormônios.
Além da queda hormonal, a maioria das mulheres que acabaram de se tornar mães sofrem de problemas para dormir, amamenta, concentra-se na saúde e segurança do bebê e luta com a nova transição para a maternidade. Lidar com sintomas de depressão clínica em um bebê e em outras crianças pode tornar a situação complicada.
A depressão pós-parto é diferente da tristeza infantil, que em geral desaparece nas primeiras duas semanas após o nascimento. A DPP está ligada a sintomas mais graves que persistem durante semanas e às vezes anos após o nascimento. A DPP pode estar ligada a uma mudança nos padrões de sono e alimentação, dificuldade de concentração, ansiedade extrema e sentimentos de inutilidade ou culpa. Esses são alguns dos mesmos sintomas ligados ao transtorno depressivo maior.
Exercício ajuda no combate contra a depressão pós-parto
Uma meta-análise de 2023, analisou 26 estudos, que incluíram 2.867 mulheres que tinham dado à luz ou estavam grávidas. O objetivo era determinar o tipo e o quanto de exercício seria eficaz no combate à DPP.
Os pesquisadores descobriram que o padrão ideal de exercício era cerca de 35 a 45 minutos em intensidade moderada, 3 a 4 vezes por semana. Os resultados demonstraram que a eficácia foi significativa em comparação com o tratamento padrão, que em geral consiste em psicoterapia e medicamentos antidepressivos.
Quando os investigadores analisaram a diferença no efeito na DPP, foi descoberto que as pessoas que participaram em um grupo de exercício supervisionado obtiveram melhor desempenho do que o grupo não supervisionado, além disso foi demonstrado que o grupo de mulheres que se exercitaram juntas superou aquelas que se exercitaram sozinhas.
Existem tratamentos atuais disponíveis na forma de medicamentos e terapia, mas o diagnóstico é muitas vezes esquecido, o que pode indicar que a prevalência de mulheres com DPP também é subestimada. Os pesquisadores observaram que além de níveis mais baixos de depressão e ansiedade, o exercício também ajudam a reduzir a incontinência urinária de esforço, a retenção de peso pós-parto e a perda óssea induzida pela lactação.
Segundo os pesquisadores: “Os principais resultados da meta-análise mostram que, comparado com o grupo de controle com tratamento padrão, o grupo experimental praticando exercícios aeróbicos é mais benéfico para prevenir e tratar a depressão pós-parto.” O desafio é que as novas mães já enfrentam a falta de tempo e de sono.
Incorporar 35 minutos de exercício durante 4 vezes por semana aumenta esse desafio se o exercício não fosse um hábito formado antes da gravidez. Segundo os dados analisados, a eficácia na prevenção da DPP foi significativa em comparação com o tratamento padrão.
Como em quase qualquer outra condição, a prevenção é mais simples, mais barata e menos dolorosa emocional e fisicamente. As mulheres devem consultar seus médicos antes, durante e após a gravidez para garantir que não tenha um impacto negativo em qualquer condição médica subjacente. Consulte seu médico caso esteja apresentando sintomas de depressão para proteger você e seu filho.
Como o exercício pode melhorar o seu humor
Como Ronda Patrick, Ph.D., cientista biomédica e pesquisadora do Salk Institute for Biological Sciences, observa em seu vídeo, houve diversos ensaios clínicos randomizados demonstrando que o exercício é de fato importante na modulação dos sintomas depressivos, facilitando a recuperação.
Patrick também observa que o exercício aumenta a disponibilidade de triptofano no cérebro, onde é utilizado para formar serotonina para regular o humor e a cognição. No entanto, se tratando de estresse crónico, o triptofano também pode ser utilizado na produção de quinurenina, que produz ácido quinolínico, uma neurotoxina.
Quando a enzima que converte o triptofano em quinurenina aumenta com o estresse, aumenta o potencial de depressão. Os dados também mostraram que quando a enzima que converte o triptofano em serotonina é bloqueada, apresenta efeitos devastadores.
O triptofano se transforma em ácido quinolínico no cérebro e não em serotonina quando a pessoa possui estresse crônico. Patrick descreve como o exercício além de aumentar a produção de serotonina a partir do triptofano no cérebro, também afeta a forma como o corpo utiliza a quinurenina, desviando mais dela para produzir ácido cinurênico, que é neuroprotetor.
Sendo assim, o exercício ajuda a direcionar mais triptofano para o cérebro, onde produz serotonina para regular o humor e a cognição e diminui a produção de ácido quinolínico. Existem diversos outros caminhos pelos quais o exercício pode ser fundamental na melhoria do humor e da cognição.
A depressão infantil está associada a níveis baixos das vitaminas D e B12
Segundo a ciência vem demonstrando, o seu corpo é um organismo complexo que responde a diversos estímulos. Uma pesquisa de 2023, mostrou que uma deficiência de vitamina B12 apresentava um maior risco de sintomas de depressão.
Pesquisadores analisaram a relação entre a vitamina B12, o ácido fólico e a incidência de depressão em indivíduos mais velhos que viviam na comunidade. Eles encontraram uma ligação com a deficiência de vitamina B12, mas não com a deficiência de folato. Outros nutrientes também apresentam um efeito significativo na saúde mental, como a vitamina D.
Essa vitamina é um tipo de hormônio produzido pelo nosso corpo, podendo ser absorvida a partir de alguns alimentos, mas é produzida de forma endógena quando a pele é exposta à luz solar. Os cientistas acreditam que a deficiência de vitamina D é um problema de saúde global muito negligenciado que atinge proporções epidêmicas.
Estudos em 2014 e 2018, demonstraram que baixos níveis de vitamina D estão associados à depressão. Vale lembrar que é improvável que a suplementação em pessoas onde os níveis séricos são ótimos influencie os transtornos de humor. Em vez disso, o efeito é mais provável de ser encontrado naqueles cujos níveis séricos são baixos.
O magnésio é fundamental. Os dados demonstraram que o magnésio é fundamental para a aprendizagem, concentração e memória, e apoia a plasticidade do cérebro, que é a capacidade de adaptação aos desafios.
O magnésio é outro nutriente que possui um efeito poderoso na depressão e na ansiedade, tanto que a Psychology Today a chama de “pílula original para relaxar.” Os pesquisadores demonstraram que ele possui um efeito benéfico na percepção subjetiva de ansiedade de um indivíduo e que o magnésio foi eficaz no tratamento da depressão leve a moderada em adultos sem a necessidade de monitoramento de toxicidade, sobre a qual você encontrará mais em "Essa dupla dinâmica pode conter sua ansiedade e depressão? "
Cuide do seu intestino para proteger sua saúde mental
A pesquisa descobriu a importância do seu microbioma intestinal em relação ao desenvolvimento de condições de saúde como obesidade, diabetes, doença de Parkinson e depressão. Sua alimentação é fundamental no suporte de bactérias benéficas no intestino. Além das bactérias, outro fator importante é o estado da mucosa intestinal.
As junções estreitas intercelulares modulam a permeabilidade intestinal e apresentam um papel em doenças crônicas, como a depressão. Eliminar a nutrição que alimenta as bactérias nocivas e aumentar os probióticos e prebióticos é uma maneira de cuidar do seu intestino. Em um estudo realizado em 4 semanas, 21 pessoas com depressão receberam probióticos com os seus antidepressivos e 26 receberam um placebo junto com o seu antidepressivo.
Os pesquisadores mediram amostras de fezes, imagens cerebrais e avaliações de depressão para avaliar os efeitos antes, durante e após a intervenção. Os pesquisadores observaram que aqueles no grupo dos probióticos tiveram melhorias maiores, com uma maior abundância de Lactobacillus benéficos no intestino.
O estudo demonstrou diveros mecanismos pelos quais as bactérias benéficas podem impactar a depressão, inclusive alterando o microbioma intestinal com um aumento favorável de Lactobacillus. Certas cepas de Lactobacillus produzem ácidos graxos de cadeia curta, incluindo acetato, butirato e propionato, que beneficiam a saúde e desempenham um papel na construção da barreira intestinal. Isso o torna menos permeável a microorganismos causadores de doenças, podendo diminuir a resposta inflamatória no corpo.
Os pesquisadores sugeriram que os probióticos “modificam o viés de negatividade no processamento emocional da face e atendem ao principal requisito de um tratamento bem-sucedido na depressão, definido pela alteração dos preconceitos afetivos negativos.”
A principal troca de informações entre o intestino e o cérebro ocorre através do nervo vago, que conecta os 2 órgãos. O intestino também comunica-se com o cérebro através do sistema endócrino pela via do estresse (eixo hipotálamo, hipófise e adrenal) e pela produção neurotransmissores que estimulam o humor, como a serotonina, dopamina e o ácido gama-aminobutírico ou GABA, ajudando a explicar por que a saúde intestinal tem um impacto tão significativo. na sua saúde mental.
O estudo PLOS One demonstrou que o exercício teve um efeito positivo na depressão pós-parto, sobretudo na sua prevenção. Segundo outras pesquisas, a depressão é influenciada por diversos fatores, alguns dos quais são afetados pelos alimentos que você ingere, pelos suplementos consumidos e pela saúde do seu microbioma intestinal.
Exercício, boa alimentação e saúde intestinal são cruciais para a saúde e para a prevenir transtornos de humor. Com as informações corretas, você pode assumir o controle de sua saúde.
🔍Recursos e Referências
- PLOS One, 2023 doi: 10.1371/journal.pone.0287650
- American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2023; 228 (1)
- BabyCenter, February 24, 2022
- Press Rundown, December 1, 2023
- YouTube, August 5, 2019, Minute 2:30
- YouTube, August 5, 2019, Minute 7:24; next para 6:40 & 6:15
- YouTube, August 5, 2019, Minute 7:40
- British Journal of Nutrition, 2023;130(2)
- International Journal of Health Sciences, 2010;4(1)
- Molecular Psychiatry, 2014;19
- British Journal of Psychiatry, 2018;202(2)
- Magnesium Research, 2006;19(3)
- Psychology Today, June 12, 2011
- Frontiers in Immunology, 2019;10 Inflammation and Changes in the Brain, search “tight junction”
- Frontiers in Immunology, 2019;10
- Translational Psychiatry, 2022;12(227)
- The Atlantic, June 24, 2015