📝RESUMO DA MATÉRIA
- Pesquisadores de diferentes países, demonstraram que o inositol pode ser eficaz para a síndrome do ovário policístico, que é uma condição complexa onde os ovários produzem um nível de andrógenos acima do normal
- A real causa não foi identificada. Alguns dos sintomas são: excesso de pelos no corpo, ganho de peso, calvície, marcas na pele e períodos menstruais irregulares. Isso pode provocar infertilidade ou elevar o risco de aborto espontâneo, diabetes gestacional ou pré-eclâmpsia
- Mulheres com essa síndrome costumam ser resistentes à insulina, apresentando um maior risco de diabetes, apneia do sono, câncer de endométrio e hipertensão. A resistência à insulina também está associada à diabetes tipo 2, obesidade, doença de Alzheimer e aceleração da doença no câncer
- Outras estratégias que podem funcionar contra síndrome do ovário policístico incluem a redução da exposição ao PFAS, a suplementação com ashwagandha, vitamina K-2 MK-4 e CoQ10
🩺Por Dr. Mercola
Pesquisadores de diferentes países, demonstraram que o inositol pode ser eficaz para a síndrome do ovário policístico. Pesquisadores observaram que a metformina é um dos melhores “sensibilizador de insulina,” sendo muito utilizado para suavizar a resistência de insulina em mulheres com essa síndrome.
A resistência à insulina é uma condição fisiológica, onde as células não respondem à insulina da maneira correta. O estilo de vida pode contribuir muito para a resistência à insulina, como por exemplo uma dieta rica em alimentos processados, açúcares adicionados e óleos de sementes ômega-6 ricos em ácido linoleico.
Eliminar os óleos de sementes processados é um dos fatores mais importantes, pois eles são rotulados de maneira errônea como óleos vegetais. Esses aumentam muito os radicais livres oxidativos, provocando disfunção mitocondrial.
Para eliminar o ácido linoleico, você deve primeiro eliminar alimentos processados e a maioria das refeições de restaurante. São necessários no mínimo 3 anos de restrição rígida ao óleo de semente, para a maioria das pessoas conseguirem normalizar os níveis de AL nos tecidos saudáveis. Outra estratégia que pode ser realizada para normalizar os níveis é a alimentação com restrição de tempo. Os pesquisadores descobriram que o inositol pode melhorar os sintomas da síndrome do ovário policístico e também os níveis de glicose.
O inositol pode ser efetivo contra síndrome do ovário policístico
Até cerca de 20% das mulheres relatam apresentar essa síndrome, fazendo com que seja uma das causas mais comuns de infertilidade e distúrbios endócrinos. Foi observado pelos pesquisadores do estudo em destaque que, 75% das mulheres magras e 95% das mulheres com sobrepeso e com essa síndrome, apresentaram resistência à insulina. Embora a metformina seja muito utilizada na regulagem de açúcar no sangue em mulheres com síndrome do ovário policístico, e na redução dos sintomas, a mesma apresenta alguns efeitos colaterais comuns que incluem:
Os investigadores realizaram uma pesquisa sistemática e revisão da literatura para avaliar a segurança e eficácia do inositol como uma alternativa potencial no tratamento da síndrome do ovário policístico. Eles identificaram 26 ensaios, onde incluíam dados de 1.691 mulheres. A medida do desfecho primário foi a normalização do ciclo menstrual; os desfechos secundários foram hiperandrogenismo clínico e laboratorial, índice de massa corporal e metabolismo de carboidratos.
O inositol produziu um ciclo menstrual regular em mulheres com essa síndrome, cerca de 1,79 vezes maior que os placebos e não mostrou inferioridade comparado à metformina. O inositol também induziu reduções maiores em diversas medições, incluindo testosterona livre e total, níveis de glicose e o tempo que o corpo leva para utilizar a insulina.
Foi observado menos efeitos colaterais com o inositol do que com a metformina. Os efeitos colaterais no grupo que fez uso da metformina incluem: inchaço, fraqueza generalizada e náusea. Os pesquisadores concluíram “O Inositol é um método de tratamento eficaz e seguro para síndrome do ovário policístico. Além disso, o inositol não mostrou inferioridade na maioria dos resultados quando comparado ao tratamento da metformina.”
O que é a síndrome do ovário policístico?
É uma condição onde os ovários das mulheres produzem um nível mais elevado de andrógenos do que o normal. Esses hormônios sexuais masculinos são encontrados em pequenas quantidades. Os pesquisadores sabem que muitas mulheres com essa síndrome também apresentam uma resistência à insulina, apesar da causa não ter sido identificada.
Os sintomas da síndrome do ovário policístico incluem: menstruação irregular, excesso de pelos no corpo, ganho de peso, acne ou pele oleosa com marcas ou manchas, além de calvície. Menstruações irregulares podem causar infertilidade. Embora apresentar essa síndrome não signifique que não possa engravidar, os desequilíbrios hormonais provocados pela mesma podem interferir na ovulação, aumentando os riscos de diabetes gestacional, aborto espontâneo e pré-eclâmpsia.
Estudos descobriram uma ligação entre essa síndrome à outras condições de saúde, como diabetes, apneia do sono, câncer de endométrio, pressão alta, níveis elevados de colesterol, além de depressão e ansiedade. Pesquisadores se esses problemas de saúde causam a síndrome do ovário ou se a síndrome que provoca os problemas.
Embora o efeito no sistema reprodutivo pareça diminuir à medida que a mulher se aproxima da menopausa, o efeito do desequilíbrio hormonal não tem o mesmo efeito. Algumas condições associadas à essa síndrome, como diabetes e doenças cardiovasculares, podem aumentar à medida que a mulher envelhece.
Não se sabe de fato o que causa a síndrome do ovário policístico e não há teste que possa diagnosticá-la. É através de exame físico, exame pélvico, ultrassonografia pélvica e exames de sangue que os médicos descartam outras causas dos sintomas. O diagnóstico depende de uma mulher ter no mínimo 2 dos seguintes sintomas:
- Períodos menstruais irregulares
- Sinais de níveis elevados de andrógenos, como crescimento anormal de pelos no rosto, queixo e corpo, acne e queda de cabelo
- Altos níveis de andrógenos séricos
- Vários cistos em um ou ambos os ovários
Além da metformina responsável por reduzir os níveis de açúcar no sangue, os médicos podem prescrever pílulas anticoncepcionais hormonais, tornando ciclos menstruais mais regulares e assim reduzindo o risco de câncer endometrial. Medicamentos antiandrogênicos podem ser utilizados na redução de perda de cabelo e do crescimento de pelos no corpo.
A resistência à insulina provoca mais condições médicas
Nos dias de hoje, temos uma epidemia de diabetes nos EUA, com cerca de 37 milhões de americanos com diabetes tipo 2, que é uma das condições provocadas pela resistência à insulina. Isso representa 11% da população com uma doença causadora de cerca de 100.000 mortes em 2020 e 2021, um aumento em relação aos 87.000 em 2019. Além disso, 1 em cada 3 adultos americanos é pré-diabético, que é definido como uma elevação da glicose no sangue superior a 100 miligramas por decilitro (mg/dl), mas inferior a 125 mg/dl.
No entanto, o nível de açúcar no sangue em jejum que em geral é superior a 90 mg/dl sugere resistência à insulina. O trabalho do Dr. Joseph Kraft, autor de “Diabetes Epidemic and You: Should Everyone Be Tested?” trás uma sugestão onde 80% dos americanos são resistentes à insulina e estão caminhando para desenvolver diabetes.
Assim como eu, outras pessoas também observaram durante a pandemia da COVID-19, o verdadeiro problema foi resistência à insulina, que se destacou pelas comorbidades que aumentam o risco de doença grave por COVID-19, sendo a principal a obesidade. Um estudo constatou que, após a velhice, a obesidade se tornou o principal fator de risco para doenças graves, duplicando o risco de hospitalização em pessoas com menos de 60 anos.
A obesidade estimula a libertação de mediadores inflamatórios, associados ao desenvolvimento de depressão, câncer, doenças renais, doenças cardiovasculares e problemas de saúde. A obesidade serve como medição para o risco de morbidade e mortalidade relacionado à associação com marcadores inflamatórios.
Uma pesquisa mostrou que o tecido adiposo em indivíduos magros secreta marcadores anti-inflamatórios, enquanto o tecido adiposo em indivíduos obesos produz mais marcadores pró-inflamatórios. Essa mudança também se relaciona com a resistência a insulina.
Existe uma conexão entre resistência à insulina e aceleração da doença. “Uma das causas críticas de disfunções metabólicas é a resistência à insulina. As taxas mais elevadas de recorrência do câncer e à redução da sobrevida global estão ligadas a disfunção metabólica, comum em pacientes com câncer. Segundo a equipe, "a resistência à insulina quase não é considerada na clínica."
O Alzheimer também está associado à resistência à insulina. “Doenças como diabetes, hipertensão, tumores e doença hepática gordurosa não alcoólica, estão ligadas com a resistência à insulina, pois, são fundamentais no desenvolvimento e progressão de doenças relacionadas ao metabolismo. Isso fornece uma base para a compreensão comum destas doenças crônicas,” conforme observado em Frontiers in Endocrinology.
Mais estratégias positivas para influenciar os sintomas da síndrome do ovário policístico
O estudo observou que o inositol pode ajudar a regular o açúcar no sangue e a mitigar os sintomas da síndrome. Porém, há outras estratégias que podem ser utilizadas para reduzir os sintomas. A exposição ao PFAS pode reduzir as chances de uma mulher engravidar em até 40% e aumentar o risco de SOP. O autor sênior do estudo, Dr. Damaskini Valvi, professor assistente de medicina ambiental e saúde pública em Icahn Mount Sinai, explicou em um comunicado à imprensa:
“PFAS pode interromper nossos hormônios reprodutivos e tem sido associado ao atraso no início da puberdade e ao aumento dos riscos de endometriose e síndrome dos ovários policísticos em alguns estudos anteriores. O que acrescentamos é que PFAS também podem reduzir a fertilidade em mulheres saudáveis e que estejam tentando engravidar de forma natural.”
Uma etapa que demonstrou uma influência positiva no tratamento dos sintomas da síndrome do ovário policístico é a vitamina K2 mk-4. Em um estudo randomizado, 60 mulheres com deficiência de vitamina D e apresentando essa síndrome, utilizaram placebo ou uma combinação de cálcio, vitamina D e vitamina K durante 8 semanas. As pessoas do grupo de tratamento apresentaram uma maior diminuição na testosterona do que no grupo placebo.
A CoQ10 também demonstrou uma influência positiva. Um artigo de 2019 envolvendo 86 mulheres com síndrome do ovário policístico que receberam CoQ10, vitamina E, CoQ10 com vitamina E ou receberam placebo. Após 8 semanas, o grupo que tomou CoQ10 isolado ou em com vitamina E teve uma melhora nos níveis de hormônios sexuais e melhorou a resistência à insulina.
Ashwagandha, uma erva adaptogênica com diversas propriedades, é outra opção que pode ajudar no alívio dos sintomas. Foi utilizado na antiga medicina ayurvédica. Nas mulheres, foi demonstrado que a capacidade da ashwagandha para reequilibrar os hormônios (como o hormônio da tireoide, estrogênio e progesterona), além de melhorar a síndrome dos ovários policísticos e aliviar os sintomas da menopausa.
Alcaçuz é outra erva prescrita na medicina tradicional. Ajuda no tratamento dos sintomas da síndrome, reduzindo os níveis de gordura corporal e testosterona em mulheres saudáveis, podendo ser uma forma de ajudar as mulheres que apresentem a síndrome do ovário policístico.
🔍Recursos e Referências
- Reproductive Biology and Endocrinology, 2023; 21
- Contemporary OB/GYN, October 9, 2023
- Drugs.com, Metformin Side Effects
- Office on Women’s Health, Polycystic Ovary Syndrome
- US News and World Report. Diabetes Deaths Top 100,000. January 31, 2022 para 1, 3, 6
- The Fat Emperor May 10, 2015
- Clinical Infectious Disease, 2020;71(15)
- Archives of Medical Science, 2017; 13(4)
- Acta oncologica, 2023; doi: 10.1080/0284186X.2023.2197124
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- Frontiers in Endocrinology, 2023; doi: 10.3389/fendo.2023.1149239
- Mount Sinai, March 17th, 2023
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- Integrative Medicine Research, 2016;5(4)
- Journal of Endocrinology Investigation, 2003; 26(7)
- Steroids, 2004;69(11-12)