📝RESUMO DA MATÉRIA
- Atividades que envolvam música estão ligadas a um envelhecimento cognitivo mais saudável e ao aumento do volume cerebral em áreas importantes para a memória, função executiva, emoção e linguagem
- Segundo algumas pesquisas, pessoas que praticavam um instrumento musical apresentaram um melhor desempenho na memória de trabalho e funções executivas
- Cantar também está ligado à função executiva, enquanto práticas musicais associada à memória de trabalho
- Tocar piano teve as ligações mais fortes com a melhoria da saúde cognitiva, seguido pelos instrumentos de sopro; não foi encontrada nenhuma ligação para percussão, instrumentos de arco como violino, viola e contrabaixo, ou guitarra
- A música também beneficia suas memórias, provocando mudanças nas emoções que tornam os eventos mais marcantes
🩺Por Dr. Mercola
Praticar atividades que estimulam seu cérebro é uma simples maneira de manter sua mente saudável a medida que envelhece. Tocar um instrumento musical é uma opção, pois qualquer atividades que envolvam músicas podem aumentar sua reserva cognitiva. Uma reserva cognitiva alta significa que o seu cérebro tem uma maior capacidade de resistir a danos neurológicos, degeneração devido ao envelhecimento ou a doenças como o Alzheimer.
A música não está ligada apenas a um envelhecimento cognitivo mais saudável, mas também ao aumento do volume cerebral em áreas importante para a memória, função executiva, emoção e linguagem. Pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, revelaram até quais instrumentos podem proporcionar melhores benefícios para o cérebro.
Praticar um instrumento musical é benéfico para o cérebro
Para determinar como os instrumentos musicais podem afetar a função cognitiva em adultos mais velhos, investigadores da Universidade de Exeter utilizaram dados do estudo PROTECT, em parceria com o Kings College London. O estudo PROTECT está investigando como funciona o envelhecimento de cérebros saudáveis em pessoas com 40 anos ou mais.
O estudo apresentado utilizou um subconjunto de pessoas da coorte PROTECT, que fizeram um questionário sobre a sua experiência musical ao longo da vida. Foi mostrada uma ligação entre a música e a cognição, onde aqueles que tocavam algum instrumento musical apresentou um melhor desempenho na memória de trabalho e função executiva.
O canto também foi ligado à função executiva e a habilidade musical à memória de trabalho. “Nossas descobertas destacam o valor da educação e do envolvimento em atividades musicais ao longo da vida para aproveitar a reserva cognitiva como parte de um estilo de vida saudável para a saúde do cérebro,” explicaram os investigadores.
A maioria dos participantes do estudo só tocava um instrumento há 5 anos ou menos, enquanto 78% tinham recebido formação musical formal durante 2 a 5 anos. A maioria relatou praticar de 2 a 3 horas por semana ou menos durante o tempo em que praticavam, uma quantidade de tempo administrável para a maioria das pessoas.
Piano e instrumentos de sopro ficaram como primeiro lugar
O que teve melhores ligações com a saúde cognitiva foi o piano, seguido pelos instrumentos de sopro e metais. Não foi encontrada ligação de percussão, instrumentos de arco, como violino, viola e contrabaixo, e violão.
Os resultados apresentados corroboram a ideia de que o aprendizado musical pode ter um impacto duradouro em diversos aspectos da cognição, tais como a resolução de problemas e a memória. Muitos dos músicos tocavam piano nesse estudo, o que tem sido associado a melhores habilidades de resolução de problemas e a mais atividade cerebral em determinadas áreas.
Instrumentos de sopro e teclado estavam ligados a uma melhor memória. Por outro lado, as pessoas que praticam instrumentos de sopro pareciam ter uma melhor função executiva. Larry Sherman, autor de “Every Brain Needs Music: The Neuroscience of Making and Listening to Music,” disse ao Medical News Today:
“A música pode impactar o cérebro de diversas maneiras, como o aumento da velocidade dos impulsos nervosos, induzindo a produção de mielina, que envolve os processos das células nervosas, e aumentando as sinapses, as conexões entre as células nervosas. Também pode ajudar na produção de novas células nervosas."
Como a música auxilia suas memórias
Seu cérebro não precisa lembrar de todos os eventos da sua vida, porém, os momentos onde a música esteve presente, podem ter maior probabilidade de serem relembrados. Com o passar do tempo, as pessoas absorvem muitas informações, necessitando da organização de memórias devido ao seu grande volume e variados graus de relevância.
Segundo cientistas da UCLA, 2 processos parecem desempenhar um papel na conversão de experiências em memórias com o passar do tempo. Um processo é responsável por consolidar suas memórias condensando-as e conectando-as em episódios personalizados, enquanto o outro expande e isola cada memória à medida que a experiência desaparece no passado.
Essa interação entre a integração e a separação da memória ajuda na formação de memórias diferentes, ajudando as pessoas a compreender o significado das suas experiências e a reter informações. Em um estudo publicado na Nature Communications, os investigadores revelaram que a música pode provocar mudanças nas emoções que, tornando os eventos mais memoráveis.
“É como armazenar itens em caixas para um longo prazo,” disse o autor do estudo, David Clewett, professor assistente de psicologia na UCLA, num comunicado à imprensa. “Quando precisamos recuperar alguma informação, abrimos sua respectiva caixa. Segundo essa pesquisa, as emoções parecem ser uma caixa eficaz para uma organização e para tornar as memórias mais acessíveis.”
Para o estudo, os compositores criaram músicas que traziam alegria, ansiedade, tristeza ou calma. Os participantes ouviram a música enquanto observavam imagens neutras e acompanharam as mudanças de cada momento em seus sentimentos com um mouse de computador. Após serem distraídos, as imagens foram mostradas outra vez de maneira aleatória, revelando que "a dinâmica das emoções das pessoas é responsável por moldar experiências que de outra forma seriam neutras em eventos memoráveis." Segundo a UCLA:
"Pares de objetos que os participantes visualizaram de maneira imediata antes e depois de uma mudança de estado emocional (de alta, baixa ou média intensidade), foram lembrados como uma ocorrência distante no tempo, em comparação com imagens que não abrangeram uma mudança emocional. Os participantes também apresentaram uma memória menos acurada para a ordem dos itens que abrangem mudanças emocionais, em comparação com os itens que visualizaram enquanto estavam em um estado emocional mais estável.
Esses efeitos sugerem que uma mudança na emoção decorrente da música, estava separando novas memórias.
… Também importou a direção da mudança na emoção. A integração da memória foi melhor, ou seja, as memórias de itens sequenciais pareciam mais próximas no tempo, e os participantes recordaram melhor sua ordem, quando a mudança ocorreu em direção a emoções mais positivas. Por outro lado, a direção para as emoções mais negativas (de mais calmas para mais tristes, por exemplo) tendeu a separar e aumentar a distância mental entre novas memórias.”
Música para pessoas que possuem demência
A descoberta de que a audição de um instrumento musical é benéfica para a memória e as funções executivas em pessoas mais velhas tem implicações para doenças como a Alzheimer. Uma revisão sistemática e meta-análise, descobriu que um instrumento musical também pode ser benéfico contra comprometimento cognitivo e demência.
Foi relatado por um dos estudos, que os músicos apresentavam cerca de 64% menos probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência. Além de aumentar a reserva cognitiva, também foram sugeridos fatores que explicam porque um instrumento musical é benéfico contra a demência, como:
- Melhorar o funcionamento executivo e a memória de trabalho
- Estimulando a plasticidade cerebral, com isso restaurando redes cerebrais sensório-motoras
- Reduzindo o estresse e a depressão
- Promover a coesão social
O fato é que a música veio antes da linguagem e comunica com os humanos em um nível primordial. Pensando em seu passado, você deve associar memórias importantes às trilhas sonoras tocadas durante sua adolescência. Antes disso, a música deve ter começado a moldar a sua realidade durante a infância, existem também evidências de que os bebês respondem à música estando dentro do útero.
Os adultos mais velhos, incluindo os que possuem doenças degenerativas, podem voltar à vida quando ouvem as suas músicas preferidas. Em um estudo realizado com 39 pessoas numa instituição de cuidados de longa permanência em Iowa, por exemplo, ouvir música individualizada levou a uma redução significativa na agitação (como ansiedade, gritos e irritabilidade) tanto durante como após a sessão, mais do que quando os residentes escutavam música clássica genérica para relaxamento.
Outra pesquisa mostrou que a música, quando escutada de maneira individual, pode animar pacientes agitados com demência e levar a índices de ansiedade bem mais baixos. Também ajuda os pacientes com Alzheimer a relembrar memórias. Quando você escuta música, diversas redes neurais são envolvidas, incluindo aquelas ligadas a memórias e emoções autobiográficas.
A região do cérebro chamada córtex pré-frontal medial, que se localiza atrás da testa, é uma das últimas a atrofiar entre os pacientes que apresentam Alzheimer; é também o centro ativado pela música. Petr Janata, do Centro para Mente e Cérebro da UC Davis, conduziu um estudo para mapear a atividade cerebral de indivíduos enquanto ouviam música. Ele disse a imprensa:
“Parece que uma música familiar serve de trilha sonora para um filme mental que começa a passar em nossa cabeça. Ele traz memórias de uma pessoa ou um lugar específico, e de repente você pode ver o rosto dessa pessoa em sua mente... Agora observamos a ligação entre a música e as memórias."
Pesquisadores da Universidade de Exeter, acreditam existir evidências fortes o suficiente para recomendar a prática de um instrumento ou cantar como forma de reduzir o risco de demência e auxiliar a saúde do cérebro:
“As intervenções de saúde pública que promovem um envelhecimento saudável e a redução do risco de demência, devem considerar aconselhar os adultos sobre os benefícios da música. Em particular, os adultos podem ser encorajados a entrarem em grupos que envolvem a música ou a voltar a tocar um instrumento que uma vez já tocaram.
Existem evidências sobre o benefício das atividades musicais em grupo para indivíduos que apresentam demência, e essa abordagem poderia ser ampliada como parte de um de envelhecimento saudável para idosos saudáveis, podendo permitir uma redução do risco e a promoção da saúde cerebral.”
Aprender novas habilidades estimula seu cérebro
Se a ideia de aprender um instrumento não te agrada, existem diversas outras maneiras de aumentar sua cognição e memória. O segredo é escolher uma atividade que você goste. A participação em “atividades intencionais e significativas” ativa o sistema neurológico, reduz os impactos de doenças relacionadas ao estresse e a probabilidade de demência, além de melhorar a saúde e o bem-estar.
Um elemento fundamental para melhorar a função cerebral ou reverter o declínio funcional depende do nível de importância atribuído à tarefa escolhida. Resumindo, a tarefa deve ser algo pessoal, ser significativa ou intrigante de alguma forma e deve te cativar.
Para alguns, isso pode ser um hobby de tocar um instrumento, mas para outros podem ser escutar músicas ou tricô, por exemplo, entre outros. Por exemplo, um estudo descobriu que atividades artesanais como quilting e tricô estava ligado à redução das chances de comprometimento cognitivo leve. Outro estudo demonstrou que o envolvimento em atividades “cognitivamente exigentes,” como aprender quilting ou fotografia digital, reforçou a função da memória entre indivíduos mais velhos.
A chave é identificar uma atividade que o cative. Deve exigir sua atenção, proporcionar satisfação e ser algo que você espera para fazer, como tocar um instrumento musical, fazer jardinagem, construir modelos de navios, fazer artesanato, entre outros.
🔍Recursos e Referências
- International Journal of Geriatric Psychiatry January 28, 2024
- Lancet Neurol. 2012 Nov; 11(11): 1006–1012
- The PROTECT Study
- International Journal of Geriatric Psychiatry January 28, 2024, Abstract
- International Journal of Geriatric Psychiatry January 28, 2024, Results
- International Journal of Geriatric Psychiatry January 28, 2024, Discussion
- Medical News Today February 2, 2024
- UCLA November 20, 2023
- Nature Communications 14, Article number: 6533 (2023)
- Aging Ment Health. 2021 Apr;25(4):593-601. doi: 10.1080/13607863.2019.1699019. Epub 2019 Dec 9
- BMC Neurol. 2022; 22: 395
- Neural Plast. 2019; 2019: 3972918
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- Psychol Sci. 2014 Jan;25(1):103-12