📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Muitas pessoas estão preocupadas que a stevia seja perigosa porque está associada à infertilidade; isso é desinformação.
  • Dizem que certas tribos no Paraguai usavam chá de stevia como anticoncepcional, dando início ao equívoco de que ele é prejudicial à fertilidade.
  • Um estudo de 1968 que encontrou uma redução na fertilidade em ratas fêmeas foi criticado por "ter uma metodologia científica duvidosa" e por "administrar doses excessivas" do composto às ratas.
  • Outras pesquisas mostraram que a stevia é segura e não causa efeitos negativos na reprodução; alguns estudos até sugerem que a stevia pode ter efeitos protetores na fertilidade e na reprodução.
  • Embora a stevia seja mais conhecida no mundo moderno por seu sabor doce natural, ela também possui propriedades antidiabéticas, anti-hipertensivas, antimicrobianas, antioxidantes, antitumorais e anti-inflamatórias.

🩺Por Dr. Mercola

Muitas pessoas estão preocupadas que a stevia seja perigosa porque está associada à infertilidade. Isso é desinformação. A stevia é um adoçante natural derivado das folhas da planta Stevia rebaudiana, nativa da América do Sul. Também conhecida como  estévia, capim-doce, folha-doce e erva-adocicada, a stevia contém glicosídeos de esteviol que são 250 a 300 vezes mais doces que a sacarose.

A stevia é chamada de ka'a he'e na língua guaraní do Paraguai. O povo guarani utilizava a stevia há muito tempo por suas propriedades medicinais, inclusive para regular o açúcar no sangue. No entanto, também foi dito que certas tribos no Paraguai usavam chá de stevia como contraceptivo, dando início ao equívoco de que ele é prejudicial à fertilidade.

A ligação da stevia com a infertilidade está ligada a dois estudos controversos

Um estudo de 1968 realizado por Joseph Kruc, da Universidade de Purdue, relatou que a stevia reduz a fertilidade em ratas. A pesquisa envolveu alimentar as ratas com grandes quantidades de stevia, o que resultou na produção de menos filhotes do que o grupo controle.

No entanto, o estudo foi criticado por “ter uma metodologia científica duvidosa, e vários estudos que tentaram replicar seus resultados falharam. Kruc admitiu mais tarde que as taxas de fertilidade mais baixas nas ratas podem ter resultado de sua ‘overdose’ do composto”, observou o quiroprático B.J. Hardick.

Em 1988, Mauro Alvarez, da Universidade Estadual de Maringá, repetiu o estudo de Kruc, mostrando de novo que a stevia causava um efeito contraceptivo semelhante. No entanto, a metodologia deste estudo também foi muito criticada, e Alvarez teria concordado mais tarde que a stevia não representa nenhuma ameaça à fertilidade.

Ainda assim, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA citou esses estudos controversos como a principal razão pela qual não aprovou as folhas inteiras de stevia ou extratos brutos de stevia para uso como aditivos alimentares.

De acordo com a FDA, “Com relação ao uso em alimentos convencionais, a folha de stevia, ou seu extrato bruto, não é um aditivo alimentar aprovado e não é considerado GRAS [geralmente reconhecido como seguro] devido a informações toxicológicas inadequadas”. Dito isso, a FDA considera certos glicosídeos de estévia GRAS, observando:

“A FDA avaliou muitos avisos GRAS para o uso de glicosídeos de esteviol de alta pureza (mínimo de 95% de pureza), incluindo Rebaudiosídeo A (também conhecido como Reb A), Esteviosídeo, Rebaudiosídeo D ou preparações de mistura de glicosídeos de esteviol com Rebaudiosídeo A e/ou Esteviosídeo como componentes predominantes.
A FDA não questionou as conclusões GRAS dos notificadores para esses adoçantes derivados de stevia de alta pureza sob as condições de uso pretendidas identificadas nos avisos GRAS enviados à FDA.
… A segurança dos glicosídeos de esteviol foi estudada de forma ampla e relatada na literatura científica. Em humanos, os glicosídeos de esteviol não são hidrolisados pelas enzimas digestivas do trato gastrointestinal superior e não são absorvidos pela parte superior do trato gastrointestinal. Diversos estudos clínicos e crônicos em humanos foram realizados, demonstrando que não há efeitos adversos".

Pesquisas mostram que a stevia não promove infertilidade

Enquanto isso, pesquisas adicionais reforçam a noção de que a stevia é segura e não causa efeitos negativos na reprodução. Em 1991, pesquisadores do Centro de Pesquisa de Primatas da Universidade de Chulalongkorn, em Bangkok, Tailândia, analisaram os efeitos do esteviosídeo, um glicosídeo de estévia, no crescimento e na reprodução de hamsters.

Os cientistas administraram a quatro grupos de 20 hamsters diferentes doses diárias de esteviosídeo, incluindo nenhuma, 0,5, 1,0 e 2,5 g/kg de peso corporal. Eles não encontraram problemas de crescimento ou fertilidade em machos ou fêmeas. Todos os machos acasalaram com sucesso com as fêmeas, e cada fêmea teve três ninhadas durante o estudo.

A duração da gestação, o número de fetos e o número de filhotes nascidos a cada vez foram semelhantes aos do grupo controle. Os filhotes que continuaram recebendo esteviosídeo também tiveram crescimento e fertilidade normais. Os pesquisadores concluíram:

“Exames histológicos dos tecidos reprodutivos das três gerações não revelaram nenhuma evidência de anormalidade que pudesse estar ligada aos efeitos do consumo de esteviosídeo. Concluímos que o esteviosídeo em uma dose tão alta quanto 2,5 g/kg de peso corporal/dia não afeta o crescimento nem a reprodução em hamsters”.

Outro estudo que avaliou os efeitos da stevia na reprodução feminina também não encontrou nenhum dano, concluindo:

“Este estudo relata que a ingestão oral de extrato de stevia doce à base de água e esteviosídeo, em doses de 500 mg/kg de peso corporal e 800 mg/kg de peso corporal, respectivamente, não causa nenhum efeito tóxico significativo na reprodução feminina em camundongos suíços albinos”.

A stevia pode ter um efeito protetor nos tecidos testiculares e na qualidade dos espermatozoides

Pesquisas mais recentes sugerem até que a stevia pode ter efeitos protetores na fertilidade e na reprodução. Um estudo investigou os efeitos do extrato de stevia na fertilidade de ratos Wistar machos expostos à tartrazina, um corante alimentar amarelo comum, também conhecido como FD&C Amarelo No. 5, que pode afetar a fertilidade e causar estresse oxidativo em altas dosagens.

Um grupo controle recebeu água destilada por 56 dias, enquanto o grupo stevia recebeu 1.000 mg/kg de extrato de stevia. Um terceiro grupo recebeu 300 mg/kg de tartrazina e um quarto grupo recebeu extrato de stevia seguido de tartrazina uma hora depois.

Os resultados mostraram que a tartrazina reduziu de maneira significativa os níveis de testosterona e diminuiu a motilidade, viabilidade e contagem dos espermatozoides, além dos níveis de antioxidantes, ao mesmo tempo em que aumentou as anormalidades dos espermatozoides e a degradação do DNA. O extrato de stevia, no entanto, melhorou os níveis de testosterona e os níveis de antioxidantes. Houve também uma melhora na qualidade dos espermatozoides no grupo tratado com stevia e tartrazina em comparação com o grupo que recebeu apenas tartrazina.

A stevia também reduziu os níveis de malondialdeído, um marcador de estresse oxidativo, e as anormalidades dos espermatozoides, além de melhorar os parâmetros de função hepática e renal. De acordo com o estudo, “a administração de stevia tem um efeito protetor nos tecidos testiculares e na qualidade dos espermatozoides contra a toxicidade induzida pela exposição à tartrazina”.

Em outro exemplo, pesquisadores da Universidade de Ciências Médicas de Shiraz, no Irã, avaliaram os efeitos da stevia nos níveis hormonais e nos danos testiculares em ratos com diabetes, condição que pode afetar o sistema reprodutivo. A stevia reduziu de forma significativa o açúcar no sangue em jejum e aumentou os níveis do hormônio luteinizante em ratos diabéticos, ao mesmo tempo em que levou a vários outros efeitos reprodutivos benéficos:

“A stevia também resultou em um aumento no peso, volume dos testículos, número de células germinativas e na contagem e motilidade dos espermatozoides, em comparação com os ratos diabéticos (P<0,05). Devido às suas propriedades antioxidantes, a Stevia aumentou a alteração na espermatogênese e nas características estereológicas em testículos de ratos diabéticos. Portanto, a Stevia pode diminuir os problemas do sistema reprodutivo e melhorar a infertilidade em ratos machos diabéticos”.

A stevia tem efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e benefícios adicionais

Embora a stevia seja mais conhecida no mundo moderno por seu sabor doce natural, ela também contém carboidratos, lipídios, fibras alimentares, óleos essenciais, vitaminas solúveis em água, minerais e uma série de compostos fenólicos benéficos. Assim, “Estudos recentes demonstraram vários benefícios do consumo de folhas de stevia na saúde humana”, escreveram os pesquisadores no jornal Nutrients, incluindo as seguintes propriedades:

  • Antidiabético
  • Anti-hipertensivo
  • Antimicrobiano
  • Anti-inflamatório
  • Antitumoral
  • Antioxidante

“Como a inflamação e o estresse oxidativo desempenham papéis críticos na patogênese de muitas doenças, a stevia surge como um produto natural promissor que pode dar suporte à saúde humana”, explicaram os pesquisadores da Universidade de Tessália em Lamia, Grécia.

Eles realizaram uma revisão sistemática e meta-análise, que encontrou “um efeito restaurador antioxidante com estatísticas significativas de marcadores de estado oxidativo de animais doentes em experimentos após terem recebido extratos de folhas de stevia”.

Neste caso, eles descobriram que a atividade restauradora se deveu sobretudo aos extratos de folhas inteiras de stevia e apenas em menor grau aos glicosídeos. Além disso, “o diabetes mellitus se destacou como a doença com a maior resposta restauradora à administração do extrato da folha de stevia”.

Uma revisão de 2021 que resumiu dados sobre as atividades biológicas do extrato de stevia e glicosídeos revelou que os compostos “estimulam a produção de insulina em diabéticos, melhoram a doença renal policística, têm ação quimioterapêutica no câncer e possuem poderosas propriedades antibacterianas, antioxidantes e imunomoduladoras”.

Qual a diferença entre a stevia e os adoçantes artificiais?

Embora a stevia seja um adoçante natural derivado das folhas da planta Stevia rebaudiana, os adoçantes artificiais, como o aspartame e a sucralose, são produtos químicos sintetizados para imitar a doçura do açúcar.

A stevia contém compostos naturais — glicosídeos de esteviol — que fornecem doçura e têm sido usados nas tradições de algumas culturas, enquanto os adoçantes artificiais contêm produtos químicos fabricados pelo homem. Além disso, ao contrário dos benefícios da stevia para a saúde, os adoçantes artificiais estão associados a uma variedade de riscos à saúde.

Por exemplo, um estudo de coorte populacional de 2022 publicado na PLOS Medicine, que envolveu 102.865 adultos, revelou que adoçantes artificiais, em especial o aspartame e acessulfame-K, estavam associados ao aumento do risco de câncer, incluindo câncer de mama e cânceres relacionados à obesidade.

Segundo pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida, quando você consome aspartame, ele é decomposto em ácido aspártico, fenilalanina, um precursor dos neurotransmissores monoamina, e metanol, o que pode ter efeitos "potentes" no sistema nervoso central.

O estudo relacionou o consumo de aspartame à ansiedade e descobriu que as mudanças na saúde mental foram transmitidas para as gerações futuras. Em outro estudo de nove anos envolvendo 103.388 pessoas, os adoçantes artificiais aspartame (Equal), acessulfame de potássio e sucralose (Splenda) foram associados a doenças cardiovasculares e derrames.

O estudo descobriu que apenas 78 miligramas (mg) por dia de adoçantes artificiais, cerca da quantidade encontrada em meia lata de refrigerante diet, representam um risco para a saúde, com aqueles que consomem essa quantidade tendo uma probabilidade 10% maior de sofrer um infarto e 20% maior de sofrer um acidente vascular cerebral. Além disso, os adoçantes artificiais podem levar a alterações na microbiota intestinal semelhantes às causadas por antibióticos.

Em uma pesquisa apresentada na reunião anual da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular em abril de 2022, na Filadélfia, no entanto, foi revelado que adoçantes artificiais, em especial o acessulfame de potássio e a  sucralose, podem interferir no delicado processo de desintoxicação do fígado.

Opções saudáveis para um doce

A stevia é uma opção de adoçante natural que pode ser usada de vez em quando e não está associada aos inúmeros riscos vinculados aos adoçantes artificiais. Embora haja rumores de que ela possa afetar a fertilidade, pesquisas mostram que isso é um mito — e a stevia pode até ter efeitos protetores. Outras opções para um doce natural incluem frutas maduras da estação, xarope de bordo e mel cru.