📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Seu olfato pode ser essencial para determinar se você está lidando com um problema de saúde, pois, algumas doenças podem ser “detectadas” através dele.
  • Usar o odor de uma pessoa para diagnosticar certas condições de saúde remonta aos tempos antigos. Há muitos séculos, os médicos conseguiam sentir o cheiro do hálito de um paciente e determinar se ele tinha insuficiência hepática; um odor frutado poderia indicar diabetes.
  • A maioria das pessoas culpa o suor quando suas axilas ficam com mau cheiro, quando na verdade, o mau odor corporal se desenvolve quando o microbioma nas axilas está desregulado.
  • Abster-se de usar sabonetes agressivos, desodorantes e antitranspirantes ajudará a restaurar o equilíbrio dos micróbios benéficos nas suas axilas e a mantê-lo livre de odores.

🩺Por Dr. Mercola

Muitos sintomas de doenças podem ser vistos a olho nu. Se você notar uma mudança repentina em seu corpo, como o aparecimento de erupções cutâneas ou outras marcas na pele, ou flutuações rápidas de peso, é necessário consultar um médico para obter um diagnóstico adequado.

Mas você sabia que em alguns casos também é possível sentir o cheiro de doenças? O seu olfato é fundamental para o seu bem-estar e tem uma forte ligação com a sua capacidade de sentir o paladar, as emoções, as memórias e até mesmo a atração sexual. É incrível como ele também pode ser essencial para identificar se você está lidando com um problema de saúde, já que, algumas doenças podem ser "detectadas" através do olfato.

Doenças podem fazer com que você exale um certo odor

Um artigo publicado no The Conversation explora a conexão entre os odores que seu corpo emite e seu estado de saúde. Aoife Morrin, professora associada da Dublin City University, escreve:

"Centenas de substâncias químicas saem do nosso corpo e vão para o ar a cada segundo. Essas substâncias químicas são liberadas no ar pois têm alta pressão de vapor, o que significa que elas evaporam e se transformam em gases à temperatura ambiente".

Essas substâncias químicas gasosas são chamadas de compostos químicos orgânicos voláteis (COVs). Em 1971, Linus Pauling, um químico que recebeu o Prêmio Nobel de Química, identificou 250 COVs diferentes no hálito de uma pessoa. Desde sua descoberta, os cientistas identificaram centenas de outros compostos orgânicos voláteis.

O artigo observa que alguns COVs têm odores distintos, enquanto outros não. Mas, independente de emitirem ou não odores que possam ser captados pelo nariz humano, eles podem revelar informações sobre seu estado de saúde atual.

Médicos antigos confiavam no odor corporal para diagnosticar pacientes

Dentro das cavidades nasais, há duas áreas de células projetadas para detectar odores. Elas são compostas por quase 6 milhões de células receptoras olfativas que permitem detectar e diferenciar milhares de cheiros diferentes. Estes cheiros podem incluir aqueles causados por certas doenças.

O curioso é que o uso do odor de uma pessoa para diagnosticar certas condições de saúde remonta aos tempos antigos. Há muitos séculos atrás, os médicos ainda não tinham acesso a equipamentos médicos sofisticados nem a exames de triagem, então eles tinham que confiar nas ferramentas limitadas que possuíam, e uma delas era a capacidade de sentir cheiro.

De acordo com o artigo, os médicos antigos conseguiam sentir o cheiro do hálito de um paciente e determinar se ele tinha insuficiência hepática. Um odor frutado pode indicar diabetes e acredita-se que isso ocorra porque o açúcar não está sendo digerido de forma adequada no intestino.

Ainda hoje, especialistas concordam que as doenças têm cheiro; pesquisadores descreveram vários odores relacionados a diferentes doenças. Por exemplo, alguém com febre tifoide pode exalar um odor semelhante ao de pão assado, enquanto uma pessoa com febre amarela pode ter cheiro de açougue. Se você não conseguir metabolizar a metionina, um aminoácido, seu corpo pode liberar um odor semelhante ao de repolho cozido.

De onde mais vêm os COVs?

O cheiro que sai do seu corpo emana de várias áreas diferentes, não apenas do suor ou do hálito. Morrin menciona isso no artigo, afirmando que os COVs também são emitidos pela urina e pelas fezes.

Na pele, os COVs são resultado do processo de eliminação de resíduos. Eles são excretados através de milhões de glândulas na pele que eliminam resíduos metabólicos do corpo, além de bactérias e outros micróbios que proliferam na pele.

"O suor produz nutrientes extras para essas bactérias metabolizarem, o que pode resultar em COVs com odores. O odor do suor representa apenas uma fração dos odores dos COVs.
No laboratório da minha equipe, estamos investigando se a assinatura de COV da pele pode revelar diferentes atributos da pessoa a quem pertence. Esses sinais nas assinaturas de COV da pele podem ser a forma como os cães distinguem as pessoas pelo cheiro", Morrin diz, referindo-se à habilidade única do melhor amigo do homem de farejar doenças.

Ela acrescenta que, embora a pesquisa ainda esteja em estágios iniciais, eles já fizeram algumas descobertas interessantes, como a capacidade de distinguir entre os cheiros de homens e mulheres com base na acidez dos COVs da pele.

"Usamos espectrometria de massa para observar isso, já que o nariz humano comum não é sofisticado o suficiente para detectar esses COVs", acrescenta ela. Os pesquisadores estão otimistas em relação a essas tecnologias, acreditando que um dia, apenas respirar em um dispositivo poderá sersuficiente para diagnosticar uma doença.

Axilas com mau cheiro podem indicar um desequilíbrio em seus micróbios

Os COVs microbianos são um exemplo notável de como os micróbios do seu corpo desempenham um papel complexo na sua saúde. Se você sofre com o mau odor corporal, esses micróbios também desempenham um papel.

A maioria das pessoas culpa o suor quando as axilas ficam com mau cheiro, mas não é bem assim; na verdade, seu suor é quase inodoro. Em vez disso, o mau odor corporal se desenvolve quando o microbioma nas axilas está desregulado. É irônico que o uso de produtos como antitranspirantes e desodorantes pode impactar de forma significativa a densidade e a variação bacteriana nas axilas. É isso que causa o mau odor.

Em um estudo de 2016 publicado no PeerJ, pesquisadores estudaram o impacto do uso de desodorantes e antitranspirantes no microbioma da pele humana. Eles descobriram que quando pessoas que tinham o costume de usar desodorantes e antitranspirantes paravam de repente de usar esses produtos, o número de bactérias em suas axilas aumentava, quase equivalente ao número de bactérias nas axilas de pessoas que não usavam esses produtos.

No entanto, quando elas voltaram a usar esses produtos, o número de bactérias diminuiu de maneira significativa. Os pesquisadores observaram:

"Nosso trabalho demonstra de forma clara que o uso de antitranspirantes altera as comunidades bacterianas das axilas, tornando-as mais diversas em espécies. Como os antitranspirantes só começaram a ser usados no século passado, presumimos que as espécies de bactérias que eles favorecem não são aquelas historicamente comuns nas axilas humanas".

Antitranspirantes podem piorar o cheiro das axilas

Seu suor tem cheiro porque as bactérias que vivem em suas axilas decompõem os lipídios e aminoácidos encontrados no suor em substâncias que têm um odor distinto. Para resolver esse problema, os antitranspirantes usam agentes antimicrobianos para matar bactérias. Eles também contêm alumínio, que atua como um tampão nos dutos de suor para eliminar a transpiração.

Mas, embora eles bloqueiem de maneira temporária o mau odor, os efeitos a longo prazo não são favoráveis. Um estudo anterior publicado no Archives of Dermatological Research descobriu que os sais nesses produtos podem não apenas alterar a diversidade bacteriana nas axilas, mas também introduzir tipos de bactérias que contribuem para um pior odor.

Embora os antitranspirantes eliminem bactérias como Firmicutes e Staphylococcus, o odor que eles produzem é mais suave. Ao mesmo tempo, eles permitem que populações de Actinobacteria prosperem, o que pode causar o desenvolvimento de um odor mais desagradável. Segundo os pesquisadores:

"Quando os antitranspirantes foram aplicados, o microbioma mostrou um aumento na diversidade. O uso de antitranspirantes levou ao aumento de Actinobactérias, o que é uma situação desfavorável em relação ao desenvolvimento de odores corporais. Esses resultados iniciais mostram que os cosméticos para axilas modificam a comunidade microbiana e podem estimular bactérias que produzem odores".

Quando os participantes do estudo deixaram de usar antitranspirantes, as Actinobactérias em suas axilas diminuíram e se tornaram quase inexistentes. Isso significa que parar o uso fará com que o cheiro forte diminua e desapareça por completo.

Os desodorantes naturais são uma alternativa melhor?

Outra desvantagem de usar produtos de cuidados pessoais, como desodorantes e antitranspirantes, é que eles são carregados de alumínio, parabenos, ftalatos e fragrâncias artificiais que não apenas aumentam sua carga tóxica, mas também prejudicam a saúde. Sais de alumínio usados em antitranspirantes, por exemplo, podem desencadear cistos mamários e desenvolvimento de câncer de mama em mulheres, de acordo com estudos.

Portanto, é seguro dizer que parar de usar produtos químicos para as axilas, sejam desodorantes ou antitranspirantes, é sua melhor escolha. Mudar para desodorantes naturais que não contenham ingredientes químicos pode ser uma alternativa viável.

Alternativas caseiras também existem. Uma solução simples é fazer uma pasta com uma pitada de bicarbonato de sódio e água e aplicá-la e forma generosa na área das axilas. Embora essa solução básica possa ajudar a controlar o odor, ela irá perturbar seu microbioma natural, que é o que está causando o odor em primeiro lugar.

A chave para ficar livre de odores é normalizar o microbioma das axilas

Recomendo apenas lavar as axilas com sabão neutro e água e não aplicar mais nada. É isso. É simples assim.

Abster-se de todos os produtos para as axilas ajudará a restaurar o equilíbrio de micróbios benéficos nas suas axilas. Por mais irônico que pareça, essa é, na verdade, a chave para ficar livre de odores. Quando o microbioma das axilas estiver normalizado, seu suor não terá mais cheiro algum.

No entanto, se você implementar essa abordagem e o odor ainda não desaparecer, isso pode significar que seu corpo está eliminando toxinas e impurezas. Segundo pesquisadores, a transpiração é uma maneira segura e eficaz de eliminar toxinas como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio. No entanto, o odor persistente será temporário e, depois que você tratar e eliminar sua carga tóxica, seu suor ficará inodoro.

Seu olfato também pode prever seu estado de saúde

A relação entre seu olfato e sua saúde é uma via de mão dupla. Assim como outras pessoas podem identificar detalhes sobre sua saúde pelo cheiro, seu próprio olfato, seu nariz e se ele funciona de forma correta ou não, também pode ser um indicador da sua longevidade.

Em um estudo de 2023 publicado no Alzheimer’s and Dementia, os pesquisadores descobriram que a perda rápida do olfato pode ser um preditor da doença de Alzheimer. Isso não é surpreendente, já que o nervo olfatório está localizado na base do cérebro. Quando você tem problemas com o olfato, isso pode indicar uma probabilidade maior de desenvolver distúrbios neurológicos, como Alzheimer ou Parkinson.

Enquanto isso, um estudo de 2024 publicado no Journal of the American Heart Association (JAHA) encontrou uma ligação entre a função olfativa deficiente em idosos e um aumento no risco de insuficiência cardíaca congestiva (ICC).

"Em adultos mais velhos, o mau olfato pode estar relacionado à saúde cardiovascular como um marcador subclínico ou um fator de risco potencial. À medida que a remodelação vascular se desenvolve e progride, o suprimento sanguíneo insuficiente pode prejudicar de forma gradual a saúde do epitélio nasal e das estruturas na via do sinal olfativo, limitando o funcionamento normal do olfato.
Apoiando esse ponto de vista, evidências preliminares sugerem que a espessura da camada íntima-média da carótida e as placas arteriais, dois marcadores subclínicos de aterosclerose, foram associados ao declínio olfativo em adultos mais velhos", concluíram os pesquisadores.

O que você pode fazer se perder o olfato?

A anosmia, ou perda do olfato, pode ser alarmante. Além de condições neurológicas crônicas, certos desencadeadores, como infecções virais e pólipos nasais, também podem causar isso. Durante a pandemia de COVID-19, a anosmia, junto com a perda do paladar, são indicadores comuns dessa infecção.

Em muitas pessoas, perder o olfato pode causar sofrimento psicológico. Elas experimentam sentimentos de isolamento e problemas com relacionamentos e no funcionamento cotiadiano.

O tratamento da anosmia envolve identificar sua causa subjacente e abordá-la a nível fundamental. Se for causada por um resfriado ou gripe, por exemplo, tratar a infecção viral ajudará você a recuperar o olfato.

Em alguns casos, porém, você pode tentar treinar seu cérebro para voltar a sentir cheiros. O treinamento do olfato usa uma via neural, como aquela usada pelas células nervosas olfativas, reforçando e fortalecendo-a.

Ter um olfato ruim também está associado a deficiências de nutrientes, como deficiência de vitamina D e deficiência de zinco. Não deixe de testar e otimizar seus níveis de vitamina D. Sair ao sol durante ou próximo ao meio-dia solar é a melhor maneira de otimizar seus níveis. Quanto ao zinco, você pode otimizar seus níveis por meio da dieta. Alimentos como ostras, kefir, iogurte, leite e queijo de animais alimentados com capim, carne bovina alimentada com capim, espinafre e cogumelos são ótimas fontes.