📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Máquinas de ruído branco, muito usadas como auxiliares de sono, podem produzir sons que excedem as diretrizes de segurança. Pesquisas mostram possíveis riscos para o desenvolvimento auditivo e cognitivo em crianças quando usadas em volumes altos.
  • Estudos sugerem evidências limitadas de que o ruído branco melhora a qualidade do sono. Embora possa ajudar em ambientes específicos como UTINs, os riscos podem superar os benefícios em ambientes domésticos com crianças.
  • A poluição sonora, incluindo a de máquinas de ruído branco, pode causar perda auditiva, distúrbios do sono, estresse e problemas cardiovasculares. Estima-se que 10 milhões de americanos tenham perda auditiva permanente devido a traumas relacionados ao som.
  • Um estudo em Nova Jersey associou 1 em cada 20 ataques cardíacos ao ruído dos meios de transporte. Altos níveis de ruído podem desencadear estresse crônico e distúrbios do sono, afetando a saúde cardiovascular por meio da produção de hormônios do estresse.
  • Para usar o ruído branco com segurança, mantenha o volume baixo (60 decibéis ou menos), coloque as máquinas a 2,13 metros de distância das áreas de sono, e considere abandonar o uso aos poucos. Use decibelímetros para monitorar os níveis de som.

🩺Por Dr. Mercola

O ruído branco é um som constante e uniforme que combina todas as frequências audíveis ao mesmo tempo. Um ventilador ligado, chuva constante, estática de televisão ou o som de uma máquina de ruído branco são todos exemplos desse tipo de som.

Muitas pessoas adotam o ruído branco como um auxílio para o sono para mascarar sons perturbadores, ajudando a adormecer e a manter o sono por mais tempo, em especial para bebês e crianças. Mas, embora algumas pesquisas sugiram que o ruído branco melhora a qualidade do sono, há possíveis desvantagens a serem consideradas.

Máquinas de ruído branco podem prejudicar a audição e o desenvolvimento cognitivo em crianças

Muitas máquinas de ruído branco podem emitir sons altos demais, de acordo com pesquisas publicadas no periódico Sleep Medicine. Embora sejam usadas com frequência como auxiliares de sono para bebês e crianças pequenas, o volume máximo é desregulado e pode atingir níveis que representam riscos para o desenvolvimento auditivo e cognitivo.

O National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) recomenda um limite de exposição de 85 decibéis ao longo de uma jornada de oito horas e 82 decibéis ao longo de uma jornada de 16 horas. Cortadores de grama, aspiradores de pó e ferramentas elétricas são exemplos de máquinas que produzem ruído em torno de 85 a 90 decibéis.

Em uma revisão de 20 estudos, pesquisadores revelaram que as máquinas de ruído branco no volume máximo podem ultrapassar 91 decibéis (dB), o que excede as diretrizes de segurança do NIOSH para um turno de trabalho de duas horas para adultos. Além disso, todas as 24 máquinas de ruído branco e seis aplicativos de telefone avaliados puderam produzir ruído em níveis que excedem as diretrizes do NIOSH para um turno de oito horas.

“É provável que a maioria dos pais não está configurando as máquinas no nível mais alto”, escreveram os autores do estudo, Dr. Isaac Erbele e Dr. Russell De Jong, no The Washington Post. “Mas essa descoberta significa que, durante uma noite típica de sono, uma máquina de ruído branco no volume máximo expõe as crianças a um ruído que pode causar perda auditiva permanente”.

Pesquisas também encontraram que a exposição contínua a ruído branco de intensidade moderada teve efeitos adversos no desenvolvimento precoce em estudos com animais, o que sugere que os humanos podem ser afetados de maneira semelhante. Embora alguns estudos também sugiram que a exposição a ruído de baixa intensidade possa ser benéfica durante o sono, os pesquisadores concluíram: “os responsáveis devem evitar expor suas crianças a ruído branco alto ou prolongado”. Eles acrescentaram:

“Pode ser que os aplicativos sejam os mais perigosos, pois são regulados pela saída máxima do hardware do telefone celular, que pode atingir níveis em torno de 100 dB. Esses padrões são definidos para adultos, mas são usados aqui como um marcador substituto para níveis de ruído perigosos para crianças e bebês, uma vez que não há escalas comparáveis dedicadas a essa faixa etária.
Ademais, como esses dispositivos são usados no geral em crianças mais novas, que têm uma duração de sono prolongada (ou seja, 10 ou mais horas), o possível efeito negativo do ruído a longo prazo no desenvolvimento pode ser agravado".

As máquinas de ruído branco fazem mais mal do que bem?

Outro estudo, uma revisão sistemática publicada na Sleep Medicine Reviews, também descobriu que o uso de ruído como auxílio para o sono pode ser superestimado, e também perigoso. A revisão encontrou apenas evidências de muito baixa qualidade de que o ruído contínuo melhora o sono:

“O pensamento da maioria é de que o ruído contínuo, como o das chamadas ‘máquinas de ruído branco’, pode melhorar o sono. Após revisar de forma sistemática a literatura científica publicada, concluímos que a qualidade das evidências que apoiam essa afirmação é muito baixa.
O ruído contínuo tendia a reduzir a latência do sono (o tempo que leva para adormecer) e a fragmentação do sono (interrupções do sono durante a noite). No entanto, os efeitos foram não significativos ou não analisados estatisticamente".

Entre bebês prematuros em uma unidade de terapia intensiva neonatal, outras pesquisas sugeriram que o ruído branco reduziu o nível de dor, a frequência cardíaca e a frequência respiratória, além de promover o ganho de peso nos bebês, oferecendo “uma terapia prática e útil”. Este pode ser um caso único em que faz sentido usar o ruído branco, já que ele ajudou a reduzir os níveis de dor, considerados o principal fator de risco para o desenvolvimento neuropsicológico a longo prazo em bebês prematuros.

Fora de um ambiente hospitalar barulhento, em um quarto residencial comum, no entanto, os riscos podem superar os benefícios. Mesmo a exposição a ruído de baixa frequência, que inclui o zumbido de um ar-condicionado, sons graves em músicas e trovões, pode afetar funções cognitivas superiores de maneira negativa, como raciocínio lógico, cálculos matemáticos e processamento de dados.

Em relação à exposição de bebês e crianças ao ruído branco por horas todas as noites, o neurocientista Dr. Edward Chang explicou:

“Eu acho que há um custo, sabe, parando para pensar um pouco. Não estamos expostos a ruído branco contínuo por natureza ... É importante ter sons bem marcantes e estruturados que fazem parte do nosso ambiente natural para que o cérebro se desenvolva de forma normal. Então, se isso tem um impacto enquanto você está dormindo ou não, não fica claro. Não acho que esses estudos tenham sido feitos”.

Os riscos à saúde da poluição sonora são bem estabelecidos

A poluição sonora é a presença de som excessivo ou indesejado que perturba o ambiente e prejudica a saúde humana e a qualidade de vida. Essa forma muito negligenciada de poluição ambiental vem de várias fontes, incluindo tráfego, maquinário industrial, trabalho de construção, música alta e até mesmo aparelhos domésticos. Seus efeitos na saúde podem ser significativos, variando de perda auditiva e distúrbios do sono a aumento do estresse, ansiedade e problemas cardiovasculares.

Estima-se que 10 milhões de americanos tenham perda auditiva permanente devido à poluição sonora ou trauma relacionado ao som. Além da saúde humana, a poluição sonora também perturba o comportamento e os ecossistemas da vida selvagem, afetando a comunicação, o comportamento e a reprodução dos animais.

A exposição a ruídos altos, incluindo a poluição sonora, também contribui para a perda auditiva ao longo do tempo. Uma equipe da PLOS Biology explicou que uma vida inteira de exposição a ruídos altos agrava e pode desencadear a perda auditiva relacionada à idade. “O alto nível de exposição ao ruído na sociedade moderna faz com que a presbiacusia (perda auditiva associada à idade) seja uma mistura de estresse auditivo por ruído, trauma e doença otológica sobrepostos a um processo intrínseco de envelhecimento”.

Práticas de audição perigosas em jovens, como o uso de dispositivos de escuta pessoal (fones de ouvido) e a permanência em locais barulhentos, também aumentam o risco de perda auditiva, o que, segundo um estudo, pode afetar mais de 1 bilhão de pessoas de 12 a 34 anos em todo o mundo. 

O ruído pode ser responsável por 1 em cada 20 ataques cardíacos em Nova Jersey

Viver perto de uma estrada movimentada ou aeroporto não é apenas incômodo, mas também pode colocar a saúde do seu coração em risco devido aos altos níveis de ruído. Um estudo apresentado no American College of Cardiology’s 71st Annual Scientific Session atribuiu 1 em cada 20 ataques cardíacos em Nova Jersey ao ruído de estradas movimentadas, trens e tráfego aéreo próximos.

O estudo dividiu os pacientes hospitalizados por ataque cardíaco em dois grupos: um exposto a altos níveis de ruído de meios de transporte, definido como uma média de 65 dB ao longo do dia, e outro exposto a baixos níveis, inferiores a 50 dB por dia. Os resultados mostraram que 5% das internações por ataque cardíaco foram atribuídas a níveis elevados de ruído, e a taxa de ataques cardíacos foi 72% maior em áreas com bastante ruído de meios de transporte.

Mesmo que seja possível que parte do aumento do risco se deva aos elevados níveis de poluição do ar na região, já que “poluição do ar e ruído andam de mãos dadas”, os autores do estudo sugeriram que o ruído pode desencadear estresse crônico e distúrbios do sono que afetam a saúde cardiovascular. Pesquisas publicadas na Circulation Research também destacam que sua resposta cognitiva à poluição sonora pode influenciar seu equilíbrio endócrino, desencadeando uma superprodução de hormônios do estresse.

“A ativação induzida pelo ruído do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e do sistema nervoso simpático desencadeia a liberação de hormônios do estresse, como cortisol e catecolaminas”, explicaram os pesquisadores. O estresse crônico também promove a liberação de cortisol, que é um potente supressor da função mitocondrial e da biogênese.

Se você usa ruído branco, faça isso para torná-lo mais seguro

Para aqueles que optam por usar ruído branco à noite, certifique-se de manter o volume baixo e evite aumentá-lo até o máximo. De acordo com os pesquisadores do Sleep Medicine:

“O ruído branco dentro de limites razoáveis pode ajudar crianças e pais a dormir sem causar danos. Encontramos estudos mostrando que o ruído branco aplicado a 60 decibéis ou menos — próximo do volume de uma conversa silenciosa — mostrou uma redução nos despertares noturnos, aumento do tempo de sono e aumento da eficiência do sono (tempo passado dormindo enquanto deitado)”.

Você pode usar um decibelímetro ou um aplicativo de nível de som para verificar o nível de som da sua máquina de ruído branco e garantir que não esteja em um volume perigoso. Ligue a máquina de ruído branco e coloque o decibelímetro onde você ou seu filho dormem para obter uma leitura precisa. Em geral, a máquina de ruído deve estar pelo menos a 2,13 metros de distância de onde você está dormindo.

Se você deseja parar de usar a máquina de ruído branco, faça isso aos poucos, reduzindo o volume até não precisar mais dela.

Dicas para proteger sua saúde da poluição sonora

A exposição prolongada a altos níveis de ruído pode ter efeitos cumulativos na sua saúde, por isso é importante ser proativo em se proteger. Se você está preocupado com os níveis de ruído em sua região, considere discutir o problema com as autoridades locais ou participar de iniciativas comunitárias para enfrentar a poluição sonora. Enquanto isso, para proteger sua saúde da poluição sonora, você pode adotar várias medidas práticas:

Pratique hábitos de escuta segura diminuindo o volume dos seus dispositivos de áudio pessoais.

Baixe um aplicativo de medidor de decibéis no seu smartphone para receber alertas caso o volume atinja níveis perigosos.

Use protetores auriculares em ambientes barulhentos e sempre use proteção para os ouvidos se você trabalha próximo a ruídos altos.

Use fones de ouvido com cancelamento de ruído bem ajustados, que permitem ouvir sons em um volume mais baixo de maneira confortável. Escolha opções com fio, já que os fones de ouvido sem fio podem expor você a campos eletromagnéticos (CEM).

Limite o tempo que você passa participando de atividades barulhentas, como frequentar shows de música ou eventos esportivos.

Faça pausas regulares ao usar dispositivos de áudio pessoais para deixar seus ouvidos descansarem.

Restrinja o uso diário de dispositivos de áudio pessoais para menos de uma hora para minimizar a exposição prolongada.

Considere se mudar se você mora em uma região barulhenta. Se isso não for possível, considere isolar sua casa adicionando revestimento acústico ao teto e às paredes. Instalar janelas com vidro duplo, isolamento, cortinas pesadas e tapetes também pode ajudar a reduzir os ruídos. Você também pode plantar árvores ou instalar cercas ao redor do seu terreno para servir como barreiras contra o som.

Use fones de ouvido com bloqueio de som para eliminar distúrbios sonoros ocasionais, como os causados pelo trânsito ou cortadores de grama. Use proteção auricular ao utilizar seu cortador de grama ou soprador de folhas.

Atente-se ao nível de ruído ao comprar eletrodomésticos ou ferramentas novos, e cuide de seus aparelhos para reduzir o ruído desnecessário.