📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Cientistas utilizando exames de fMRI descobriram que regiões do cérebro como a ínsula e a amígdala possuem assinaturas neurais distintas para processar sentimentos contraditórios, em vez de apenas alternar entre estados de felicidade e tristeza.
  • A experiência emocional de cada pessoa é única, com o córtex pré-frontal ventromedial e o córtex cingulado anterior trabalhando juntos para criar experiências coerentes a partir de sentimentos conflitantes.
  • Pesquisas mostram que sentimentos contraditórios compartilham uma sobreposição neural significativa com respostas de nojo, sugerindo que o nojo pode desempenhar um papel mais dominante na formação de estados emocionais complexos.
  • A pesquisa convencional sobre emoções muitas vezes ignora sentimentos "bagunçados", mas os cientistas agora reconhecem que estudar esses estados emocionais complexos é importante para entender o comportamento humano.
  • Gerenciar emoções contraditórias por meio de práticas como atenção plena, escrita terapêutica e exercícios físicos contribui para uma melhor saúde mental e maior longevidade.

🩺Por Dr. Mercola

Você já se sentiu feliz e triste ao mesmo tempo, talvez durante um evento importante da vida, como uma formatura ou a despedida de um ente querido? É o que os neurocientistas chamam de sentimentos de valência mista, a vivência de emoções positivas e negativas de forma simultânea.

Apesar de sua ocorrência comum em diferentes culturas e experiências pessoais, os sentimentos contraditórios continuam sendo uma área bastante inexplorada na neurociência. Estudos convencionais em geral categorizam as emoções de forma distinta como positivas ou negativas, ignorando a complexidade dos sentimentos que não se encaixam perfeitamente nessas categorias.

No entanto, uma pesquisa do neurocientista Anthony Vaccaro e colegas da Universidade do Sul da Califórnia destaca como seu cérebro lida com esses complexos cenários emocionais.

Ao explorar os fundamentos neurais dos sentimentos contraditórios, os cientistas estão começando a entender que a resposta do cérebro a sentimentos complexos é única e consistente. Esse novo conhecimento enriquece nossa compreensão das emoções humanas e abre portas para estratégias mais eficazes de saúde emocional e bem-estar.

O cenário emocional do seu cérebro

Assistir a um filme carregado de emoções costuma despertar um turbilhão de sentimentos dentro de você. Cientistas usaram imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) para observar o que acontece no cérebro durante essas experiências. No estudo, os participantes assistiram um curta-metragem de animação conhecido por evocar emoções contraditórias. Depois, eles identificaram os momentos em que sentiram emoções positivas, negativas ou uma mistura de ambas.

Ao analisar a atividade cerebral durante esses momentos, os pesquisadores descobriram que certas regiões do cérebro estão envolvidas de maneira ativa no processamento dessas emoções complexas. Em específico, áreas como a ínsula, a amígdala, o núcleo accumbens e o córtex cingulado anterior mostraram padrões que podiam prever quando seu estado emocional estava mudando.

Isso significa que o cérebro não apenas alterna entre felicidade e tristeza, mas possui assinaturas neurais distintas que correspondem aos sentimentos sutis que você vivencia. Para descobrir como o cérebro lida com emoções mistas, os cientistas usaram modelos de Markov Oculto (HMM), um método estatístico sofisticado que identifica estados distintos com base em padrões nos dados.

Quando aplicado a dados de fMRI, o HMM detecta mudanças na atividade cerebral que correspondem às mudanças no seu estado emocional. O estudo descobriu que, durante um filme emocionante, o cérebro transita entre diferentes estados emocionais de forma consistente e previsível. Por exemplo, ao sentir uma onda de felicidade ou de tristeza, a atividade neural em regiões específicas correspondia com precisão a esses sentimentos.

No entanto, durante momentos de sentimentos contraditórios, os padrões se tornaram menos consistentes em algumas áreas, sugerindo que o cérebro pode estar integrando sentimentos conflitantes de uma maneira mais complexa. Essa dança complexa de atividade neural destaca que suas experiências emocionais estão enraizadas nas capacidades dinâmicas de processamento do cérebro.

Desvendando experiências emocionais individualizadas

Ao contrário de estudos anteriores que analisavam a média das respostas de muitas pessoas, este estudo se destacou por reconhecer que a jornada emocional de cada indivíduo é única. Ao permitir que os participantes relatassem seus sentimentos em tempo real, os pesquisadores adaptaram a análise à experiência de cada indivíduo. Essa abordagem personalizada revelou que a resposta do cérebro a sentimentos contraditórios não é um fenômeno universal.

Em vez disso, varia de acordo com a maneira como você processa e integra seus sentimentos de maneira única. Sua experiência com sentimentos contraditórios não é apenas pessoal, mas também possui uma assinatura neural distinta que pode ser mapeada e compreendida.

Analisando de forma mais profunda a arquitetura do cérebro, o estudo destacou o papel significativo de diversas regiões-chave. A ínsula, conhecida por seu papel na interocepção (percepção do estado interno do corpo), mostrou padrões consistentes ao processar emoções puramente positivas ou negativas, mas não durante sentimentos contraditórios.

Então, embora a ínsula seja eficaz para lidar com emoções bem definidas, ela pode ter dificuldades com a complexidade de estados mistos. Por outro lado, o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC) e o córtex cingulado anterior (ACC) exibiram padrões neurais únicos e consistentes para emoções univalentes e mistas.

O vmPFC está envolvido na integração de informações emocionais e cognitivas, o que o torna importante para entender e regular sentimentos complexos. É provável que o córtex cingulado anterior, associado ao monitoramento de conflitos e à tomada de decisões, ajuda a navegar na batalha interna que as emoções contraditórias representam no geral. Essas regiões trabalham em conjunto para criar uma experiência emocional coesa, mesmo diante de sentimentos conflitantes.

Sentimentos contraditórios em contextos sociais

Experiências emocionais complexas, como quando a diversão e o nojo se entrelaçam, ocorrem em muitos contextos, incluindo ambientes sociais, como shows de comédia. Em um estudo pioneiro publicado na NeuroImage, cientistas exploraram como o cérebro processa essas emoções mistas durante interações sociais.

Os participantes assistiram a clipes de filmes curtos projetados para provocar emoções positivas, como diversão, emoções negativas, como nojo, ou uma mistura de ambas. Usando fMRI, o estudo identificou regiões específicas do cérebro ativadas durante esses estados emocionais mistos. Entender como seu cérebro lida com esses sentimentos conflitantes fornece uma visão mais profunda sobre as experiências emocionais cotidianas, onde sinais sociais muitas vezes transmitem sinais confusos.

Por exemplo, ao rir do infortúnio de um personagem e ao mesmo tempo sentir simpatia pela sua situação, o seu cérebro está gerenciando e integrando essas emoções opostas de forma ativa. O estudo na NeuroImage revelou que o córtex cingulado posterior (PCC) e o pré-cúneo, parte do lobo parietal superior (SPL), desempenham papéis importantes no processamento dessas emoções complexas.

Essas áreas estão envolvidas em funções cognitivas de ordem superior, como atenção, memória e integração de informações contextuais. Quando confrontado com cenas sociais de emoções ambíguas, o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo são ativados para ajudar a desambiguar e interpretar os sinais mistos.

Então, embora você possa achar uma situação engraçada e desconcertante, essas regiões do cérebro trabalham juntas para equilibrar e integrar essas emoções em uma experiência coerente. Ao contrário de respostas emocionais mais diretas, os sentimentos contraditórios exigem um nível maior de flexibilidade cognitiva e capacidade de considerar diferentes perspectivas, o que essas regiões facilitam.

Ao ativar o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo, o cérebro garante que, mesmo quando as emoções entram em conflito, você consiga interagir socialmente sem problemas, mantendo o equilíbrio emocional.

A sobreposição neural com o nojo

O estudo descobriu que sentimentos contraditórios compartilham uma sobreposição neural significativa com as respostas de puro nojo. Isso sugere que quando você sente uma combinação de diversão e nojo, seu cérebro processa esses sentimentos mistos de maneiras mais semelhantes à forma como ele lida apenas com o nojo.

Em específico, regiões como o sulco parieto-occipital (POS) e partes do pré-cúneo mostraram padrões de ativação que se assemelhavam muito aos observados durante experiências apenas nojentas. Essa sobreposição indica que o nojo pode desempenhar um papel mais dominante na formação de estados emocionais mistos do que se pensava antes.

Isso desafia a noção de que emoções contraditórias são totalmente distintas de seus sentimentos constituintes, propondo, em vez disso, que uma emoção pode influenciar o processamento neural da outra. Resumindo, em situações em que diversão e nojo coexistem, o componente de nojo pode influenciar bastante a forma como o cérebro interpreta e responde à experiência geral.

Essa interação neural ajuda a explicar por que certas experiências emocionais mistas parecem mais intensas ou persistentes, à medida que uma emoção reforça a outra dentro da complexa rede do seu cérebro. Esta pesquisa também abre caminhos para explorar como sentimentos contraditórios influenciam a tomada de decisões e os relacionamentos interpessoais.

Estudos futuros poderão investigar como esses padrões neurais variam entre diferentes populações, como indivíduos com transtornos de humor ou aqueles submetidos a treinamento de regulação emocional. Além disso, esses avanços podem levar a estratégias mais eficazes para navegar em cenários emocionais complexos, promovendo resiliência e melhorando a capacidade de manter o equilíbrio emocional diante das ambiguidades inerentes à vida.

Abraçando a bagunça dos sentimentos

Emoções "bagunçadas", como sentir alegria e desconforto ao mesmo tempo, sem saber bem o porquê, são mais comuns do que você imagina, mas a ciência afetiva convencional muitas vezes as ignora. A ciência afetiva, campo interdisciplinar dedicado a compreender a natureza, as causas e os efeitos das emoções e dos estados de ânimo, integra conhecimentos da psicologia, neurociência e disciplinas relacionadas.

Mas uma perspectiva recente de Vaccaro, publicada na Affect Science, argumenta que, para entender de fato as emoções humanas, os cientistas devem ir além dos sentimentos bem categorizados como felicidade, tristeza ou raiva. Em vez disso, eles devem abraçar a complexidade e a ambiguidade que caracterizam as experiências emocionais do mundo real.

É raro as emoções ocorrerem de forma isolada. Elas costumam se misturar e se sobrepor, criando estados ricos e multifacetados. Por exemplo, você pode sentir uma mistura de orgulho e culpa depois de alcançar um marco significativo, refletindo sentimentos positivos e negativos ao mesmo tempo.

Ao reconhecer e estudar esses complexos cenários emocionais, os pesquisadores podem desenvolver uma compreensão mais detalhada de como as emoções influenciam o comportamento, a tomada de decisões e o bem-estar geral.

Essa mudança em direção ao reconhecimento da "bagunça" dos sentimentos não apenas se alinha com suas experiências cotidianas, mas também aumenta a relevância e a aplicabilidade da ciência afetiva no enfrentamento de desafios emocionais da vida real. No entanto, métodos convencionais para medir emoções, como escalas de valência emocional ou questionários de escolha forçada, muitas vezes não conseguem capturar o espectro completo de experiências emocionais humanas.

Sentimentos que não se encaixam de maneira perfeita em categorias como felicidade ou tristeza, como a melancolia ou o deslumbramento, muitas vezes passam despercebidos por essas medidas convencionais. O estudo destaca a importância de adotar técnicas de medição mais flexíveis e abrangentes para refletir melhor a complexidade das emoções.

Em vez de limitar as respostas a opções predefinidas, permitir múltiplas emoções ou descrições em texto livre fornece uma visão mais rica e precisa de como as pessoas se sentem de fato.

Essa abordagem respeita a diversidade de experiências emocionais e reduz o risco de forçar seus sentimentos a se encaixarem em caixas muito simplificadas. Ao aprimorar a maneira como as emoções são medidas, a ciência afetiva pode entender e validar melhor as formas complexas pelas quais as pessoas vivenciam e navegam pelo mundo emocional, levando a intervenções e sistemas de apoio mais eficazes.

Melhorando seu bem-estar emocional para a longevidade

Experimentar uma série de emoções positivas, como alegria, felicidade e vigor, não é apenas uma experiência passageira; isso tem implicações profundas para sua saúde geral e longevidade. Estudos têm demonstrado com consistência que indivíduos que mantêm níveis mais altos de emoções positivas, junto com disposições como satisfação com a vida, otimismo e senso de humor, tendem a viver vidas mais longas e saudáveis.

Por exemplo, em um grande estudo envolvendo mais de 6.073 adultos mais velhos, aqueles que relataram maior felicidade tinham bem menos probabilidade de sofrer mortalidade por diversas causas. No entanto, a vida quase nunca é apenas sobre felicidade pura. Emoções contraditórias são uma parte natural da experiência humana. Para ajudar a gerenciar esses sentimentos complexos, considere incorporar práticas que promovam o equilíbrio emocional.

Uma ferramenta eficaz é o aplicativo Mercola Health Coach, que oferece uma variedade de recursos para ajudar a combater o estresse e a ansiedade, incluindo estratégias para ajudar a limpar as emoções negativas da sua mente e evitar que elas se acumulem. Se você quiser entrar na lista de espera do aplicativo Mercola Health Coach, clique aqui. Os passos a seguir também são úteis para lidar com emoções contraditórias:

1. Meditação mindfulness: Praticar a atenção plena ajuda você a permanecer presente e a observar suas emoções sem julgamento. Isso reduz a intensidade de sentimentos conflitantes e aumenta sua resiliência emocional.

2. Escrita terapêutica: Escrever seus pensamentos e sentimentos proporciona clareza e ajuda a processar emoções complexas. Refletir sobre suas experiências permite que você identifique padrões e gatilhos, facilitando o gerenciamento de estados emocionais mistos.

3. Atividade física: Exercícios regulares aumentam a liberação de endorfina e melhoram seu humor geral, facilitando lidar com sentimentos contraditórios. Atividades como ioga e caminhada também servem como uma forma de meditação em movimento, aumentando a sensação de bem-estar.

4. Afirmações positivas: Reforçar pensamentos positivos muda seu foco e aumenta os sentimentos de felicidade e otimismo. Repetir afirmações ajuda a reprogramar seu cérebro para se concentrar nos aspectos positivos da vida.

Uma opção é a Técnica de Libertação Emocional (EFT), que envolve tocar em meridianos específicos na cabeça e peito com a ponta dos dedos, para aplicar energia cinética enquanto você pensa sobre um problema específico, seja um evento traumático, vício, dor, etc, e recita afirmações positivas.

5. Procure apoio: Conversar com um amigo, terapeuta ou usar o aplicativo Mercola Health Coach fornece orientação e apoio enquanto você explora seu cenário emocional.

Ao integrar essas estratégias à sua rotina diária, você promoverá um estado emocional mais equilibrado, contribuindo tanto para seu bem-estar mental quanto para a sua saúde física. Aceitar e gerenciar sentimentos contraditórios melhora a qualidade de vida e proporciona uma existência mais longa e saudável.