O consumo de cacau pode auxiliar seu coração?

RESUMO DA MATÉRIA

• No primeiro estudo em larga escala para avaliar os efeitos a longo prazo dos flavonoides do cacau nas doenças cardíacas, foram descobertos notáveis benefícios
• Aqueles que receberam flavonoides de cacau, tiveram uma redução de 27% na morte por doença cardiovascular, e a incidência de três eventos cardiovasculares, ataques cardíacos, derrames e mortes cardiovasculares, também foi reduzida de maneira significativa
• Entre aqueles que consumiram o suplemento de flavanol de cacau de maneira regular, houve uma redução de 15% no total de eventos cardiovasculares e uma redução de 39% na morte por doença cardiovascular
• Os flavonoides do cacau possuem efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, anti-obesidade e hipolipemiantes, com pesquisas mostrando que mesmo o consumo a curto prazo de cacau e chocolate amargo pode beneficiar pessoas com doenças cardíacas ou outros fatores de risco metabólicos

Por Dr. Mercola

Os flavonoides do cacau podem auxiliar na saúde do coração, ajudando até a reduzir o risco de morrer de eventos cardiovasculares, como ataque cardíaco e derrame. Embora seja improvável que o consumo de chocolate doce tenha o mesmo efeito, as evidências que apoiam os benefícios do cacau para a saúde do coração só continuam a crescer.

Os flavanóis de cacau foram destacados por pesquisadores do Brigham and Women's Hospital. Estudos anteriores destacaram seu potencial para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, oferecendo antioxidantes, anti-inflamatórios, anti-obesidade e outros efeitos saudáveis para o coração.

No primeiro ensaio em larga escala para avaliar os efeitos a longo prazo dos flavonoides do cacau nas doenças cardíacas, os resultados confirmam o potencial deste composto natural para melhorar a saúde do coração.

Flavanóis de cacau reduzem a morte cardiovascular em 27%

Durante o estudo randomizado e controlado por placebo de suplementos de cacau e resultados multivitamínicos (COSMOS), 21.442 participantes com 60 anos ou mais foram designados de maneira aleatória para receber um suplemento de extrato de cacau, contendo 500 miligramas (mg) de flavonoides, incluindo 80 mg de epicatequinas, um multivitamínico suplemento, nenhuma das opções ou ambas, diariamente de junho de 2015 a dezembro de 2020.

O desfecho cardiovascular primário para o estudo foi eventos cardiovasculares totais, incluindo ataques cardíacos, acidente vascular cerebral, revascularização coronária, morte cardiovascular, doença da artéria carótida, cirurgia de artéria periférica e angina instável. Os flavonoides do cacau reduziram os eventos cardiovasculares totais em 10%, o que não foi estatisticamente significativo.

Aqueles que receberam flavonoides de cacau, tiveram uma redução de 27% na morte por doença cardiovascular, e a incidência de três eventos cardiovasculares, ataques cardíacos, derrames e mortes cardiovasculares, também foi reduzida de maneira significativa. Benefícios adicionais também foram observados nos que consumiam seus suplementos de maneira regular.

Nesse grupo, houve redução de 15% no total de eventos cardiovasculares e redução de 39% na morte por doença cardiovascular. Para comparação, aqueles que consumiram o multivitamínico diário, não tiveram redução significativa nos eventos cardiovasculares totais ou individuais.

“Quando analisamos a totalidade das evidências para os desfechos cardiovasculares primários e secundários no COSMOS, vemos sinais promissores de que um suplemento de flavanol de cacau, pode reduzir eventos cardiovasculares importantes, incluindo morte por doença cardiovascular”, disse o autor do estudo Howard Sesso em um anúncio. “Essas descobertas merecem uma investigação mais aprofundada para entender melhor os efeitos dos flavonoides do cacau na saúde cardiovascular”.

O estudo também analisou o efeito dos flavonoides do cacau no câncer, porém nenhum efeito significativo foi encontrado no câncer invasivo total. No entanto, os pesquisadores observaram que o período do estudo, cerca de 3,6 anos, provavelmente foi muito curto para determinar se os flavonoides afetaram o risco de câncer.

Sesso acrescentou: “Nossa mensagem para os consumidores é consumir uma dieta saudável e equilibrada, rica em fontes alimentares naturais de flavonoides, e ficar atento enquanto avaliamos outros resultados importantes de saúde no COSMOS”.

Os flavonoides do cacau beneficiam a síndrome metabólica

Os grãos de cacau contêm o maior teor de flavonoides de todos os alimentos por peso. Contendo mais de 200 compostos químicos naturais, os polifenóis, que incluem flavanóis, representam cerca de 12% a 18% do peso dos grãos de cacau. Acredita-se que os flavanóis possuem um efeito benéfico na síndrome metabólica, um conjunto de fatores de risco que podem aumentar o risco de várias doenças crônicas, incluindo doenças cardíacas, artrite, doença renal crônica e câncer.

Muitos dos benefícios dos flavanóis são devidos aos seus poderes antioxidantes e capacidade de interagir com proteínas sinalizadoras, enzimas, DNA e membranas, reduzindo ou prevenindo o estresse oxidativo. Conforme relatado na revista Nutrients:

“Foi proposto que os flavanóis podem proteger a integridade e função da membrana celular, modulando mudanças em sua fluidez e permeabilidade produzidas por moléculas com potencial de oxidação. É bem conhecido que quando a fluidez da membrana diminui, ela é mais propensa a ser oxidada. Em vez disso, quando a fluidez aumenta, os lipídios da membrana ficam menos expostos à oxidação…

Espera-se que os polifenóis do cacau ativem o Nrf2, que induz a transcrição de enzimas antioxidantes como glutationa peroxidase, superóxido dismutase e heme oxigenase 1, bloqueando assim a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e óxido nítrico sintase (NOS), e atenuando as reações oxidativas. estresse, bem como uma série de quinases celulares, incluindo as proteínas quinases ativadas por mitogênio (MAPKs).”

Os flavonoides do cacau também possuem efeitos anti-inflamatórios e hipolipemiantes, com pesquisas mostrando que mesmo o consumo de curto prazo de cacau e chocolate amargo pode beneficiar o perfil lipídico de pessoas com doenças cardíacas ou outros fatores de risco metabólicos. Flavanóis também são conhecidos por reduzir a hiperglicemia, resistência à insulina e diabetes.

Flavanóis de cacau ajudam a baixar a pressão arterial

A hipertensão arterial, um fator de risco tanto para síndrome metabólica quanto para doença cardiovascular, contribui para 50% dos eventos cardiovasculares no mundo todo, junto com 37% das mortes relacionadas a doenças cardiovasculares no Ocidente. Os flavonoides do cacau aumentam a formação de óxido nítrico (NO), que aumenta a vasodilatação, levando a reduções na pressão arterial.

Em uma meta-análise de 35 estudos, que avaliaram produtos de cacau na pressão arterial quando consumidos diariamente por pelo menos duas semanas, foram relatados resultados favoráveis. Os estudos envolveram 1.804 adultos e envolveram 40 comparações de tratamento, que revelaram que os flavanóis de coco e produtos de cacau levaram a uma redução estatisticamente significativa da pressão arterial (sistólica e diastólica) de 1,8 mmHg.

“Essa pequena redução na pressão arterial pode complementar outras opções de tratamento e pode contribuir para reduzir o risco de doenças cardiovasculares”, observaram os pesquisadores, acrescentando que o estudo fornece evidências de qualidade moderada de que produtos de chocolate e cacau ricos em flavonoides têm um pequeno efeito redutor. sobre a pressão arterial.

A noção de que o cacau pode baixar a pressão arterial, surgiu pela primeira vez, de fato, depois que se descobriu que os índios Kuna que vivem em uma ilha na América Central tendiam a ter baixas taxas de pressão alta e níveis saudáveis de pressão arterial que pareciam não ser afetados por idade. Os índios Kuna, que vivem nas ilhas também tendem a consumir de três a quatro xícaras de bebidas de cacau diariamente, estimulando os pesquisadores a avaliar se o cacau está relacionado aos níveis saudáveis de pressão arterial da população.

Cacau para melhorar a saúde e a qualidade de vida

Primeiro consumido pelos índios latino-americanos na forma de uma bebida gelada e sem açúcar feita de pó de cacau cru seco, o “cacau quente” dos dias atuais foi criado pelos espanhóis, que trouxeram a bebida para a Europa e adicionaram açúcar à bebida antes de aquecê-lo.

Métodos modernos de processamento, incluindo torrefação e alcalinização, e a adição de açúcar, leite, lecitina e outros aditivos reduziram de maneira significativa o potencial de promoção da saúde dessa bebida outrora saudável. No entanto, os flavanóis de cacau, encontrados em chocolate amargo e produtos de cacau de alta qualidade, bem como em forma de suplemento, foram destacados como úteis não apenas para reduzir o risco de doenças crônicas, mas também para melhorar a saúde humana e a qualidade de vida.

Em uma revisão de estudos relacionados de 2000 a outubro de 2020, os pesquisadores destacaram vários benefícios do cacau para a saúde do coração, incluindo um risco 37% menor de doenças cardiovasculares e um risco 29% menor de acidente vascular cerebral associado ao consumo de chocolate. Benefícios notáveis para a saúde do coração incluem resultados favoráveis na rigidez arterial, perfil lipídico e pressão arterial, enquanto benefícios adicionais para a saúde geral também foram observados, incluindo obesidade. Segundo o estudo:

“… trabalhos celulares e pré-clínicos demonstraram que o cacau pode exercer efeitos anti-obesogênicos através de diferentes mecanismos, como modulação do metabolismo lipídico (diminuição da lipogênese e aumento da lipólise), redução da adipogênese (diferenciação e crescimento de adipócitos inibidos), resposta inflamatória atenuada e estresse e remodelação da microbiota.”

O cacau e os produtos derivados do cacau também têm sido associados a:

O Netherlands Journal of Medicine publicou uma matéria em 2013 que também pesquisou os benefícios do cacau, afirmando que alguns consideram um "alimento completo", porque contém:

• Gorduras saudáveis
• Antioxidantes
• Compostos nitrogenosos, incluindo proteínas, metilxantinas, teobromina e cafeína
• Minerais, como potássio, fósforo, cobre, ferro, zinco e magnésio
• Ácido valérico, que, apesar da presença de estimulantes, age como um redutor de estresse

Qual tipo de cacau ou chocolate é melhor?

Em termos de benefícios para a saúde, há uma grande variação dependendo do tipo de produto de cacau ou chocolate que você consome. O termo usado para a planta cujas sementes secas se torna chocolate é cacau. Os maiores níveis de polifenóis são encontrados nos nibs de cacau puro.

O ideal é comprá-los inteiros e moê-los em casa utilizando um moedor de café ou mordiscá-los como faria com pedaços de chocolate. Uma quantidade saudável seria cerca de meia a 1 onça (28 gramas) por dia, que você pode adicionar facilmente a um smoothie.

O cacau em pó é obtido através dos grãos que são torrados e moídos para se transformar em um pó do qual a maioria da gordura é retirada. A manteiga de cacau é uma gordura amarela que é extraída das sementes, e você pode comprá-la em lojas de alimentos saudáveis e alguns mercadinhos.

Antes de se transformar em chocolate pronto para a distribuição na sua loja local, as sementes de cacau passam por 14 processos. Se o chocolate for processado a partir de sementes de cacau que não são torradas, você está comprando “chocolate cru”. Isso é ideal, pois o processamento reduz o teor de flavonoides de maneira significativa. Segundo o banco de dados Cochrane de revisões sistemáticas:

“Os grãos de cacau frescos e fermentados contêm entre 2,5 e 16,5 mg de epicatequina por grama, dependendo da variedade, da região de cultivo e das práticas de colheita, enquanto o cacau processado retém apenas 2% - 18% da epicatequina original, devido à torra e ao abandono.

… diferentes processos influenciam o teor de flavonoides do cacau no chocolate; uma barra de chocolate contendo 70% de cacau de uma empresa, portanto, pode não conter a mesma quantidade de flavonoides e composição de flavonoides que uma barra de chocolate 70% de outra empresa. O conteúdo e a composição dos flavonoides dependem da variedade e maturação dos grãos de cacau utilizados, bem como das etapas de fabricação.”

Ao escolher o chocolate, procure produtos orgânicos. O chocolate amargo, contendo 50% a 85% de cacau, é preferível ao chocolate ao leite, que possui apenas 20% a 30% de cacau. O chocolate branco, por sua vez, não contém cacau e não deve ser confundido com um alimento saudável de qualquer tipo.